Professor de Colheita, Prestação de Serviços e Ergonomia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Murici
Embora o conhecimento das atividades logísticas remonte a séculos, o termo surgiu apenas durante a Segunda Guerra Mundial, quando foi utilizado para definir o conjunto de atividades relacionadas à movimentação de recursos humanos, armamentos e munições para os campos de batalha. Na sua origem, portanto, o conceito de logística era essencialmente ligado às operações militares, mas, com o passar dos anos, o seu significado tornou-se mais amplo, passando a abranger as áreas de estoque, de transporte e de armazenagem.
Nos últimos anos, a logística vem apresentando uma evolução constante, sendo um dos elementos-chave na formação da estratégia competitiva das empresas. Nesse sentido, confundida inicialmente com o transporte e armazenagem de produtos, atualmente é considerada ponto estratégico da atividade produtiva integrada, atuando em consonância com o moderno gerenciamento da cadeia de suprimento.
Logística refere-se, assim “ao conjunto de atividades (meios e métodos) direcionadas a agregar valor, a fim de otimizar o fluxo de materiais e/ou matérias-primas, desde a fonte de produção até o local de utilização ou distribuidor final, garantindo o suprimento na quantidade certa, de maneira adequada, assegurando sua integridade, a um custo razoável, no menor tempo possível, atendendo às necessidades e expectativas do cliente”.
Nesse contexto, a logística é um verdadeiro paradoxo, pois constitui, ao mesmo tempo, uma das atividades econômicas mais antigas, corresponde a um dos conceitos gerenciais mais modernos. Assim, na atualidade, a logística tornou-se uma ferramenta vital na definição de estratégias empresariais competitivas (um instrumento de gerência), reestruturando os procedimentos operacionais, de forma a capitalizar todos os esforços na conquista do cliente.
No setor florestal, a logística é a última etapa do processo, sendo responsável pela movimentação e o transporte da madeira dos locais de produção até os destinos onde ela será utilizada, por meio de diferentes modais (ferroviário, aquaviário, dutoviário, aeroviário ou rodoviário), ou ainda, a integração de mais de um deles. A escolha entre a utilização de um único modal ou a integração requer a análise da infraestrutura disponível, das distâncias de transporte, do tipo e do volume de carga a ser transportada, dos custos de transporte, entre outros fatores.
Embora esteja longe de ser o único, o transporte é o elemento mais visível da cadeia de suprimento, portanto, qualquer que seja a estratégia adotada, a logística do transporte é o principal problema a solucionar, a fim de reduzir custos (sobretudo das imobilizações em estoque). O emprego da logística harmoniza as exigências entre oferta, demanda, produção e distribuição, pressupondo uma abordagem sistêmica na redução de custos.
Ainda que uma tarefa complexa, o gestor florestal deve procurar, sempre que possível, utilizar ferramentas gerenciais de apoio à decisão (técnicas de programação matemática, como programação linear, programação dinâmica, programação inteira, simulação e PERT/CPM), a fim de avaliar as diferentes alternativas e seus respectivos custos, optando por aquele sistema de transporte que melhor atenda aos objetivos da organização.
Um sistema de transporte inadequado encarece significativamente os custos de toda a cadeia e compromete a segurança de abastecimento, principalmente no Brasil, onde se tem, na maioria das vezes, uma infraestrutura de transporte deficitária e em condições precárias (por exemplo, para o transporte rodoviário, que representa em torno de 60% de toda a carga interna movimentada no País, aproximadamente 90% das estradas/rodovias não são pavimentadas e encontram-se em mal estado de conservação).
Além disso, o País apresenta outros gargalos e fatores desfavoráveis, como a alta carga tributária e de impostos; o preço elevado dos combustíveis, lubrificantes, peças de reposição e pneus; frota de veículos envelhecida, obsoleta e não apropriada às diversas situações de transporte da madeira; entre outros.
Assim, com o intuito de mitigar parte desses problemas, que a gestão logística com foco na otimização das operações de transporte por intermédio de técnicas matemáticas e ferramentas gerenciais modernas constitui etapa fundamental para aumentar a eficiência operacional, a produtividade dos veículos e a redução de custos, garantindo competitividade e lucratividade ao negócio florestal.
Entre os principais custos envolvidos na logística florestal, destacam-se: a colheita e o processamento da madeira, a retirada da mesma e estocagem nas margens das estradas ou pátios, transporte, custos administrativos e da não qualidade. Como parâmetros quantitativos que sustentam a eficácia da logística, se destacam o tempo e o custo, e, como parâmetro qualitativo, a qualidade.
Nesse contexto, visando aumentar a eficiência, reduzir custos e melhorar a qualidade, há algum tempo, a quase totalidade das empresas florestais vêm optando pela terceirização do transporte da madeira, entregando à transportadoras especializadas a condução de seus procedimentos logísticos, referentes às operações de movimentação dessa matéria-prima porta a porta (do campo ao local de sua utilização). Cabe salientar que qualquer iniciativa que gere resultados positivos quanto aos parâmetros anteriores é de suma importância, uma vez que o transporte representa grande percentual no custo de produção das empresas.
Seja utilizando frota própria ou terceirizada, o sucesso de um processo logístico de movimentação/transporte da madeira passa, necessariamente, pela adoção de melhorias contínuas, gestão eficiente e inovações tecnológicas (como novas configurações de veículos e composições, computador de bordo, GPS, softwares diversos, entre outras), englobando, ainda, a qualificação profissional, um programa de manutenção eficiente, o planejamento e o monitoramento/controle adequado de toda a cadeia por intermédio de técnicas, métodos, indicadores e ferramentas de gestão (Seis Sigma, Lean Manufacturing, Green Belts, Balanced Scorecard, Balanced Sourcing, KPIs, Shared Value, etc.).
Dada a sua importância como atividade empresarial, a adoção, a medição e o controle de indicadores logísticos (KPIs como custo de transporte, custo de estoque, cumprimento de prazos de entrega, produtividade na carga e descarga, custo com não conformidade, etc.) têm encontrado enorme aplicação entre usuários de diversos níveis, desde os auxiliares operacionais e administrativos, passando pelos conferentes de carga, até supervisores, gerentes e diretores.
Resumindo, a escolha da melhor alternativa logística no suprimento de madeira depende da análise e da consideração de diversos fatores que devem estar alinhados com cada modelo de negócio florestal, englobando principalmente o planejamento adequado das operações, a definição do modal ou modais a serem utilizados, a análise e o controle de custos, a incorporação de inovações tecnológicas e a gestão eficiente (adoção de técnicas e ferramentas de otimização, o monitoramento e o controle de toda a cadeia logística).