Professor de Silvicultura da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
A silvicultura no Brasil é um exemplo claro de sucesso. Desde as décadas de 60/70, a produção média de eucalipto aumentou de 2,5 a 4 vezes. Até os anos 80, era comum o uso de grade bedding em terrenos mecanizáveis e o cultivo manual em áreas inclinadas, frequentemente associado ao uso do fogo. No entanto, com a proibição das queimadas em São Paulo, em 87, e o esforço conjunto dos setores público e privado, foi desenvolvido o cultivo mínimo, promovendo uma mudança conceitual na silvicultura.
O cultivo mínimo evoluiu gradualmente, consolidando-se ao longo dos anos. As empresas florestais, o IPEF e a SIF, por meio de programas cooperativos de grande sucesso, como o PTSM e o Nutree, impulsionaram avanços expressivos na silvicultura, estabelecendo o país como referência mundial.
Embora ganhos de produtividade tenham sido consistentes até 2007, após esse período, houve uma tendência à estagnação, segundo Relatórios da Ibá. Mas por que isso ocorre, mesmo com uso de técnicas silviculturais avançadas? É importante destacar que a adaptação genótipo ambiente e a nutrição florestal são determinantes da produtividade. Além disso, as demais atividades silviculturais, se não bem realizadas, são fatores redutores.
O melhoramento genético de eucalipto no Brasil é bem consolidado. Os genótipos plantados resultam de hibridação e clonagem, com a seleção de diferentes materiais genéticos de acordo com o objetivo industrial e as condições edafoclimáticas. No entanto, a pressão de seleção imposta pelas mudanças climáticas, juntamente com a susceptibilidade a fungos, bactérias e insetos, tem levado ao descarte de materiais genéticos antes consolidados, reduzindo a disponibilidade de clones. Além disso, a expansão para áreas com condições edafoclimáticas menos favoráveis exige o desenvolvimento de novos materiais genéticos para se assegurar a manutenção e/ou o aumento da produtividade.
Os avanços nas áreas de fertilização e nutrição de eucalipto, nas últimas décadas, foram expressivos. Por exemplo, ao pesquisar "nutrição de eucalipto no Brasil" no Google Acadêmico, encontram-se 17.700 documentos, e ao buscar por "fertilização de eucalipto no Brasil", são 8.840.
A silvicultura de vanguarda exige que o silvicultor considere na indicação do genótipo para plantio vários fatores, tais como: a meta de produtividade, a eficiência nutricional, o manejo de resíduos, o suprimento de nutrientes do solo e dos fertilizantes, o monitoramento nutricional, a condição climática, além da susceptibilidade a pragas, doenças e estresses hídricos e térmicos. As tabelas de recomendação de fertilização, anteriormente baseadas em experimentos de campo, evoluíram significativamente ao incorporar a modelagem baseada no balanço nutricional entre o solo e o povoamento florestal, tornando o sistema de recomendação de adubação mais preciso e eficaz.
Outros avanços obtidos nos últimos anos estão associados às geotecnologias que melhoraram a precisão de operações, gestão florestal e otimização de custos. Os avanços computacionais permitiram implementar técnicas estatísticas mais avançadas, desenvolvimento de softwares, uso de VANTs, sensores embarcados em máquinas etc. Porém, todos esses e outros avanços não trouxeram expressivas mudanças conceituais para a silvicultura.
De forma sucinta, foram destacados os principais avanços na silvicultura brasileira. No que diz respeito à fertilização das florestas, ainda há a necessidade de novos produtos. Os fertilizantes agrícolas convencionais, que em sua maioria são misturas de grânulos, atendem melhor às culturas de ciclo curto.
Contudo, existe um grande potencial de evolução na qualidade e na eficiência de absorção destes, especialmente para N, P, K e alguns micronutrientes. Já existem empresas desenvolvendo fertilizantes com novas tecnologias, que incorporam múltiplos nutrientes em um único grânulo e características de liberação controlada, visando atender às demandas das espécies florestais e às características dos solos tropicais.
Também é necessário avançar na silvicultura em relação ao uso de bioestimulantes. Esses incluem tanto substâncias químicas quanto microrganismos que desempenham papéis cruciais na modulação das respostas das plantas a estresses ambientais e na melhoria da eficiência de absorção de nutrientes.
Quando associados ao cultivo mínimo e à manutenção de resíduos no solo, essas práticas tornam-se estratégias importantes para sustentar e aumentar a produtividade, pois contribuem para o incremento do carbono no solo, aumento da capacidade de troca catiônica, retenção de umidade, biodiversidade microbiana e resistência a estresses hídricos e térmicos.
Conceitos consolidados, como o cultivo mínimo, têm sido questionados por propostas que defendem a remoção total dos resíduos do campo. Enquanto a área agronômica intensifica esforços para aumentar a fixação de carbono e nutrientes no solo, por meio de rotações de culturas, plantio direto e outras práticas para enfrentar os estresses ambientais, a remoção dos resíduos florestais, sugerida por alguns, contraria os princípios da sustentabilidade.
Essa prática desconsidera avanços científicos cruciais para a manutenção da produtividade em solos tropicais, que são naturalmente pobres em nutrientes e matéria orgânica. A remoção dos resíduos compromete o equilíbrio ambiental ao ignorar a importância da ciclagem de nutrientes no balanço nutricional, da cobertura do solo para retenção de água e redução da temperatura, do aumento da atividade microbiológica e da prevenção da compactação do solo. Além disso, reduz o sequestro de carbono no solo, prejudicando a manutenção da produtividade florestal e a responsabilidade ambiental.
Outro ponto que merece atenção é a forma como transferimos o conhecimento científico para o campo. Apesar dos avanços no entendimento das especificidades genótipo ambiente, que evidenciam a necessidade de evoluir para um manejo silvicultural de precisão, ao nível do talhão, muitas empresas ainda aplicam anualmente pacotes tecnológicos de fertilização baseados em valores médios de produtividade esperada e demanda nutricional, independentemente do clone.
Outras organizam suas áreas em unidades de manejo com certa homogeneidade de produtividade e condições edafoclimáticas, entre elas, algumas respeitam a especificidade clonal, outras não. Enquanto pequenos e médios produtores, em geral, utilizam um único pacote tecnológico para todas as áreas. Nesse contexto, é crucial refletir sobre o papel da estatística nas decisões biológicas.
Fertilizações recomendadas com base na média da produtividade esperada, prática amplamente adotada, desconsideram as variações clonais, ambientais, edáficas e logísticas, o que limita a eficácia dessas fertilizações e reduz o retorno econômico. Para desenvolver uma silvicultura de precisão, é fundamental respeitar as demandas nutricionais considerando a interação entre genótipo e ambiente, bem como o retorno econômico da madeira entregue à fábrica por talhão. Esse é um grande desafio para os silvicultores, mas essencial para maximizar a eficiência produtiva e econômica e a sustentabilidade do setor.
Corroborando com o acima exposto, é comum observar resultados experimentais com produtividades entre 30 e 50% superiores aos resultados operacionais, tanto em experimentos de pequena quanto de grande escala. A indagação sobre essa diferença é necessária. Essa diferença levanta questionamentos, e as respostas geralmente apontam para o maior rigor na execução das operações experimentais e à homogeneidade edáfica nesses estudos.
Como visto nas considerações acima colocadas, as avançadas formas de se fazer manejo no sistema florestal têm-se mostrado essenciais para a sustentabilidade e a produtividade do setor. A silvicultura de vanguarda possui uma forte base científica e tecnológica, sendo desafiante e demandando investimento intelectual em múltiplas áreas.
Esse contexto exige dos profissionais uma postura proativa, que combina o conhecimento integral do processo com uma abordagem inovadora. Este equilíbrio não apenas promove a otimização dos processos, mas também assegura que as práticas silviculturais evoluam continuamente em resposta às novas demandas e oportunidades tecnológicas.