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Mário Sant’Anna Junior

Diretor Executivo da Gerdau Florestal

Op-CP-29

A produção do carvão

A utilização de carvão vegetal como fonte de energia é conhecida pela humanidade com registros que remontam a 6.000 a.C. Na siderurgia, foi usado intensivamente na Europa, a partir do século XV, até a exaustão das florestas, levando ao desenvolvimento do coque produzido a partir de carvões minerais.

As breves menções históricas mostram que o direcionamento energético a base de coque contribuiu decisivamente para seu desenvolvimento tecnológico; por outro lado, houve uma estagnação na rota a carvão vegetal, fato que perdura até nossos dias.

O uso do carvão vegetal do Brasil para a produção de ferro começou na primeira metade do século XVIII, em Minas Gerais. A ampliação e o domínio dessa alternativa energética tornaram o Brasil líder mundial na produção e uso de carvão vegetal para fins industriais, parte explicada pela disponibilidade de minério de ferro de qualidade, pelas características inadequadas do carvão mineral nacional e pela capacidade nacional de produção de biomassa florestal.

Marcado por ciclos econômicos, o setor experimentou hiatos de desenvolvimento ao longo das últimas décadas. O carvão vegetal ganhou impulso no âmbito do governo e de empresas siderúrgicas com os investimentos em pesquisas florestais – notadamente Eucalyptus – e tecnologias de carbonização nas décadas de 1970-1980.

A estratégia visava à modernização da produção para substituir a importação do carvão mineral, encarecido pelo choque das crises do petróleo. O processo de desenvolvimento tecnológico dentro das universidades, das empresas e dos órgãos de fomento sofreu severo sobressalto na década de 90, retomando, ainda de maneira tímida, na metade da década passada.

As perspectivas do quadro mundial, paralelas às medidas para superação econômicas, acenam para a busca de fontes de energia e propostas para construção de novos modelos de desenvolvimento, com eixos na sustentabilidade, na competitividade, além do comprometimento eficaz com as questões sociais. Como em outros segmentos da cadeia de produtos florestais, o carvão vegetal é competitivo, embora inserido  numa matriz complexa de alternativas de insumos e matérias-primas.

A indústria do aço brasileira ocupa importante posição mundial, caracterizada por empresas socialmente responsáveis, com parques industriais competitivos e sustentáveis. Temos tecnologia capaz de atender às necessidades de aumento de produtividade florestal e qualidade, contudo existe claro gargalo no processamento para carvão vegetal.

A carbonização da madeira tem espaços importantes para inovação e aumento de eficiência; com honrosas exceções, expressiva parte da produção brasileira remete a técnicas usadas há séculos.

O setor necessita aperfeiçoar tecnologias de carbonização para aumento da produtividade, recuperação de subproduto, aproveitamento do gás gerado no processo para geração de energia, além da mitigação de gases de efeito estufa. O desenvolvimento de processos contínuos para grandes produções é economicamente viável e experimenta ainda uma enorme distância para realizar-se.

O setor e o País necessitam de um salto tecnológico na produção de carvão vegetal. Há sinais claros e positivos, dentro do governo brasileiro, da necessidade de implantação de políticas consistentes para o desenvolvimento do setor. Sente-se a ausência de políticas de fomento adequadas à formação de novos estoques de florestas plantadas para suprir o déficit de madeira corrente, bem como incentivos para a industrialização da carbonização.

Segundo especialistas, o custo da energia no mundo tende a ser crescente, o que torna esse combustível sólido renovável atraente a médio e longo prazo. Iniciativas ainda tímidas em agregar bons atributos, como operou o setor de álcool, agora etanol, podem vincular as atividades conduzidas com responsabilidade e consolidar-se com diferencial na arena  internacional.

Faltam, hoje, profissionais, pesquisadores e especialistas que possam atender ao premente avanço. A falta de atratividade, em parte, deve-se a uma imagem distorcida do setor, fruto de desvios notadamente sociais, mas não pode ser tratada de forma generalizada e não representa o setor.

Jovens pesquisadores, institutos de fomento à pesquisa e desenvolvimento não se sentirão atraídos em um ambiente que não se mostra sustentável. Ousamos dizer que o delineamento da fronteira tecnológica do carvão vegetal ou  biorredutor estará ligado  ao apoio da sociedade  e parte interessadas no apoio ao desenvolvimento dessa rota.