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Silvio Frosini de Barros Ferraz

Professor de Manejo de Bacias Hidrográficas da Esalq-USP

Op-CP-19

A busca da sustentabilidade

O setor florestal ganhou impulso no Brasil a partir da lei dos incentivos fiscais de 1966, quando surgiram as principais áreas de plantios florestais que persistem até hoje. Uma das peculiaridades do setor é que seu florescimento, devido à referida lei, ocorreu logo após a promulgação da atual versão do Código Florestal em 1965, fazendo com que os plantios florestais fossem regulados pela lei ambiental desde o seu nascimento, o que os diferenciou de outras culturas agrícolas.

A sua existência recente, quando comparada aos demais setores agrícolas brasileiros, e sua implantação, sempre regulada pelas obrigações impostas pela legislação ambiental, talvez explique, juntamente com outros fatores, como certificação, mercado externo e a visão dos profissionais pioneiros no setor, os altos investimentos realizados pelo setor na área ambiental.

Esses investimentos resultaram na instalação de Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal para atendimento à legislação, e o setor florestal, impulsionado pelas pesquisas realizadas, foi mais além, com o monitoramento ambiental, melhoramento genético, cultivo mínimo, planejamento ambiental apoiado em sistemas de informações geográficas, manejo integrado de pragas, entre outras técnicas que aperfeiçoaram o manejo florestal, tornando-o mais eficiente e de menor impacto ambiental.

Embora ainda seja controverso calcular seu retorno econômico, é consenso que os investimentos realizados foram positivos e auxiliaram no aumento da produtividade, reduziram efeitos adversos ao meio ambiente, permitiram melhor conservação do patrimônio florestal, reduziram conflitos com a comunidade, além de iniciarem o processo de busca de um manejo florestal mais sustentável.

Observando-se o manejo realizado em outros setores agrícolas, tradicionais ou não, nota-se que mesmo importantes indústrias do agronegócio brasileiro estão muito aquém do nível de investimento ambiental já alcançado pelo setor florestal, o que pode ser motivo de orgulho para os que nele atuam. Esse fato, entretanto, comumente traz aos técnicos florestais a falsa sensação de que o setor já atingiu um bom patamar e que este pode ser mantido sem a necessidade de novos investimentos.

Essa perspectiva muitas vezes se explica pela dificuldade de se enxergar novos horizontes, além do cumprimento da legislação e das exigências da certificação, que poderiam trazer benefícios futuros. Desse modo, existe uma dificuldade natural de justificar novos investimentos em áreas como manejo da paisagem, gestão e uso racional da água, redução de impactos das operações florestais, investimento em fomento florestal, sistemas agroflorestais, melhoria do planejamento de estradas, redução do uso de agrotóxicos e conservação da biodiversidade presente no mosaico florestal.

Cabe aqui, então, como forma de reflexão, ressaltar a necessidade da visão estratégica do futuro pelos novos profissionais que seja capaz de manter as conquistas já alcançadas pelos pioneiros. Desse modo, algumas das perspectivas futuras da economia e da sociedade em geral podem ser mencionadas para justificar o aumento dos investimentos na área ambiental.

Dentre elas, destaca-se o aumento da competitividade internacional, ampliação das restrições socioambientais para importações, maior preocupação com o uso e o custo da água, pagamento de serviços ambientais, competição por novas áreas com a produção de alimentos e combustíveis, expansão do setor para áreas mais sensíveis, maior conscientização ambiental em todos os níveis, aumento da responsabilidade socioambiental do setor privado, entre outros.

Espera-se, portanto, que os investimentos ambientais da segunda geração de florestas plantadas estejam afinados com essas tendências mundiais, fazendo com que o setor continue à frente dos demais na questão ambiental, consolidando-se como um setor em busca da sustentabilidade. Entretanto somente investimentos não serão capazes de manter o setor nesse rumo.

Será necessária uma mudança de paradigma que envolverá também a necessidade de se enxergar o ambiente e sua conservação de forma mais integrada a todos os processos de produção florestal. Essa visão é esperada nos novos profissionais, e essas mudanças poderão, por exemplo, determinar a extinção do setor de ambiência dos empreendimentos florestais e sua incorporação em todas as etapas do manejo florestal, da produção da muda à exploração.  

Além disso, pode-se prever ainda a criação de um novo setor de serviços socioambientais, não mais preocupado com a gestão dos impactos, mas concentrando esforços em atividades como manutenção da biodiversidade natural presente nos mosaicos florestais, conservação da água para a vizinhança local e interação com as comunidades locais, seja pela oferta de oportunidades de produção, de uso múltiplo dos plantios florestais, ou mesmo investimentos em educação.