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Fábio Luis Brun

Diretor para a América do Sul da RMS Administração de Florestas

Op-CP-08

Biotecnologia e produção florestal: oportunidade e desafio no hemisfério sul

A demanda mundial por produtos de base florestal está, como muitas vezes previsto, aumentando de forma sólida e constante. O recurso necessário para atender essa demanda poderá advir de forma sustentável, apenas pelo intermédio do uso de florestas plantadas, com o objetivo específico de prover madeira para fins industriais. A aptidão para produção florestal do hemisfério sul, especialmente demonstrado em países como Brasil, Chile, Uruguai e Argentina, vem se confirmando e representando uma oportunidade clara de progresso econômico, social e ambiental, assim como um desafio técnico e regulatório.

Há anos, o Brasil é reconhecido como referência em silvicultura e produtividade florestal, mas ainda ocupa uma posição relativamente tímida, quando comparado, como exemplo, aos grandes países produtores de papel e celulose. Essa realidade é produto de uma ampla série de fatores econômicos, políticos e sociais.


No entanto, esse comportamento quase coadjuvante do Brasil no mercado internacional vem sendo efetivamente transformado pelo interesse em garantir ao país uma posição de destaque, mais atuante e influente. A prova dessa afirmação é dada pelos investimentos mais recentes, feitos e anunciados por grandes empresas do setor.

Esses investimentos tornam-se possíveis, em função da expectativa da disponibilidade do recurso básico florestal para produção industrial: alta performance silvicultural, madeira com alto grau de homogeneidade, qualidade físicas e químicas predeterminadas e custo/preço competitivo.

É seguro afirmar que as florestas que garantem a combinação de todas estas características são hoje produzidas em larga escala e com grande eficiência no hemisfério sul do planeta e, especificamente, em países latino-americanos, como Brasil, Chile, Uruguai e Argentina.

Dentre estes, o Brasil claramente destaca-se em função de seus expressivos programas de plantio, como também por deter praticamente todos os recordes mundiais de produtividade florestal, como detalhado no quadro ilustrativo.

Os recordes são devidos, em parte, a características dominantes de relevo, solo e clima, especialmente favoráveis à produção florestal, mas também, e principalmente, à aplicação do desenvolvimento tecnológico, derivado de pesquisas produzidas por empresas, universidades e instituições públicas de pesquisa, além da introdução e rápida adaptação de tecnologias desenvolvidas em outros países.


Esse claro diferencial competitivo pode ser agora realçado de forma significativa, com o advento de produtos originários da biotecnologia, como árvores-elite melhoradas, com características de alto valor, introduzidas via transformação genética. O advento do uso em ampla escala da biotecnologia em culturas agrícolas é comprovação irrefutável de uma promessa que se converteu efetivamente em realidade.

O consistente incremento de mais de 10% ao ano na área plantada, com culturas geneticamente modificadas em todo o mundo, é a prova cabal de que essa ferramenta tem seus benefícios devidamente comprovados. É seguro afirmar que benefícios semelhantes podem também ser obtidos a partir do uso dessa tecnologia em espécies florestais. Empresas de biotecnologia, como a ArborGen, estão, atualmente, testando e estarão fornecendo ao mercado produtos que contêm características tecnológicas melhoradas ou mesmo não encontradas nas espécies florestais mais comumente plantadas na região.

Preliminarmente, os produtos a serem disponibilizados no mais curto prazo serão aqueles relacionados com aumento de eficiência no processo industrial, para produção de celulose. Através de modificações feitas no componente “lignina” da madeira, pode-se aumentar o rendimento industrial. Ao mesmo tempo em que se reduz o consumo de madeira por unidade de celulose produzida, incrementa-se o volume total produzido, reduz-se o consumo de químicos no processo e se otimiza o uso e a geração de energia na fábrica.


Potencialmente, há a possibilidade de se observar resultados positivos também com branqueamento e qualidade final da celulose. Dessa forma, esses primeiros produtos apresentam vantagens industriais e ambientais bastante relevantes. Outros produtos em desenvolvimento envolvem características, tais como tolerância a estresses ambientais (frio e seca, por exemplo), redução da rotação e outras características de qualidade de madeira, como densidade e características morfológicas de fibras.

Também há a vantagem adicional de se combinar mais de uma característica em um mesmo produto, os chamados por stacked traits, nos quais, por exemplo, crescimento volumétrico e rendimento em celulose estariam associados.

Muito embora o advento do uso desses produtos possa equiparar as condições de produção de alguns países da América do Sul, notadamente Argentina, Uruguai e Chile, é interessante observar que, em função das características da produção silvicultural Brasileira – altamente tecnificada – há uma oportunidade para que o Brasil se beneficie de forma mais ágil, principalmente no que se refere ao uso de biotecnologia aplicada ao eucalipto.


Outra distinção dá-se pelo fato de o Brasil ter, recentemente, endossado uma política formal de biotecnologia, como ferramenta de progresso nacional, o que pode caracterizar uma certa vantagem no médio prazo. É importante observar que os mesmos mecanismos e instrumentos tecnológicos que podem habilitar a produção florestal no hemisfério sul a alcançar novos recordes de produtividade e eficiência industrial, bem como manter a condição atual de liderança no setor, começam, entretanto, a serem testados e disponibilizados para espécies florestais, em países com características climáticas menos favoráveis e ciclos de produção tradicionalmente mais longos. A eficiência de instituições regulatórias precisas e confiáveis irá, eventualmente, ditar quais países usufruirão mais rapidamente dos benefícios gerados. O ritmo de experimentação e eventual adoção dessa tecnologia terá papel importante na determinação e estabelecimento das vantagens competitivas e da consolidação da posição ou mudanças nos futuros líderes do setor e da realização plena do potencial produtivo florestal do hemisfério sul.