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Evaristo Eduardo de Miranda

Assessor da Presidência da Embrapa

AsCP22

A sustentabilidade se tornou insustentável?
Bereshit. No princípio, a sustentabilidade ambiental surgiu como exigência de grupos de pressão, organizações não governamentais e personalidades. Progressivamente, ela foi assumida pela academia, governos e instituições internacionais. Atores econômicos e empresas passaram a se comprometer com o tema. A indústria cultural aderiu totalmente. Até as religiões e o Papa. Por décadas. E, ainda assim, uma pergunta persegue a todos sobre a sustentabilidade ambiental neste Ano da Graça de 2022: como fazer isso dar certo?
 
Após mais de 30 anos de uso e abuso, o termo sustentabilidade ambiental está em crise. Exemplos recentes: com o conflito militar na Ucrânia, a Europa descobriu que o termo ESG (Environmental, Social e Governance) talvez tenha outro significado (Europa Sem Gás). Governos se voltaram ao consumo mais intensivo do carvão mineral, outro combustível fóssil, ainda mais poluente. E enterraram a redução de emissões de gases de efeito estufa, sem qualquer manifestação histriônica de Greta Thunberg e amigos.

As emissões de CO2 também cresceram de forma assustadora, especificamente, no Japão e na Alemanha, após o abandono das centrais nucleares, sob demanda e exigência do ambientalismo e partidos verdes. Cresceram as emissões e não as queixas verdes. Diante da falta de alimentos, os EUA anteciparam as autorizações para os agricultores cultivarem áreas destinadas a reservas ambientais. Imagine o Brasil autorizando o uso parcial das reservas legais para plantio de alimentos. A China anuncia claramente: ampliará as emissões de GEE até 2030. Depois, irá diminuí-las. E recebe aplausos. Assim, as crises econômicas, a geopolítica e os fracassos sucessivos das conferências de Copenhague, da Rio (+20), de Doha, o aumento das emissões..., enfim, a implacável realidade, em sua materialidade histórica, desgastou o termo sustentabilidade ambiental.
 
A sustentabilidade, reduzida ou focada unicamente na dimensão ambiental, muito ligada aos problemas do final do século passado e do início deste, parece historicamente ultrapassada. Ainda mais em face do uso abusivo do termo sustentável. Esse adjetivo foi associado a todo tipo de atividade e ação humana nas últimas décadas: turismo sustentável, compras sustentáveis, mineração sustentável, agricultura sustentável, energia sustentável, comportamentos sustentáveis, banheiros sustentáveis...
 
Dadas as ambiguidades da expressão “sustentabilidade ambiental”, ela foi manipulada amplamente em operações de greenwashing, ecolavagem ou oportunismo pragmático por empresas no mercado de consumo e, sobretudo, por instituições financeiras. Muitas organizações situadas na ponta da linha das cadeias produtivas do agronegócio, na parte dos produtos finais e de suas aplicações, assumiram compromissos e agendas ambientais impensáveis. E transferiram o ônus de suas decisões aos produtores rurais, que estavam e seguem na base da cadeia produtiva. A soja e a carne bovina são, talvez, os mais emblemáticos nesse sentido. Vive-se uma tensão permanente entre as organizações de produtores, os vitimados, e as do setor industrial e de exportação, assumindo compromissos ambientais em seu nome. Em quase todos os setores produtivos, empresas aliaram-se e sustentaram organizações e conselheiros em sustentabilidade: especialistas em planejar o que não executam e depois avaliarem o que não fizeram.

Em poucos anos, o conceito de sustentabilidade, antes presente em todos debates, reuniões, projetos, programas, ações na bolsa e conferências internacionais, desgastado, foi sendo trocado por outro fluxo semântico. Noções mais concretas tentam se impor, como para qualificar a sustentabilidade: economia de baixo carbono, pegada ecológica, ciclo de vida, ESG, resiliência, transição ecológica e energética, mercado de carbono, agricultura carbono net zero, carros híbridos e elétricos, economia circular, etc.
 
A experiência dos países ricos e subdesenvolvidos, com avaliações negativas dos resultados práticos e efetivos da sustentabilidade ambiental no desenvolvimento, mostrou o quanto tudo isso dependia da conjuntura econômica. As sociedades ditas socialistas foram os maiores desastres em sustentabilidade ambiental. No campo capitalista, com a redução da ação pública na gestão efetiva do desenvolvimento econômico, as empresas foram colocadas no centro dos desafios e das cobranças.
 
Nas empresas, as três dimensões da sustentabilidade (econômica, social e ambiental) parecem convergir e reforçar a dinâmica da normatização sobre o tema da sustentabilidade ambiental como algo equivalente a uma técnica de gestão de risco, orientada principalmente ao risco ambiental. As empresas no mundo urbano e rural empenham-se em assumir esse tema e toda sua nova semântica dentro de uma lógica estratégica própria a todas: garantir lucros e seu próprio futuro no longo prazo. 

Voilà. C’est tout.