O conhecimento técnico referente à produção vegetal evoluiu de forma expressiva nas últimas décadas. Inicialmente, esse avanço foi impulsionado pelo entendimento sobre fertilidade do solo, especialmente entre as décadas de 1970 e 1990 quando o foco se concentrou na química do solo e no fornecimento adequado de nutrientes.
O manejo da fertilidade — com correção da acidez, aplicação de fertilizantes minerais, adubações equilibradas de macro e micronutrientes e controle de deficiências nutricionais — permitiu elevar os rendimentos e consolidar sistemas produtivos mais eficientes. Esse enfoque, aliado ao uso de materiais genéticos adaptados, adubação de base e complementar, além de monitoramentos nutricionais rigorosos, permitiu consolidar povoamentos florestais mais produtivos.
Já entre os anos 1990 e 2000, ganhou força a compreensão de que, além da nutrição, era fundamental manejar a física do solo. Dessa forma, entendeu-se que a estrutura, a porosidade, a infiltração, a densidade e a condutividade hidráulica são determinantes para o estabelecimento radicular, onde solos compactados, mal estruturados ou com baixa capacidade de retenção de água prejudicam o desenvolvimento das raízes e limitam o potencial produtivo. Em regiões com solos arenosos, como parte do estado do Mato Grosso do Sul, esses aspectos tornam-se ainda mais críticos: baixa capacidade de retenção hídrica, alta percolação e reduzida capacidade tampão exigem estratégias específicas para garantir bom enraizamento e sobrevivência das mudas.
Atualmente, a “nova fronteira” do conhecimento técnico-científico reside na biologia do solo, ou seja, no papel dos organismos vivos – microrganismos, fungos micorrízicos, bactérias promotoras de crescimento, ciclagem de nutrientes orgânicos, microbioma radicular e bioinsumos – no estabelecimento, crescimento inicial e produtividade dos povoamentos florestais.
Reconhecendo que não basta apenas corrigir a nutrição ou garantir boa estrutura física do solo, é necessário também ativar e manter processos microbianos favoráveis ao enraizamento e ao crescimento. Em outras palavras, o solo deve ser visto não apenas como um meio abiótico bem manejado, mas um ecossistema biológico funcional. Essa mudança de paradigma abre oportunidades para o uso de bioinsumos — produtos biológicos ou baseados em organismos vivos — visando estimular o enraizamento das mudas, acelerar o estabelecimento da floresta, melhorar a eficiência no uso de água e nutrientes e reduzir o risco de falhas iniciais.
No âmbito agrícola e silvicultural, o uso de bioinsumos ainda é baixo quando comparado a outros produtos do segmento de fertilizantes. Entretanto, o crescimento tem sido significativo nos últimos anos.
O sucesso de um povoamento florestal produtivo depende de uma série de fatores, dentre eles garantir a densidade recomendada de plantas por hectare assegurando os recursos necessários para o desenvolvimento dos povoamentos e de que eles apresentem uniformidade entre si. Para isso, é essencial assegurar o estabelecimento inicial das mudas em campo, evitando altas taxas de mortalidade e reduzindo replantios tardios. No contexto do Mato Grosso do Sul — região com solos arenosos, baixa retenção hídrica, altas temperaturas (que podem alcançar 65 °C na superfície do solo) e frequente estresse hídrico —, esse desafio é ainda maior.
Diante disso, o estímulo biológico ao enraizamento assume papel de grande destaque. Sistemas radiculares mais estruturados e ramificados podem auxiliar na captação da água disponível e na exploração eficiente do perfil do solo. Além disso, em condições de solos arenosos e com maiores temperaturas, o estímulo promovido por microrganismos adaptados pode favorecer maior atividade biológica, conferindo maior resistência ao estresse e acelerando o estabelecimento inicial.
No que se refere especificamente ao enraizamento, os principais agentes biológicos que têm-se mostrado promissores na formação do sistema radicular de mudas incluem:
(1) bactérias promotoras de crescimento vegetal, destacando-se o grupo Bacillus spp.;
(2) fungos micorrízicos, arbusculares ou ectomicorrízicos;
(3) bioestimulantes (extratos de microrganismos, algas, ácidos húmicos e fúlvicos); e
(4) inoculações de microrganismos específicos adaptados ao solo ou à cultura. A ilustração em destaque apresenta um exemplo de campo, avaliado com aproximadamente 60 dias após o plantio, no qual se observa um ganho aproximado de duas vezes no peso do sistema radicular nos tratamentos B e C, com aplicação de bioinsumos (Bacillus spp.), em comparação ao tratamento A, sem bioinsumos:
Apesar dos avanços e do evidente potencial dos bioinsumos voltados ao enraizamento, ainda existem desafios para que essa tecnologia seja amplamente adotada e eficaz na cultura do eucalipto, especialmente em condições tão adversas quanto as do Mato Grosso do Sul.
O primeiro desafio diz respeito à adaptação dos microrganismos ao solo e ao clima local: solos arenosos, altas temperaturas, déficit hídrico e baixa matéria orgânica podem restringir a sobrevivência e a eficiência dos inoculantes. Microrganismos desenvolvidos em outras regiões podem não apresentar o mesmo desempenho quando aplicados nessa localidade.
O segundo desafio refere-se à uniformidade dos resultados, visto que diferentes materiais genéticos podem responder de maneira distinta aos mesmos organismos. O terceiro envolve a definição do melhor manejo — época e forma de aplicação, doses e combinação ideal de organismos — para garantir repetitividade dos resultados ao longo dos anos de plantio. Por fim, há a necessidade de equalizar custo e acesso: embora o mercado de bioinsumos esteja em expansão, ainda existem lacunas para que as empresas disponibilizem produtos competitivos e adequados às necessidades do setor florestal.
Em síntese, o uso de bioinsumos para estimular o enraizamento em eucalipto representa uma fronteira promissora — sobretudo em cenários críticos, como solos arenosos, déficit hídrico, altas temperaturas e precipitações concentradas. Logo, ao adotar tais tecnologias, o produtor deve avaliar cuidadosamente a compatibilidade do agente biológico com as condições locais, associar o uso de inoculantes a boas práticas de manejo tanto em campo quanto no viveiro e realizar experimentos-piloto em sua região. Dessa forma, poderá beneficiar-se da integração entre fertilidade, física e biologia do solo, estabelecendo povoamentos florestais de eucalipto mais vigorosos, com maior sobrevivência, uniformidade, resistência ao estresse e elevado potencial produtivo.
CRESCIMENTO RADICULAR INICIAL EM VIRTUDE DO USO DE BIOINSUMOS
