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José Luciano Duarte Penido

Presidente do Conselho de Administração da Fibria

Op-CP-17

Vivenciaremos um período de mudanças e ajustes globais
Colaboração: João Iijima, Patrimônio Imobiliário da Fibria


Para o setor florestal brasileiro, a crise infelizmente não acabou, uma vez que seus efeitos negativos permanecem bastante perceptíveis no mercado internacional de capitais, das commodities e dos produtos em geral. Grandes economias mundiais, principais consumidoras de produtos da madeira de florestas plantadas, continuam a agir com ações fortes, para retomar o crescimento e a normalização de suas economias.

Contudo, não conseguiram erradicar as incertezas do futuro próximo e de como lidarão com os efeitos colaterais das ações tomadas - principalmente pela injeção de imensos valores em programas de suporte e socorro aos seus sistemas financeiros e às organizações. Essas dificuldades, contudo, não são uma novidade para o nosso setor.


A despeito das diversas crises vividas nas últimas décadas, o crescimento e a melhoria da base florestal brasileira, entre outros fatores, permitiram que a produção total de celulose no país, partindo de aproximadamente 200 mil toneladas anuais na década de 50, atingisse, em 2008, a notável marca de 12.697 mil toneladas.

Esse volume levou o Brasil de importador à quarta posição entre os maiores produtores mundiais de celulose, permitindo a adição de um superávit comercial de US$ 3,6 bilhões à balança comercial do país, ajudando a nação a passar por esse período de crise. Nesse contexto, a avaliação de alguns dos fatores que permitiram esse desempenho até nossos dias, apesar de não garantirem o sucesso futuro, podem ser indicativos de caminhos a serem mantidos e/ou incrementados, na busca da perenidade e do desenvolvimento da produção florestal brasileira.

• Parcerias: Olhando para o passado, notadamente nas décadas de 70 e 80, o setor florestal nunca poderá deixar de reconhecer a fundamental participação dos incentivos públicos que garantiram a formação e o desenvolvimento inicial da base florestal e das indústrias relacionadas a ela.

No campo da pesquisa, o trabalho das universidades e instituições de P&D garantiram grande parte do desempenho florestal obtido, graças às melhorias nos campos da genética, do manejo e da nutrição florestal. Mais recentemente, em função do aumento da importância dos programas de fomento florestal, a busca do aprimoramento e consolidação dos denominados sistemas agroflorestais, que conjugam biodiversidade funcional às espécies florestais no sistema de produção dos produtores familiares principalmente, apresenta-se como outro caso exemplar de parceria com as instituições públicas de pesquisa e notadamente com as de extensão rural.

Esse formato de produção permite incorporar equilíbrio ecológico ao meio ambiente, sem deixar de atender às demandas de retorno econômico, respeito aos hábitos e costumes desses produtores e suas comunidades. O exemplo da Poupança Florestal, desenvolvido pela Fibria no Rio Grande do Sul, reforça a importância da parceria com o poder público, produtores e comunidades locais.

• Certificações: A opção pela adesão aos programas nacionais e internacionais de certificação florestal tem sido uma característica marcante do setor.

Em 2008, o país possuía aproximadamente 1 milhão de hectares de florestas certificadas pelo Cerflor e 5,2 milhões de hectares certificadas pelo FSC. Nesse sentido, alguns fatores podem ser listados como indutores dessa adesão, além do viés comercial relacionado a esse processo. Entre eles, cabe destacar o forte alinhamento das certificações com os esforços das empresas desse setor para desenvolvimento de suas estruturas e padrões de governança corporativa, segundo seus princípios de transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade social corporativa.

Outro fator é a convicção que move as pessoas e as empresas desse setor, nos princípios que baseiam os processos da certificação: respeito ao meio ambiente, por suas importantes funções de manutenção da biodiversidade, dos ciclos hidrológicos e influência no clima; reconhecimento da importância da geração de retornos econômicos, e da relevância das questões socioculturais nos processos decisórios do bom manejo florestal.

Além dos exemplos apresentados, outros poderiam ser citados como importantes para o desenvolvimento e adequação do setor para sobreviver às tormentas que vivemos, como os investimentos em P&D, planejamento, sistemas de gestão, TI, etc. Sobre o futuro, parece-nos que o cenário do pós-crise não deverá ser simplesmente um retorno à situação anterior. Vivenciaremos um período de mudanças e ajustes globais, em que novas dificuldades e oportunidades aparecerão em nosso caminho. Caberá buscar o equilíbrio entre a solidez de nossa história, a agilidade e a capacidade de adaptação às mudanças que essa crise vai impor à sociedade.