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Cassio Fagundes Gomes

Coordenador de Desenvolvimento Operacional Florestal da Eldorado

OpCP75

Cabinização e inovação na silvicultura
Por sua condição climática favorável e pelo estabelecimento de avançadas técnicas produtivas, o Brasil tornou-se o maior exportador de celulose mundial da atualidade e um atrativo destino para novos empreendimentos no segmento. Esta corrida catalisou a demanda de uma rápida expansão da base florestal para sustentar as operações futuras de ambiciosos projetos, e isto tem sido um desafio cada vez maior para as empresas deste segmento. 
 
O rápido avanço da Silvicultura pelo Brasil traz consigo a demanda do desenvolvimento de novas alternativas operacionais para atuação em locais ainda inexplorados e que, em sua maioria, estão associados à escassez de mão de obra disponível para execução das atividades de campo. Este movimento promoveu uma inevitável revolução voltada ao avanço tecnológico e mecanização operacional, em todas as etapas de execução do manejo cultural, partindo da abertura de frente, preparo de solo, plantio, irrigação e todos os demais tratos necessários para condução dos plantios até o seu ponto ideal de corte. 

Na Eldorado tratamos deste assunto como rotina diária e aqui a chamamos de “Cabinização”, termo de referência interna que nos incentiva a buscar alternativas inovadoras para todas as atividades, mas principalmente àquelas realizadas fora de máquinas ou ambientes controlados. Nos últimos anos, a cabinização deixou de ser uma alternativa direcionada à redução de custos e passou a ser uma prioridade nas discussões das nossas Gerências Operacionais. 

Cabinizar pessoas, para nós, é sinônimo de promover maior qualidade laboral e de gerar satisfação aos nossos colaboradores em seus postos de trabalho, além de também agregar maior capacidade produtiva per capita com a máxima qualidade e consistência de suas execuções. 

Como reflexo das nossas iniciativas, observamos o estabelecimento de um ambiente empresarial mais atrativo, que impacta positivamente no clima interno e que gera maior sentimento de pertencimento e propósito das pessoas envolvidas. Um dos nossos destaques em 2024 foi a operacionalização efetiva de um módulo de irrigação mecanizada, pioneiro, utilizando-se do reconhecimento de imagem por inteligência artificial. Este salto tecnológico permitiu dispensar a necessidade do colaborador trabalhar sob pleno sol, quer para execução direta da sua tarefa, quer para a garantia da ausência de falhas inerentes do sistemas mecanizados anteriormente adotados na empresa. 

Como próximo passo deste projeto, iniciamos o trabalho de análise e segregação dos dados extraídos do sistema para interpretar mudas que sofreram as intempéries do campo e que, por algum motivo, não sobreviveram. Estas informações nos apoiarão a ter uma gestão operacional mais eficiente, tanto no sentido de entender melhor as causas de mortalidade, quanto no direcionamento de ações rápidas para o replantio de locais específicos em cada talhão. Este é um exemplo claro do benefício da cabinização aos nossos colaboradores e que, mutualmente, confere excelência de execução a uma atividade crítica para a empresa.
 
A nossa empresa é detentora do maior índice histórico já obtido de mecanização do plantio florestal no Brasil e ainda assim, permanecemos extremamente ativos em programas de desenvolvimento de novas soluções de máquinas ainda mais modernas, que nos possibilitarão alavancar cada vez mais a nossa competitividade produtiva em condições adversas de plantio. Vivenciamos um momento ímpar neste sentido, com a presença de oito fabricantes desenvolvendo novas máquinas específicas.

Algumas, inclusive, já estão em processo de definições técnicas finais de conceito ou mesmo em ambiente de validação operacional efetivo. Esta nova era de desenvolvimento de máquinas para o plantio tem o desafio, não só de garantir a qualidade e rendimento das operações em diferentes condições de campo, como também  a missão de agregar outros valores ao processo que nos possibilitem extrair bancos de dados operacionais e, a partir disso, transformá-los em informações precisas do ambiente e da qualidade de execução do serviço.

O plantio mecanizado já é uma realidade, mas entendo, que  ainda não alcançamos o estado da arte; contudo, neste ritmo de movimento no mercado tenho convicção de que o atingiremos dentro dos próximos 3 anos. Outro movimento que observamos estar muito aquecido na atualidade é a criação de uma máquina base realmente purpose built para a silvicultura. 

Há anos somos clientes do setor de máquinas agrícolas, mas o nosso ambiente é mais severo que o do agro e a intensidade de nossas atividades agride substancialmente a estrutura dos tratores agrícolas. Precisamos direcionar muitos esforços em ações para customização especiais, ou mesmo para elaborar projetos de proteções cada vez mais robustas, a fim de garantir a integridade estrutural de máquinas e, consequentemente, a segurança dos nossos colaboradores que delas utilizam.

Já testamos algumas alternativas de máquinas florestais como forwarders, skidders e até mesmo caminhões fora de estrada da mineração, mas nenhum deles ainda foi capaz de atender plenamente aos nossos anseios de um ter um verdadeiro “trator florestal”. Neste ano demos um passo à frente e desenvolvemos junto a uma empresa parceira, o primeiro piloto automático, totalmente customizado e integrado, para que skidders pudessem realizar o preparo de solo com fertilização integrada.

O objetivo foi, além de garantir uma dose correta de adubo, também operar com precisão de até 2 centímetros no paralelismo das linhas e de forma totalmente autônoma. Entendemos que iniciativas como estas são necessárias para a garantia da excelência operacional mínima esperada da nossa gestão operacional, mas ainda não estamos satisfeitos com os resultados e, por isso, permanecemos ativos em busca de fabricantes nacionais e internacionais de máquinas para desenvolvimento e homologação de novos conceitos. 

Este tem sido um desafio, não muito fácil de superar, por carecer de uma demanda contínua e sustentável para os fabricantes, precisamos acreditar neste propósito e vejo que um caminho será unir esforços entre as diretorias das empresas florestais, junto de instituições e organizações afins, para fomentar e finalizar, de fato, um projeto específico e confiável. 
 
Já fazemos uso da aviação de asa fixa como uma rotina de operação na distribuição de fertilizantes em área total e dispomos de helicópteros para realizar combate direto a incêndios florestais em períodos críticos do ano. Por outro lado, realizamos diversos testes operacionais e seguimos acompanhando o mercado de drones, mas na atualidade eles ainda não são competitivos em operações de grande escala e que demandem alta eficiência dentro de áreas planas. Eles só foram inseridos na silvicultura como um recurso de uso spot ou para operações bastante específicas e sazonais. 

A legislação brasileira, até hoje, tem sido a principal limitação para o desenvolvimento de equipamentos de asa rotativa com alta capacidade produtiva em operações agrícolas e de silvicultura, mas o rápido avanço tecnológico destes equipamentos e a maior viabilidade de inserção de radares e sensores de precisão de cruzeiro estão abrindo a porta para entrada e estabelecimento destes equipamentos no setor. Sabemos dos benefícios adicionais que eles podem nos proporcionar e vemos  com otimismo todos os esforços aplicados pelos fabricantes no ambiente legislativo e da engenharia.

Além de inovações radicais, também mantemos um programa de melhoria incremental a todas as atividades já cabinizadas. Temos várias ações em andamento que são direcionadas ao aumento da capacidade produtiva das máquinas, melhoria de ritmo operacional, mantenimento de elevada disponibilidade mecânica dos componentes, eficiência do uso operacional dos recursos e garantia da aplicação dos insumos. Neste caminho, temos um projeto, também pioneiro, que começou em 2023 e que em 2024 passamos a escalar para todas as frentes de serviço que utilizam de insumos químicos controlados. Criamos o projeto SmartCalda que, como o próprio nome diz, consiste em gerir de maneira inteligente toda a cadeia de distribuição e abastecimento de caldas químicas em nossos pulverizadores. 

Instalamos em nossos caminhões pipa recursos de altíssima precisão para controle automático de fluidos, que possibilitam a realização da mistura instantânea de produtos químicos com água pura no exato momento de abastecer os equipamentos em suas frentes de serviço. É comum ver caminhões com calda química pronta em algumas empresas, mas aqui demos um salto à frente e mantemos nosso estoque de água pura, separada dos produtos químicos em nossos caminhões, misturando-os somente no ato da necessidade efetiva.

Isso nos garante uma gestão mais inteligente e flexível, já que a água pura poderá ser utilizada para qualquer outra finalidade eventual do dia a dia e não mais precisaremos de profissionais realizando a logística, estoque e mistura de insumos químicos em campo. Também é conhecido que alguns produtos perdem sua eficiência de ação quando são dissolvidos e estocados por longos períodos e, por isso, também esperamos ser beneficiados com as operações do SmartCalda. 

A Eldorado tem a missão de ser a melhor no que se propôs a fazer e, para fechar o ciclo da cabinização associada à tecnologia e inovação, em 2024, iniciamos um avançado programa de implantação da telemetria e monitoramento total nas atividades da Silvicultura. Neste projeto, atuamos com empresas especializadas que já possuem sistemas similares nas operações de colheita florestal, mineração e agricultura, para criar um ambiente customizado e tecnológico nunca antes visto no monitoramento e controle integral de operações de Silvicultura.

A visão da nossa empresa é que, ao investir em dados, poderemos atuar de maneira preditiva e, com o apoio de recursos de inteligência artificial, elevar nossos índices de excelência e performance operacional, garantindo o bem-estar para nossas equipes, a integridade dos nossos ativos e, consequentemente, retornar maior rentabilidade aos nossos acionistas.