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Fábio Poggiani

Professor de Ecologia Florestal na Esalq-Usp

Op-CP-05

As florestas plantadas e a ecologia

Atualmente, as plantações florestais de rápido crescimento são ecossistemas indispensáveis para o desenvolvimento do país, visto que, através de sua elevada produtividade, suprem o mercado com produtos madeireiros e não madeireiros, e, conseqüentemente, atenuam a devastação das matas nativas remanescentes.

 Principalmente nos estados mais povoados e industrializados do Brasil, as matas nativas deveriam ser exclusivamente destinadas à conservação da biodiversidade, dos mananciais e à manutenção do equilíbrio ecológico da biosfera. Diferentemente das florestas naturais, as plantações florestais são ecossistemas, planejados com o intuito de produzir grandes quantidades de biomassa, visando suprir às demandas da sociedade.

Para tal finalidade, são empregadas técnicas aprimoradas de implantação e manejo florestal, com as quais o ecossistema consegue manter, permanentemente, uma elevada produtividade, através de sucessivos ciclos de corte, que variam entre 5 e 7 anos.  Por outro lado, se o plantio florestal for mantido por alguns anos, sem cortes e sem intervenções severas, a regeneração das espécies nativas volta a ocorrer naturalmente no sub-bosque, podendo evoluir para o restabelecimento do ecossistema primitivo.

No Brasil, as plantações florestais são constituídas, geralmente, por extensas monoculturas, onde prevalecem, principalmente, árvores exóticas de rápido crescimento (eucalyptus e pinus). Mas, com a evolução da ciência florestal e da tecnologia, deverá ocorrer uma tendência natural para a utilização também de espécies nativas, especialmente selecionadas para os mais variados fins industriais e socioambientais, aproveitando racionalmente o enorme potencial genético que a natureza oferece-nos.

A floresta plantada, tendo como objetivo primordial uma elevada produtividade de biomassa lenhosa, deve ser manejada observando determinados princípios, que visam um grande adensamento, otimizando, para cada árvore, o suprimento necessário de luz, água e nutrientes. Por exemplo, nas plantações de eucalyptus, são distribuídas, nas linhas de plantio, cerca de 2.000 mudas por hectare.

Com esta densidade arbórea, se forem aplicadas adequadamente as práticas silviculturais ao longo de sete anos, pode-se alcançar um volume de madeira superior ao obtido em florestas nativas maduras, onde o ciclo de corte pode variar 80 e 100 anos. A elevada produtividade das florestas plantadas pode ser também atribuída à redução ou eliminação de pragas e doenças, bem como à correção da acidez do solo e à aplicação de fertilizantes químicos ou orgânicos, quando necessário.

Segundo estudo efetuado pela Sociedade Brasileira de Silvicultura, SBS, atualmente as plantações florestais conseguem suprir apenas 1/3 da madeira, anualmente consumida no Brasil. Portanto, apesar da grande expansão do setor florestal, existe ainda uma severa carência de florestas plantadas para atender à demanda da sociedade. Atualmente, a área ocupada por florestas plantadas no Brasil corresponde, aproximadamente, a 5.000.000 de hectares, ou seja, apenas 0,6% do território.

Precisaríamos, portanto, duplicar ou triplicar as áreas com florestas plantadas, para atendermos, adequadamente, às necessidades do país, sem devastar as florestas nativas. Isto pode ser realizado sem provocar novos desmatamentos ou expandir a fronteira agrícola, mas apenas florestando as áreas de agricultura e pastagens com baixa produtividade ou abandonadas, que se encontram, geralmente, em estágio avançado de degradação ambiental. Também é ecologicamente importante o papel das florestas plantadas no seqüestro do CO2 atmosférico, atenuando o efeito estufa, visto que a quantidade de carbono fixado equivale, aproximadamente, a 45% da biomassa lenhosa produzida.

Se comparadas com outras atividades agrícolas, como, por exemplo, as culturas de cana ou de soja, as florestas plantadas representam uma das formas mais sustentáveis do uso da terra, visto que o impacto ambiental gerado pela colheita das árvores é mais espaçado e menos intenso. Também o consumo de pesticidas e de adubos químicos é comparativamente menor.

Devido à cobertura das copas, o solo permanece protegido do processo erosivo, mantendo a estabilidade das condições no ambiente, bem como o equilíbrio da micro e mesofauna e dos microrganismos decompositores.  Desta maneira, os nutrientes são continuamente reciclados no ecossistema e as perdas por lixiviação são baixas, devido ao vasto sistema radicular das árvores, que forma uma verdadeira malha de raízes finas e consegue recapturar os nutrientes liberados pela serapilheira em decomposição, assegurando a sustentabilidade do ecossistema.

Neste sentido, a prática do cultivo mínimo, mantendo sobre o solo os resíduos florestais resultantes da colheita (folhas, ramos e cascas), constitui-se numa das mais efetivas modalidades do “bom manejo florestal”, cada vez mais adotado pelas empresas de ponta. Por sua vez, a fauna silvestre pode obter alimento no sub-bosque das plantações florestais, onde ocorre, normalmente, regeneração de plantas herbáceas e arbustivas e, ao mesmo tempo, encontrar refúgios entre a vegetação dos fragmentos florestais remanescentes.

Tem sido observado um considerável aumento das populações de animais silvestres nas áreas cobertas por florestas plantadas, quando devidamente protegidas. Finalmente, é importante salientar que qualquer cultura agrícola ou florestal deve ser adequadamente manejada, obedecendo, rigorosamente, aos princípios de conservação ecológica, bem como às normas da legislação, para não causar impactos indesejáveis ao ambiente.