Gerente de P&D Florestal e Coordenadora de Manejo Florestal da Veracel, respectivamente
O manejo responsável das florestas plantadas depende de práticas capazes de garantir a produtividade sem comprometer a integridade dos recursos naturais, como a água. Entre as ações de proteção ambiental, o monitoramento hidrológico se destaca como um instrumento eficaz para avaliar possíveis impactos das plantações sobre microbacias e cursos d’água.
Nesse contexto, o método das microbacias pareadas, utilizado por empresas florestais e por iniciativas como o Programa de Monitoramento Ambiental em Bacias Hidrográficas (PROMAB), do IPEF (Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais), fundamenta o programa de monitoramento da Veracel Celulose, no sul da Bahia.
O princípio do método é simples e robusto: monitoram-se, de forma contínua e simultânea, duas microbacias adjacentes com condições edafoclimáticas semelhantes. Uma delas recebe o manejo florestal e a outra permanece como área de referência, com vegetação nativa preservada e sem intervenções. A comparação dos resultados permite identificar eventuais alterações no regime hídrico decorrentes do manejo.
Cada microbacia é equipada com uma estação linimétrica dotada de um vertedor misto e um transdutor de pressão para medir continuamente o nível da lâmina d’água. Pluviômetros digitais e uma estação meteorológica complementam o sistema, registrando dados de precipitação, temperatura, umidade e outros parâmetros relevantes.
A Veracel adotou essa metodologia em quatro microbacias experimentais, distribuídas entre as bacias dos rios Jequitinhonha e Buranhém. Os monitoramentos na bacia do Jequitinhonha têm mais de 20 anos de histórico, enquanto na bacia do Buranhém as medições têm 10 anos de histórico.
Os pares de microbacias foram posicionados de modo a representar dois ambientes típicos da região: um mais próximo ao litoral, em Santa Cruz Cabrália, marcado por maiores índices de precipitação; e outro mais interiorizado, em Guaratinga, onde naturalmente chove menos. Essa distribuição possibilita avaliar o comportamento hidrológico das florestas plantadas sob diferentes cenários climáticos.
Nas microbacias do Jequitinhonha, um ponto central está relacionado às mudanças no uso do solo ao longo das operações florestais. As atividades de manejo na microbacia com florestas plantadas tiveram início em janeiro de 2007 e já envolveram três ciclos de colheita. Após a colheita realizada em 2009, foi realizada a conversão de parte das áreas de efetivo plantio para vegetação nativa, seguindo o plano de manejo da Veracel. Com isso, a proporção de área plantada, que antes representava cerca de 70% da microbacia, foi reduzida para 42%. Essa mudança ampliou a participação da vegetação nativa em um cenário já caracterizado por forte representatividade ecológica.
Do ponto de vista da conservação da água, essa configuração é considerada especialmente favorável e permite que o balanço hídrico da microbacia não apresente alterações significativas devido à relação adotada entre áreas plantadas e áreas de floresta nativa.
A análise dos dois ciclos de monitoramento nas microbacias do Jequitinhonha – de 2009 a 2014 e de 2015 a 2020 – revela que, embora a precipitação média no segundo ciclo tenha sido menor, os valores médios de deflúvio – água produzida pela microbacia e disponível para outros usos – permaneceram semelhantes, com 109 e 113 mm, respectivamente.
Tanto a microbacia com floresta plantada quanto a microbacia com vegetação nativa apresentaram maior consumo de água no primeiro ciclo, como consequência da maior disponibilidade hídrica naquele período. Esses resultados indicam que as variações climáticas afetam ambos os ambientes e reforçam a importância de manter metodologias baseadas em parcelas pareadas, que permitem isolar o efeito do clima e assegurar comparações entre diferentes usos do solo.
Ainda que as duas microbacias operem sob regimes hidrológicos distintos, a tendência observada nos ciclos é convergente: mesmo com menor precipitação no segundo ciclo, o deflúvio permaneceu estável, confirmando que as florestas plantadas não comprometeram a dinâmica hidrológica natural.
Esse comportamento está associado à proporção entre áreas de vegetação nativa e áreas plantadas, bem como às práticas de manejo adotadas – como manutenção de APPs (Áreas de Proteção Permanentes), planejamento das operações de colheita e técnicas silviculturais de baixo impacto. Em conjunto, esses fatores contribuíram para preservar a disponibilidade hídrica, demonstrando a efetividade do manejo florestal e das ações de conservação conduzidas pela empresa.
O monitoramento contínuo dessas microbacias permanece essencial, especialmente porque permitirá avaliar, ao longo dos anos, como a composição da vegetação nativa e florestal influencia o regime hídrico e a resiliência ambiental. Trata-se de um investimento estratégico, que fortalece o conhecimento técnico e oferece base sólida para a gestão sustentável das florestas plantadas na Veracel.
A Veracel Celulose é uma empresa da bioeconomia brasileira que produz celulose de forma sustentável no sul da Bahia, atuando em 11 municípios da Costa do Descobrimento. Com acionistas Suzano e Stora Enso, conta com um time diverso e reconhecido em clima organizacional. Inserida em uma região de alta biodiversidade, preserva mais de 90 mil hectares de áreas naturais, incluindo a RPPN Estação Veracel, e promove ações de desenvolvimento social nas comunidades vizinhas. Seu propósito é crescer com responsabilidade, inspirar pessoas e valorizar a vida.
Duas microbacias experimentais em Santa Cruz Cabrália-BA.
Acima: Em uma floresta planta com Eucaliptos
Abaixo: Em uma floresta com vegetação nativa