A integração entre culturas de grãos e atividades pecuárias e florestais, ou “intensificação sustentável”, entrou na minha vida por absoluta necessidade de viabilidade econômica. Em 2006, quando decidi assumir a gestão da nossa fazenda, me deparei com a dura realidade que assusta milhares de produtores rurais que precisam recuperar solos degradados e áreas pouco produtivas das suas propriedades: a falta de crédito e, principalmente, do domínio da tecnologia para reverter a situação.
Analisando as opções disponíveis, concluí que a recuperação pelo método tradicional era inviável, caro, e o retorno do investimento, lento e duvidoso. Havia um elo perdido naquela abordagem e deveria ter uma forma mais inteligente para resolver o problema. Entrei em contato com a Embrapa e fui orientada a implementar uma nova tecnologia, denominada Integração Lavoura-Pecuária (iLP), que iria proporcionar uma melhoria nas propriedades físicas, químicas e biológicas dos solos da fazenda, além de recuperar os solos degradados a baixo custo e produzir, já no primeiro ano, pastagens de alta qualidade para os animais.
Naquela oportunidade, essa foi minha motivação principal, sem me dar conta de que essa tecnologia de integração, muito apropriada para as regiões tropicais do mundo, viria proporcionar um uso mais intensivo da terra, otimizando os meus recursos disponíveis na época, com efeitos positivos sobre a sustentabilidade da minha atividade. Três anos depois, com a evolução do sistema de integração por toda a fazenda, introduzi a floresta de eucaliptos e, assim, completei o ciclo, integrando totalmente a produção de grãos com a pecuária e com a produção de energia e madeira, para o equilíbrio ambiental da propriedade.
Aliás, nessa questão ambiental, estamos desenvolvendo, juntamente com a Fundação Espaço Eco, da Basf, e a Engenheira Ambiental Marcela Porto Costa, um estudo de socioecoeficiência agrícola (AgBalance), comparando sistemas integrados de iLP, iPF e iLPF na Fazenda Santa Brígida com não integrados de fazendas convencionais vizinhas, que deverá comprovar as vantagens do sistema. Durante esses 9 anos de utilização da integração, observei que, enquanto a produtividade das principais culturas de grãos vem aumentando ano após ano, houve uma redução de custos com adubação nitrogenada e um salto no aumento da matéria orgânica dos solos da fazenda.
Os pastos recuperados dão suporte a um número cada vez maior de animais, e a floresta já está chegando no momento do corte. Sob o aspecto econômico, a realização de duas safras de grãos por ano, agregada à criação de bois, tem diminuído os riscos da minha atividade, criando vários fluxos de receitas ao longo do ano. Entretanto, esse sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta introduz uma complexidade de gestão que anteriormente não existia, passando a exigir do produtor rural e do governo uma maior profissionalização, além de instrumentos mais modernos de apoio que ainda não estão disponíveis.
Para uma gestão eficiente da integração, é fundamental a implementação de sistemas de gerenciamento mais complexos, a qualificação de funcionários para a execução de tarefas multifuncionais, bem como a introdução de conceitos de qualidade total rural. Um sistema de cargos, salários e participação nos resultados também se faz necessário para um melhor desenvolvimento e retenção dos funcionários.
Na esfera dos diversos níveis de governos, será necessário evoluir na elaboração de uma legislação trabalhista mais moderna, que considere os fundamentos da atividade rural, bem como uma política de crédito rural e custeio mais flexível e rotativa ao longo do ano, para atender às diversas demandas da propriedade, que trabalha com um sistema intensivo de produção, e não apenas por produto, como é feito atualmente. No âmbito da extensão rural, é imperativo que se reorganize o sistema nacional de assistência técnica rural e que nossas universidades formem profissionais nas áreas de ciências agrárias que tenham o conhecimento para exercerem a gestão de um sistema integrado e bem mais complexo de produção rural.
Finalizando, penso que, atualmente, estamos com meio caminho andado, no que tange à efetiva implantação do sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta no Brasil. Entretanto, enquanto no desenvolvimento da sua tecnologia estamos caminhando bem, de forma firme e veloz, ainda nos falta um sem-número de ações complementares, necessárias para o seu pleno funcionamento e para atingir os objetivos da produção sustentável: ser economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente justo.