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Rudolf Woch

Diretor da Apoiotec

OpCP78

Onde está o nosso limite?
Nós sabemos que somos competitivos. E justamente por sermos competitivos é que estamos assistindo a um crescimento substancial das áreas ocupadas com florestas plantadas no Brasil. Mas o que nos torna lucrativos?

Os produtos a partir da base florestal em geral são commodities, e a viabilidade dos negócios está diretamente ligada à eficiência de uso dos recursos de produção. Com isso, a pressão por redução de custos dentro das organizações é praticamente uma cultura. Estamos constantemente alertas entre dois valores: de um lado, a produção e a produtividade e, do outro lado, os custos.

Temos então que incrementar a produtividade com a redução de custos. Isso é o dia a dia de todas as pessoas que participam do processo da produção florestal, em todas as etapas. Desde a escolha do material genético, passando por operações, insumos, recursos humanos...

Se estamos todos mobilizados pela produtividade a custo baixo, até onde conseguimos ir? Qual o limite da produtividade, e por quanto tempo podemos continuar avançando sobre esse objetivo nos moldes em que estamos trabalhando?

A produção vegetal, conceitualmente, é definida por três grupos de fatores: os fatores determinantes da produção (o solo e a luz solar); os fatores limitantes (água e nutrientes); e os fatores redutores (pragas, doenças e plantas daninhas). Quando falamos em florestas plantadas no Brasil, essa expansão impressionante está ocorrendo em um país tropical.

Solos tropicais são altamente intemperizados, com solos ácidos, presença de alumínio trocável e baixo teor de matéria orgânica. E, junto a tudo isso, a expansão florestal têm ocorrido em grande parte em áreas já extenuadas com pastagens degradadas. Se o solo é determinante e estamos plantando em solo degradado, já começamos com um fator determinante restritivo.

Será o solo o limite da nossa produtividade? Se isso é verdade, então o que podemos fazer para manter essa régua determinante no nível mais alto possível? Precisamos fazer o melhor que pudermos para favorecer as condições dos nossos solos ao máximo. Para isso, precisamos expandir nossos horizontes a outros níveis. Muitas possibilidades estão ao nosso alcance, mas pedem uma mudança de paradigmas.

Por exemplo: e se, na substituição do pasto degradado pela floresta plantada, procurássemos impor o mínimo de revolvimento e desestruturação física possível? Assim, poderíamos aproveitar o que houvesse de agregação promovida pelo sistema radicular e pela matéria orgânica já presentes nas áreas anteriormente.

A menor movimentação e consequente desagregação do solo traz benefícios fundamentais, como o de não aumentar a superfície específica de imobilização de fósforo e não promover oxidação da matéria orgânica, que para nossos solos arenosos é preciosa e em áreas degradadas já é escassa, o que reduz sua conversão e perda na forma gasosa (CO2).

Com isso, favorecemos o desenvolvimento da microbiota na ciclagem de nutrientes e retenção de carbono orgânico no solo. E um dos principais fatores: temos potencial para uma redução importante das perdas por erosão. O solo talvez seja o maior patrimônio de qualquer produtor de biomassa. Darwin comparava as plantas a animais de ponta cabeça.

Quando pensamos em animais, normalmente pensamos em criaturas que se alimentam, ingerem comida. Mas as plantas não “comem” nada, as plantas “bebem”. Tudo que elas absorvem vem da solução do solo. Sabemos que a água é o maior fator limitante para o crescimento das plantas e que ela também está no solo, assim como os nutrientes. Então, temos de pensar na disponibilidade da água para o processo fotossintético e para o acúmulo de biomassa.

Quanto mais água disponível, dado que todos os nutrientes necessários estão disponíveis na solução do solo, maior o acúmulo de biomassa. Mas então seria a água no sistema o limite da produtividade? E nós temos como fazer algo a respeito? O consumo de água numa rotação de eucalipto não é linear. E o sistema radicular tem condições de crescer e absorver em profundidades equivalentes a dois terços da altura do fuste.

A árvore aciona raízes finas absorventes em diferentes profundidades de acordo com a demanda e a disponibilidade de água ao longo do perfil do solo. Em algumas microbacias, na fase de maior consumo de água da floresta, a absorção pode ser maior do que a precipitação. Em linhas gerais, pode-se observar um pico de consumo entre o segundo e o sexto ano da floresta, com decréscimo após esse período. Entender o balanço hídrico de uma microbacia, considerando geoposicionamento, dimensões, cobertura vegetal, demandas humanas e animais, precipitação, entre outros, define o limite do tamanho do ciclo da rotação.

Manter a árvore sobre o solo por mais tempo, com ciclos mais longos, permite que a precipitação total seja maior do que o consumo e, portanto, que haja uma recarga do sistema com a floresta ainda na área, preparando-o para receber a próxima rotação. É claro, ainda temos de nos certificar de que a população florestal seja definida de forma coerente com a capacidade de suprimento da microbacia – não podemos ter mais árvores do que o balanço hídrico da região é capaz de suportar.

A precipitação não é acessível em qualquer condição: ela tem de estar no solo, tem de entrar no solo. Então, voltamos a falar do solo, que, se não tiver condições de absorção, não tem condições de permitir o acesso à água e aos nutrientes. Controlando erosão, reduzimos o escoamento superficial e deixamos a água entrar. 
 
Quando a água entra, favorecemos a microbiota e a ciclagem de nutrientes. Quando definimos o consumo adequado pela população de árvores ou ciclo da rotação ou porcentagem de ocupação da microbacia, estamos garantindo a longevidade dos sistemas de produção dessa microbacia e considerando seu impacto na vida de pessoas e animais. Não existe apenas um ponto de entrada ou de atenção. Precisamos pensar de forma global. O limite da produtividade está então na longevidade do sistema.

E essa compreensão mais global é que nos permite empregar os nossos esforços de maneira mais efetiva e cada vez mais relevante. Existe, pela primeira vez, viabilidade econômica de empregarmos toda esta tecnologia de produção silvicultural nas áreas de restauração florestal. É uma oportunidade de agregarmos uma entrega socioambiental não apenas relevante, mas necessária, às nossas atividades.

Está clara a importância de considerarmos os custos e a produtividade, mas atingimos um patamar que não apenas nos permite como nos exige uma expansão no sentido mais amplo da palavra. Estamos trabalhando arduamente, gastando todas as nossas energias para manter o ritmo, mas estamos fazendo tudo isso dentro de uma rodinha de rato.

Se olharmos ao redor, vamos perceber que podemos ocupar outros espaços e fazer diferença de muitas outras formas, que existem muitas novas possibilidades surgindo a todo tempo. Precisamos crescer para além do custo e da produtividade: precisamos falar na capacidade de suporte e o desenvolvimento do manejo para a integração de todos esses fatores.

A cultura tem de mudar. É tudo isso, mas com longevidade de todo o sistema socioambiental e responsabilidade no relacionamento com os recursos humanos e ambientais. Não precisamos mais da rodinha do rato. As possibilidades são infinitas, e temos plena capacidade de alcançá-las.