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Rafael Macedo

Diretor da Rafa Macedo Florestal

OpCP81

O papel do papel
O título parece simples, que vai gerar um debate meio óbvio. Afinal das contas, todos nós sabemos a importância do papel e da indústria florestal que está por trás dele. Desde o plantio florestal, confecção da celulose e de tantos outros produtos de madeira. Mas e todas as outras pessoas, aquelas que não fazem parte do setor de base florestal: sua mãe, tia, irmã, filho, marido, primo, namorada, o motorista de aplicativo, o estudante, mesmo os de alguma área de agroconhecimento... Será que eles também têm o mesmo entendimento que a gente? Será que estamos sendo capazes de nos conectar fora da nossa bolha?
 
Antes de começarmos, você pode me perguntar: por que eles teriam de saber? É tão importante assim? Afinal, também não conhecemos com tanta profundidade, ou às vezes com profundidade nenhuma, outras áreas, correto? E vida que segue.
 
A diferença é que nosso setor, o florestal, é assunto global, faz parte do cotidiano das pessoas, tem exposição na mídia e, frequentemente, é tema de debate. Você há de convir que, para formarmos opinião sobre qualquer assunto, é importante conhecer, ter informações. 

Formamos uma opinião e decretamos nosso veredito sobre algo, se é bom ou ruim para sociedade, para o meio ambiente e para nós, tendo como base as informações que reunimos sobre o assunto. Isto é o curso natural da formação de um conceito sobre determinado assunto.  

Agora eu é que lhe pergunto: quando você interage com alguém que não faz parte do nosso pequeno mundo florestal, qual é o nível de conhecimento que reconhece nas pessoas? E mais, qual é, na grande maioria, a opinião que elas têm sobre o setor florestal?

Posso falar por mim. Na imensa maioria dos encontros, o conceito é negativo, fruto de muito desconhecimento. Agora, quero incluir na lista de pessoas que citei no primeiro parágrafo: os líderes empresariais, governadores, deputados, membros da justiça e agentes públicos. Com o mesmo nível de desconhecimento e/ou conceitos equivocados de todas aquelas pessoas. Só que estes, além de também fazerem parte da opinião pública, são protagonistas em decisões importantes que podem ajudar ou prejudicar toda uma cadeia sustentável, produtiva e geradora de renda, por puro desconhecimento.
 
Ninguém abre mão da madeira, mas pouca gente a defende. E de quem é a culpa? Não que faça muita diferença, mas considero a falta de comunicação do segmento de base florestal como o principal culpado.  Ainda ouço os velhos mitos (e há mais de 20 anos): eucalipto seca o solo, onde nasce pinus nada cresce em volta, deserto verde, e o contrassenso, o setor florestal desmata.
 
Sabemos que nada disso faz sentido, mas parece que fazemos questão de guardar esta verdade somente para nós. Porque não conseguimos unir forças e fazer uma campanha ampla, nacional e perene sobre o setor florestal. Isto é muito importante, porque ações pontuais não resolvem. 

E quando digo campanha de comunicação é apresentar o setor de florestas plantadas e de manejo sustentável de verdade mesmo. Sem medo de mostrar uma árvore sendo colhida, pois faz parte do ciclo. Plantar, colher, replantar. É desta árvore que foi colhida (deixando de lado aqui um pouco os fantásticos produtos não-madeireiros), que produzimos produtos dos quais as pessoas não abrem mão, porém não relacionam com aquela madeira que foi derrubada, processada e industrializada.
 
Vamos lá. Aquela árvore vira revestimento, medicamento, é usada como cosméticos e na construção, biocombustíveis, filtros automotivos, filtros de café, tecido, indústria alimentícia, embalagem, piso, na fabricação de tecido, papel higiênico, lenço umedecido, fralda, guardanapo, papel para impressora, caderno, agenda, post-it, cartão de visita, papelão, revestimento, painel de madeira, cerca, móvel... E mais uma infinidade de produtos que são feitos diretamente com a madeira ou com a resina ou nos quais a madeira são suportes para se confeccionar. 
 
Agora, pergunte se alguém abre mão de um destes produtos? Acho muito difícil. Então, como alguém pode ser contra esta indústria? Pois é, é possível sim, e isto acontece hoje. Se quisermos mudar sa imagem, devemos nos comunicar mais e melhor.

Na grande maioria das vezes, quando o segmento florestal é mostrado na mídia, são por ações ilegais, que nada têm a ver com a indústria. Isto faz parte do jornalismo, até pela definição de notícia. Entre outras é: trata-se do que é inusitado, o diferente, fora do ordinário. E diante da atividade florestal brasileira, o inusitado, o diferente, fora do ordinário é exatamente a infração, a ilegalidade. Porque o normal, o que nós vemos todos os dias é a atividade correta, dentro das normas, sustentável e benéfica. Porém, isto não é notícia.

Porém, o público vê as notícias. E, é com base nelas que formam suas opiniões. Afinal, é toda a informação que elas têm sobre o assunto. Aqui vem uma explicação para este entendimento: “A Teoria da Disponibilidade, ou Heurística da Disponibilidade, é a tendência de julgar ou decidir com base no que vem mais fácil à mente. Em vez de usar dados reais, as pessoas recorrem a lembranças pessoais, acontecimentos recentes ou informações fáceis de lembrar. Isso pode distorcer a realidade e fazer com que avaliem a chance de algo acontecer de forma errada.”
 
E quais são as lembranças que a maioria das pessoas tem sobre indústria florestal? Motosserra destruindo a Floresta Amazônica. E o que podemos fazer? Acabar com um almoço de família e dar uma palestra quando aquela tia manda: “o setor florestal é culpado do desmatamento!”?

Prefiro pegar outro caminho e encarar o desafio de promover a comunicação global e permanente com as pessoas. Para que, no próximo almoço de família, aquela mesma tia puxe a conversa com: “impressionante como o setor que você trabalha, meu sobrinho, é sustentável, como funciona o plantio das mudas?”

Sem medo de mostrar a verdade: Aqui vai uma visão muito particular sobre a abordagem. Claro que existem iniciativas importantes de grandes entidades e empresas de diversos portes na comunicação, aliadas a ações reais junto a comunidades próximas das indústrias e regiões de colheita florestal. Isto tem de ser exaltado, porque faz diferença. Deixo aqui o mérito de muitas iniciativas que acompanho mais de perto de associações estaduais e algumas empresas.

Mas o que sinto falta é mostrar a nossa realidade. O plantio, a colheita, a extração e o cuidado em todas as etapas (solo, pesquisas, métodos de melhor conservação...). Vejo que representantes da cadeia florestal têm certo receio em mostrar nas redes sociais e em campanhas uma árvore sendo colhida, o que é natural pois faz parte do ciclo. Assim como plantamos e depois colhemos arroz, soja, milho... E entendo, porque esta é exatamente a imagem que a mídia e as pessoas, por consequência, associam com desmatamento ilegal, com a destruição da Amazônia – mesmo que a árvore esteja bem longe daquele bioma.

Mas não é tapando os olhos e fingindo que esta etapa não existe que iremos resolver a questão. Vejo bastante esforço em mostrar que o setor florestal contribui para a fauna, que gera produtos de alta qualidade, usados por arquitetos em obras belíssimas. 

E esta madeira toda brota na indústria? Ela não teve de ser colhida, carregada, transportada em caminhões, processada até se tornar material para aquela obra de encher os olhos? E o pessoal que está lá no mato, não merece destaque? O motorista, mecânico de máquina pesada, operador, engenheiro florestal, quem planta. Estas histórias e a lida deles não deveriam ser material de propaganda positiva para o segmento de base florestal? Contando a história toda, afinal nosso ciclo é completo.

Vamos mostrar o setor florestal, do plantio à colheita, da pesquisa genética à industrialização, das ações junto às comunidades locais às histórias de quem trabalha duro no campo. Como este setor e seus produtos impactam positivamente. Ou seja, comunicar de forma consistente e real, como o setor florestal funciona. Sem fugir de assuntos, teoricamente, sensíveis. Mas tirar o pano preto de cima. Apresentar informações comprovadas por pesquisa. Pode ter certeza de que vão gerar opiniões mais condizentes com o que nosso segmento realmente entrega. Afinal, os fertilizantes e defensivos são ou não como que um remédio para as plantas? 

Tenho convicção que todos os agentes do setor, tanto empresas, como entidades, têm condições de investir em diferentes frentes. 
 
Lógico, comunicação em escala nacional custa dinheiro, mas traz muitos benefícios.Mas se organizado de forma cooperada, falando a mesma língua, mostrando de forma clara todas as etapas nas quais a cadeia participa, e como elas são realmente eficientes, eficazes, produtivas, cuidadosas e com o maior ESG que se pode alcançar, e gerando produtos que todas as pessoas  necessitam e realmente utilizam, em todas ações e etapas do seu cotidiano, fica fácil mudar as opiniões. 

Assim, temos de furar nossa bolha para avançar na maneira, conhecimento e no conceito que as pessoas têm sobre nosso setor. Pode ter certeza, as conversas no almoço de família serão muito mais embasadas quando o assunto for sobre florestas.