Professor de Controle de Incêndio Florestal da UF do Paraná
Op-CP-23
A cada ano, o fogo destrói ou danifica seriamente grandes extensões florestais no mundo inteiro. De acordo com a TNC, os incêndios florestais afetam anualmente uma área semelhante à metade da China, ou seja, cerca de 4.600.000 km2. No Brasil, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, no ano de 2010, até o mês de agosto, já haviam sido registrados 12,5 mil incêndios florestais. Trinta por cento desses incêndios foram causados por fazendeiros e agricultores que usam o fogo para preparo do terreno para plantio, sem tomarem as medidas preventivas necessárias para evitar que o fogo escape do controle.
O relatório informa ainda que, até aquela data, o governo brasileiro havia gasto cerca de R$ 30 milhões no combate a incêndios, grande parte utilizada na contratação e manutenção de pessoal (5.000 combatentes) e equipamentos (8 aviões e 7 helicópteros) de combate.
Os incêndios ocorridos no Brasil, em 2010, embora de grandes proporções, não ultrapassaram as ocorrências de anos mais críticos, como 2007, que contabilizou cerca de 38.000 incêndios. No entanto, o número de ocorrências de incêndios próximos às áreas urbanas e na interface área urbana-área rural vem crescendo a cada ano, dificultando as operações de combate e causando danos cada vez maiores, tanto econômicos como ambientais, às populações envolvidas.
Esse aumento das ocorrências de incêndios na interface urbano-rural que se verifica no Brasil e que há vários anos vem se verificando em outras regiões do mundo, tais como Estados Unidos, Austrália, Grécia, França, Portugal, Espanha, etc., está relacionado com o crescimento acelerado das cidades em direção às áreas rurais e/ou florestais e também com a mudança de hábito da população, que era predominantemente rural em meados do século passado, no qual 70% das pessoas viviam na área rural e apenas 30% habitavam as cidades, enquanto, nos dias de hoje, cerca de 80% da população vivem nas cidades, enquanto apenas 20% habitam áreas rurais.
Portanto, as comunidades urbanas estão cada vez mais expostas aos efeitos dos incêndios, devido ao avanço das áreas urbanas sobre as áreas rurais. Em diversas regiões do mundo, desde meados dos anos 1990, os governos vêm aperfeiçoando os sistemas de prevenção e combate a incêndios nas interfaces urbano-florestais, buscando diminuir as ocorrências e mitigar os danos causados pelos incêndios.
O aumento da incidência desses eventos nas interfaces urbano-rurais no Brasil sinaliza para a necessidade de um esforço das instituições de controle de incêndios florestais para se adequarem e melhor se prepararem para atender a mais esse desafio que se apresenta.
Outro fator que tem contribuído para o aumento no número de ocorrências de incêndios florestais e áreas queimadas no Brasil e nas demais regiões do mundo é o impacto das mudanças climáticas globais sobre a cobertura vegetal e sobre os regimes de incêndios, resultando em um aumento na ocorrência de desastres ecológicos e humanitários, relacionados com as mudanças do clima em escala global, tais como a erosão do solo e as grandes inundações.
O relatório de 2007 da Conferência Mundial Sobre as Mudanças Climáticas (IPCC) já previa o aumento do risco da ocorrência de megaincêndios em várias regiões do mundo, devido às alterações no clima. Em muitas ocasiões, os efeitos dos incêndios florestais são transfronteiriços, ou seja, os impactos ultrapassam as fronteiras dos países, e, portanto, as alternativas para atenuar esses problemas só podem ser discutidas em fóruns internacionais.
Portanto, como foram abordadas anteriormente, a situação atual e as tendências futuras evidenciam que os incêndios florestais e as queimadas são um desafio às organizações de controle de incêndios florestais nacionais e internacionais para encontrarem soluções de forma colaborativa e diminuírem os impactos negativos sobre o ambiente global, sobre as economias e a sociedade em geral.
É com esse intuito que, desde 1998, um grupo de pessoas que atuam na luta contra os incêndios florestais e queimadas, provenientes de entidades governamentais, não governamentais e da iniciativa privada, nacionais e internacionais, vêm periodicamente realizando o simpósio sul-americano de incêndios florestais, buscando discutir e apresentar alternativas para enfrentar o problema dos incêndios florestais na América Latina.