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Flávio Cunha Souza

Gerente Regional do Segmento Florestal da Expresso Nepomuceno

OpCP73

A evolução do transporte florestal
O segmento florestal desempenha papel fundamental na economia global, fornecendo matéria-prima essencial para diversos setores. Nos últimos anos, é notável a expansão do setor no Brasil, com expressivos investimentos nessa cadeia produtiva. No entanto, para que essa indústria seja eficiente e sustentável, é necessária uma logística eficaz e segura da madeira da colheita até as fábricas e sua distribuição.

A evolução do transporte nos últimos anos desempenhou um papel crucial nesse processo, com o aumento das capacidades de peso e volume transportado, do emprego, de mais tecnologia e de formação e capacitação da mão de obra especializada.

O transporte rodoviário representa uma parcela significativa dos custos na logística florestal, chegando, em alguns casos, a 40% dos custos do processo. Portanto, torna-se crucial buscar maneiras de se reduzir custos e aumentar a produtividade para garantir a competitividade do setor. Um dos desafios do transporte florestal sempre foi aumentar a capacidade de carga e volume por viagem, incluindo a transição de modais com maior capacidade, como a mudança de um veículo Bitrem com PBT de 57 toneladas para um TT com capacidade de 74 toneladas, sempre considerando as limitações estruturais das rodovias e a topografia das áreas plantadas.

A capacidade de peso dos veículos é regulamentada por normas específicas, com o objetivo de proteger a infraestrutura rodoviária, que consideram não apenas o peso total do veículo, mas também a distribuição adequada do peso sobre os eixos para evitar danos às estradas e garantir a estabilidade do veículo durante a condução.

Os veículos utilizados no transporte florestal incluem caminhões com reboques ou semirreboques, e a capacidade de peso varia dependendo de fatores como: tipo de veículo, configuração de eixos, normas regulatórias, tecnologia, inovação e o impacto ambiental.
O avanço dos modais, principalmente ao longo dos últimos 10 anos, passa por um período de grande redução na tara dos equipamentos, com o avanço da engenharia de equipamentos, provocado pelas empresas de logística e embarcadores.

Surgiram, então, equipamentos extra leves e especializados, com capacidade de carga aumentada através do emprego de materiais mais leves, fazendo com que, em alguns momentos, fosse possível conquistar até 20% de redução na tara e, consequentemente, aumento na capacidade de peso líquido transportado. Esse movimento trouxe ganhos para o transporte florestal, no entanto, houve situações de redução extrema que comprometeram a vida útil do equipamento, o índice de quebras, a disponibilidade, o aumento no custo de manutenção e risco à segurança da operação.

Foi preciso encontrar um ponto de equilíbrio e, no momento atual, os equipamentos possuem tara entre 12% a 15% mais leve, proporcionando aumento na capacidade de carga líquida, comparado a equipamentos utilizados na última década.

Cabe, agora, explorar novas tecnologias e materiais empregados, para buscar uma nova onda de oportunidades a fim de aumentar a eficiência no transporte florestal. Outro ponto fundamental diz respeito a utilização de tecnologias embarcadas. Essas tecnologias desempenham hoje um papel vital no aprimoramento da eficiência, segurança e sustentabilidade do transporte florestal. É possível distinguir três bases principais: a telemetria, o controle de fadiga e o monitoramento da gestão logística.

A telemetria envolve a coleta de dados em tempo real por meio de sensores instalados em veículos e ativos. Ela monitora métricas como velocidade, localização, consumo de combustível e desempenho do motor. Isso permite otimizar operações, melhorar a eficiência, prevenir problemas mecânicos e otimizar rotas. Isso resulta em eficiência operacional, manutenção preventiva e logística. Além disso, possibilita o embarque de rotograma que permite ao motorista visualizar  as condições de trajeto ao longo da viagem, gerando maior segurança no transporte.

O controle de fadiga é essencial para prevenir acidentes causados por cansaço. Isso inclui sensores que rastreiam padrões de direção, câmeras que monitoram olhos e rosto do motorista em busca de sinais de sonolência e sistemas de alerta para comportamentos inseguros, como sair da faixa ou distração ao volante.

O monitoramento é fundamental para otimizar a logística e fazer a gestão eficaz do transporte, isso envolve o planejamento, execução e controle eficiente dos tempos e ciclos envolvidos. A análise dos dados torna cada etapa da viagem mais eficiente e produtiva.

As tecnologias embarcadas desempenham um papel crucial, melhorando a eficiência operacional, a segurança dos motoristas e a gestão logística. Essas inovações contribuem para a modernização e a sustentabilidade do setor, garantem um uso mais eficiente dos recursos e uma redução dos impactos ambientais e econômicos.

Apesar dos avanços tecnológicos, a indústria florestal enfrenta desafios significativos relacionados à escassez de mão de obra qualificada, especialmente entre motoristas profissionais. Nesse contexto, políticas de incentivo a formação, treinamento e capacitação têm se mostrado essenciais para preencher essa lacuna.

Em virtude dessa escassez que afeta toda a cadeia de transporte rodoviário no país, é necessário investir em programas de treinamento extenso para preparar motoristas a lidar com essa logística desafiadora.

Os programas incluem treinamentos teóricos e práticos, simulações de situações de campo e instruções sobre segurança e regulamentos. Parcerias entre a indústria, instituições de ensino e órgãos reguladores estão sendo estabelecidas para desenvolver currículos adaptados às demandas da logística florestal.

Além disso, programas de formação bem estruturados atraem jovens para a carreira, enquanto o investimento na formação contínua aumenta a satisfação e a retenção de profissionais experientes. Essa capacitação também prepara os motoristas para lidar com tecnologias embarcadas e sistemas de gerenciamento.

Em suma, a escassez de motoristas no transporte florestal é um desafio que requer uma abordagem abrangente. Investir em formação e capacitação não apenas melhora as habilidades dos motoristas, mas também contribui para a retenção de profissionais, a segurança nas estradas e o sucesso geral das operações florestais.

Por último, é fundamental destacar a crescente relevância da sustentabilidade e dos critérios ESG no setor de transporte florestal. A adoção de veículos elétricos representa uma estratégia eficaz para mitigar as emissões de CO2, enquanto a implementação de práticas sustentáveis na logística e o uso de biocombustíveis também desempenham um papel crucial na redução das emissões.

Além disso, é necessário que o segmento leve em conta os impactos ambientais, sociais e de governança em suas operações, a fim de fomentar a sustentabilidade e alinhar-se com os critérios ESG. Essas iniciativas não apenas têm um impacto positivo no meio ambiente, mas também promovem uma imagem mais favorável e asseguram a sustentabilidade a longo prazo da indústria florestal.

Em síntese, a evolução do transporte na logística florestal continua a moldar a indústria, abordando desafios como aumento na capacidade de peso e volume, eficiência operacional e sustentabilidade. As tecnologias aplicadas, como sistemas de telemetria, controle de fadiga e avançado monitoramento da logística em tempo real, estão impulsionando a eficácia e segurança das operações.

No entanto, a escassez de mão de obra qualificada, especialmente entre motoristas, permanece um desafio. Através de políticas de formação, treinamento e parcerias estratégicas, o setor está se esforçando para superar essa lacuna, capacitando profissionais para enfrentar os complexos desafios da logística florestal. O resultado é um setor mais resiliente, eficiente e preparado para enfrentar os desafios do futuro.