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Leonardo Klabin

Diretor da Mec Prec

Op-CP-17

A retomada da produção dependerá dos preços das commodities

Trabalhamos com a produção de mudas há 23 anos, nosso ramo é o segundo elo da cadeia produtiva da silvicultura. A Mec Prec é uma empresa totalmente verticalizada, produzimos tubetes, bandejas, irrigação, viveiros, substratos e mudas. Começamos em 1986 com 2 injetoras e 5 empregados; durante os 22 anos seguintes, crescemos e chegamos a ter 500 colaboradores.

Porém, do ano passado para cá, 155 funcionários foram desligados, e nosso faturamento caiu drasticamente, no setor de plástico e produção de mudas, aumentando substancialmente no substrato; nesse segmento, nosso maior concorrente fechou as portas. Os termômetros do mercado são:


1. Em 2008, produzíamos, em média, 15 milhões de tubetes por mês, sendo 10 milhões para o mercado interno e 5 milhões para exportação. A produção caiu, em 2009, para 2 milhões no mercado interno e 2 milhões na exportação;
2. Em 2008, produzimos 60.000 toneladas de substrato, sendo 20.000 toneladas para silvicultura. Em 2009, vamos produzir 70.000 toneladas de substrato, sendo 10.000 toneladas para silvicultura, e
3. Em 2008, nosso viveiro produziu 48 milhões de mudas de pínus, eucaliptos e nativas. Em 2009, vamos finalizar com 17 milhões de mudas comercializadas.

Como vocês podem notar, a crise está sendo muito intensa no nosso setor. Nossa empresa só vai resistir graças à diversificação de mercados. Trabalhamos com citricultura - também muito atingida pela crise - horticultura, fumicultura e flores, setores que cresceram na crise. Todas as grandes empresas que plantam árvores, principalmente nos setores de celulose, papel, madeira processada e siderurgia, diminuíram seus programas de plantio, e algumas pararam totalmente de plantar, produzindo com o estoque de madeira existente.

Nos últimos 5 anos, plantou-se no Brasil 1,5 bilhão de mudas em média por ano; em 2009, esse número não vai chegar a 700 milhões de árvores. Montei viveiros em todos os países da América Latina, África e Oceania, visitei empresas na Europa e América do Norte e, em nenhum desses lugares, vi condições tão favoráveis como temos no Brasil para o desenvolvimento da atividade florestal.

O Brasil é imbatível no desenvolvimento do eucalipto, e nossos profissionais desenvolveram técnicas de reprodução dessa árvore, agora copiadas por outros centros, porém as condições de solo, luminosidade, pluviometria, mão de obra e estabilidade política não podem ser reproduzidas.


Durante este ano, foram desativados alguns dos maiores, mais caros e sofisticados viveiros do país, e isso é uma pena, porque sei que alguns não vão voltar, vão fazer falta no cenário a médio prazo e vão atrasar a retomada, porque, entre a decisão de investir e o viveiro ficar pronto, precisamos de 18 meses, isso sem falar do jardim clonal, que, bem feito para 30 milhões de mudas clonais por ano, dependendo da localização, não sai por menos de R$ 20 milhões.

A retomada da produção de mudas vai depender do mercado, da siderurgia e da celulose; enquanto os preços dessas commodities se mantiverem no atual patamar, a demanda por mudas vai continuar baixa, inibindo novos investimentos. No caso dos viveiros independentes, todos diminuíram drasticamente suas produções aos níveis de sobrevivência, mais de 10.000 trabalhadores perderam seus empregos, alguns fecharam, e a retomada será a longo prazo, já que as grandes empresas vão priorizar a ocupação dos seus viveiros; essas também demitiram, e muitos profissionais de valor se viram desempregados.

Acredito na atividade, no mercado, nas companhias do setor e vou continuar a investir, sei que a crise é passageira; o Brasil é um importante player desse mercado, e sua fragilidade não é boa para ninguém, além do que celulose e papel são produtos recicláveis e renováveis. O Brasil tem as maiores jazidas de minério de ferro, e a única maneira de agregar valor é fazer o ferro gusa, e, para tal, precisamos do carvão vegetal, oriundo de florestas plantadas.

O mercado interno e a renda do brasileiro estão crescendo e demandando por painéis, MDF, madeira processada, e madeira sólida oriunda de plantações certificadas vai triplicar. Além disso, as restrições à exploração de matas nativas, seja para carvão, seja para extração de toras, vão ficar cada dia mais difíceis devido à pressão popular, consequentemente incentivando a implantação de florestas renováveis e certificadas, com mudas de origem reconhecida.