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Ana Clara Caxito de Araújo e Renan Zopelaro da Silveira

Pesquisadora do Centro Inovação e Tecnologia, e Instrutor de formação profissional, respectivamente, ambos do SENAI

OpCP76

A falta de mão de obra está se agravando
O mercado de trabalho está passando por mudanças significativas em todo o mundo, impulsionadas pelo avanço tecnológico e pelas transformações na cadeia produtiva. No Brasil, o investimento em aperfeiçoamento e qualificação dos profissionais se torna cada vez mais evidente com as mudanças no mercado de trabalho. 
 
Além disso, é crucial atualizar a mão de obra, conforme afirma o Observatório Nacional da Indústria, responsável por fornecer inteligência estratégica para todo o complexo ecossistema industrial brasileiro. O Mapa do Trabalho Industrial 2022-25, elaborado pelo Observatório Nacional da Indústria, concluiu que, até 2025, o Brasil precisará qualificar 9,6 milhões de pessoas em ocupações industriais. Desse total, 2 milhões necessitarão de formação inicial para substituir inativos e preencher novas vagas, enquanto 7,6 milhões precisarão de formação continuada para atualização profissional. 
 
Isso indica que 79% da demanda por formação nos próximos quatro anos será voltada para o aperfeiçoamento. Apenas em Minas Gerais, a indústria precisa qualificar mais 1 milhão de trabalhadores ao final do mesmo ano. A falta de mão de obra qualificada no setor produtivo como um todo está se agravando. Segundo um levantamento feito pela FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais), falta mão de obra em todos os níveis de formação, tanto na qualificação básica quanto nos cursos técnicos e de nível superior.
 
No setor florestal, por exemplo, um dos gargalos para a produtividade florestal brasileira está na falta de profissionais habilitados para operar os avançados equipamentos de colheita florestal. Nestes mais de 60 anos da silvicultura nacional, as atividades no campo apresentaram grande desenvolvimento e uma mudança das características do trabalho, como a substituição da capina manual pela química, a substituição do corte com motosserras por máquinas robustas de colheita e pré-processamento da madeira, dentre outros. Evidentemente, na indústria de base florestal não foi diferente. Houve a modernização das técnicas de desdobro, da produção de fibras e da carbonização.
 
Apesar da evolução tecnológica dos últimos anos, a demanda ainda é grande por qualificação, como aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Se, por um lado, o setor cresce exponencialmente, a mão de obra disponível não segue a mesma linha.

O setor de fabricação de móveis de madeira também vive realidade semelhante. A escassez de mão de obra é um desafio comum apresentado entre os sindicatos e preocupante para o setor moveleiro no Brasil. Principal centro de produção de móveis do estado de Minas Gerais e um dos maiores do Brasil, o polo moveleiro de Ubá conta com fábricas de móveis, serrarias e acabamentos elétricos. A maioria das empresas é de pequeno e médio portes, mas há também grandes indústrias. Essas empresas empregam cerca de 15 mil colaboradores e respondem por quase 25 mil empregos indiretos, gerando assim importante impacto econômico para a região.
 
Outros pontos importantes da região são a qualidade e a inovação. As empresas investem constantemente em tecnologia e design, produzindo móveis modernos e sofisticados. Presente no mercado exterior, elas exportam para os Estados Unidos, Europa e América do Sul.

Para garantir a qualidade e a competitividade desses produtos, é fundamental investir na formação e qualificação da mão de obra que atua nesse setor. Profissionais qualificados executam suas tarefas com maior agilidade e precisão, o que resulta em maior produtividade e menor desperdício de recursos, pois a habilidade técnica dos trabalhadores impacta diretamente a qualidade dos produtos fabricados.

A formação adequada também está relacionada à segurança no ambiente de trabalho. Conhecimento sobre técnicas seguras de manuseio de ferramentas e equipamentos reduz o risco de acidentes. 

Mas, afinal, que tipo de qualificação da força de trabalho o mercado está buscando? Quais habilidades e competências precisamos desenvolver para estarmos alinhados com esses novos tempos? A solução requer uma análise detalhada da realidade do mercado, que deve ser comparada com o que está sendo feito em outros países.

Também é necessário considerar as inovações tecnológicas que estão surgindo e como elas serão aplicadas nas várias atividades que influenciam nosso estilo de vida. No cenário dinâmico do mercado de trabalho contemporâneo, caracterizado pela constante evolução tecnológica, determinadas habilidades profissionais desempenham um papel crucial, especialmente na era da Indústria 4.0, que demanda profissionais capacitados a enfrentar desafios e aproveitar oportunidades proporcionadas por essa revolução industrial.

Segundo o Portal da Indústria, página eletrônica das quatro instituições que formam o Sistema Indústria (CNI, Sesi, Senai e IEL), foi-se o tempo em que dominar a teoria e conhecer a técnica eram suficientes para um profissional se destacar no mercado de trabalho. Hoje, com a constante transformação nos processos produtivos e na gestão de negócios, desenvolver habilidades práticas e competências socioemocionais se tornou fundamental para quem não quer ficar para trás. Entre as principais soft skills, ou seja, as características pessoais que influenciam no comportamento profissional, destacam-se: resolução de problemas complexos, ética no trabalho, comunicação eficaz,  trabalho em equipe, gestão de tempo, criatividade e inovação, ordenar as informações, fluência de ideias, raciocínio indutivo e dedutivo, e raciocício matemático.
 
O investimento em capacitação é uma das estratégias de diversas empresas para contornar este desafio da oferta de força de trabalho, como é o caso das parcerias entre unidades do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Polo moveleiro de Ubá e de um programa envolvendo o Senai-SP, a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) e a Associação Paulista de Produtores, Fornecedores e Consumidores de Florestas Plantadas (Florestar São Paulo), que vêm preparando profissionais para atuarem na operação de equipamentos do setor de florestas plantadas.

Da mesma forma, as empresas podem criar planos de desenvolvimento individual para cada colaborador que já faz parte do quadro da empresa, identificando suas habilidades e objetivos de carreira, e oferecer oportunidades de treinamento e capacitação que ajudem no desenvolvimento dessas habilidades. Isso demonstrará o comprometimento da empresa em investir no crescimento dos colaboradores e aumentará a retenção de talentos. 

Esta proximidade entre as instituições de ensino e o setor produtivo é fundamental para que haja sinergia entre a qualificação da mão de obra e o dinamismo das demandas industriais. Tanto sob uma ótica macro, quando falamos do alcance dos objetivos nacionais para a indústria de base florestal, quanto micro, ao pensarmos no alcance da visão de cada empresa, o assunto “formação de mão de obra” deve estar em posição destaque, pois, assim como nas demais cadeias produtivas, não há possibilidade de atingirmos metas ou gerar inovação sem que essa força motriz esteja apta e engajada e seja capaz de produzir os resultados almejados.