Gerente de Projetos da DeltaCO2 Sustentabilidade Ambiental
Op-CP-28
A água doce é um dos principais recursos naturais do nosso planeta e um dos mais básicos e importantes para o setor florestal. Sua presença se faz necessária desde a produção de mudas, e seu crescimento no campo, até a obtenção do produto final. Se considerarmos o conteúdo de água embutido na ampla gama de matérias-primas utilizadas no processo industrial, chegaremos facilmente à conclusão de que boa parte do sucesso do setor florestal brasileiro se explica pela disponibilidade de água doce do nosso país.
Um dos indicadores ambientais que mais vem sendo discutido mundialmente envolve o conceito da pegada hídrica. Ele reflete o grau de impacto sobre a quantidade de água doce consumida e utilizada para a produção de bens e serviços. O conceito pode ser utilizado no âmbito de um país, para uma bacia hidrográfica ou para um indivíduo, conforme o objetivo da aplicação.
O cálculo do volume de água doce consumido no setor florestal é feito ao longo de toda a cadeia produtiva, envolvendo tanto a pegada hídrica direta, que é a água usada na produção propriamente dita, como a indireta – água embutida na matéria-prima utilizada no processo. Em função da fonte de consumo e a destinação da água, a pegada é classificada em azul, verde e cinza, cada uma medindo diferentes tipos de apropriação da água.
A azul mede o volume de água doce retirada de fontes superficiais e subterrâneas, utilizado na etapa de produção florestal e no processamento da madeira. A verde está relacionada ao volume de água das chuvas requerido para o crescimento das árvores. A cinza refere-se ao volume de água necessário para diluir uma determinada carga de poluentes que foi descartada na água doce captada, de forma a reestabelecer sua qualidade conforme os padrões vigentes.
No âmbito da produção florestal, é importante destacar que a pegada de água verde de um produto agrícola difere bastante do mesmo indicador na silvicultura. As atividades agrícolas muitas vezes requerem maior intervenção humana e um manejo mais intensivo para serem produtivas. Já as florestas são uma parte integrante do ciclo natural da água, o que, comparativamente aos cultivos agrícolas, torna o seu consumo de água verde menor.
Não obstante, embora a prática florestal sustentável no Brasil seja uma realidade, a pegada de água verde no campo costuma ser significativa devido aos elevados índices de evapotranspiração das florestas plantadas de rápido crescimento.
As pegadas de água azul e cinza no campo costumam ser relativamente menores que a de água verde, uma vez que a irrigação e aplicação de fertilizantes não são práticas intensivas. Na etapa de produção industrial, não se costuma contabilizar a pegada de água verde direta, mas sim a indireta, proveniente do campo.
Com relação à pegada direta de água azul, muito embora as empresas brasileiras já tenham avançado muito na questão da eficiência do uso da água nos processos industriais, com o fechamento de ciclos e reutilização da água, ainda é possível reduzir perdas nos processos, de modo a trazer a pegada de água azul a níveis muito próximos de zero.
É importante destacar, no entanto, que a maior parte do consumo de água da etapa industrial origina-se na cadeia de abastecimento. No setor de celulose e papel, por exemplo, esse índice pode chegar a mais de 90%.
Uma vez identificadas e quantificadas as pegadas hídricas verde, azul e cinza, é possível dar início às ações de redução dos volumes de água consumidos e dos impactos associados à atividade produtiva. A azul pode ser reduzida, por exemplo, minimizando-se as perdas por evaporação nos processos de produção e no fechamento de ciclos de água nas indústrias.
A cinza pode ser reduzida com o tratamento eficiente da água de processo antes do seu descarte em corpos hídricos. Na cadeia de suprimentos, os contratos podem incluir cláusulas específicas exigindo informações sobre a pegada hídrica das matérias-primas fornecidas, cujo impacto indireto no produto final é de extrema relevância.
Finalmente, a pegada de água do setor florestal não deve ser considerada um indicador isolado, mas sim parte de um pacote de ações que, juntamente com outras ferramentas, como a pegada de carbono, a análise do ciclo de vida e as práticas de manejo sustentável, irão promover uma melhor compreensão das questões relativas aos serviços ambientais da floresta e, consequentemente, contribuirão para a sustentabilidade do setor.