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Caio Eduardo Zanardo

Diretor Florestal da Fibria

Op-CP-48

Processo, tecnologia e pessoas
Quando falamos sobre a relação de trabalho no setor florestal, devemos refletir sobre as principais tendências da indústria. Precisamos ter uma ampla visão da cadeia florestal para que possamos desenvolver estratégias visando à busca pelo bem comum. Desse modo, vou abordar, neste artigo, as relações que percebo entre processo, tecnologia e pessoas. 
 
O aumento da floresta plantada é um mitigador para o desmatamento, através de plantações bem manejadas e nos locais adequados, que atuam na conservação da biodiversidade e contribuem para o crescimento econômico sustentável, gerando emprego e renda nas regiões de atuação.
 
A geração de emprego no meio florestal se caracteriza principalmente em duas formas: uma, através do desenvolvimento de cadeias produtivas ligadas ao negócio florestal, em que seu melhor exemplo é o fomento de produção florestal, com produtores autônomos, que atualmente respondem por 28% do abastecimento fabril na Fibria; outra, através da contratação de trabalhadores locais para desenvolver a base florestal e a cadeia econômica que a circunda. Nesse quesito é que temos uma grande alteração de perfil de demanda, disponibilidade e competências dos trabalhadores.
 
O nosso país é diferente de décadas passadas, a nossa demografia tem se alterado ao longo dos anos, a taxa de natalidade no Brasil reduziu de 6 filhos por mulher na década de 1960 para 1,8 em 2014. Segundo dados do IBGE, os jovens à procura do primeiro emprego são os mais propensos a migrarem para os centros urbanos, em busca de melhores oportunidades de emprego e renda. A dificuldade de encontrar o homem do campo em certas regiões do Brasil já é uma realidade. O modelo de trabalho do campo do passado não atrai mais as pessoas. Essa nova dinâmica deve ser levada em consideração nas estratégias das empresas e nas políticas públicas.
 
Diversos são os desafios encontrados no setor. No fim dos anos 1990, as empresas florestais perceberam a necessidade de padronizar as suas operações, que propiciaram a escalabilidade de produção com redução de custos, resultado do aumento de produtividade. Foi através do entendimento dos processos, bem como da adequação das melhores práticas, que conseguimos obter certificações importantes, como ISO 9000, ISO 14000, Cerflor e FSC. Tais certificações atestam que o manejo é sustentável e nos provocam a sermos cada vez melhores nas práticas hoje empregadas.
 
Esse movimento de melhoria contínua trouxe a busca por tecnologias inovadoras. Se pararmos para refletir, verificamos que os últimos 10 anos contribuíram, de forma significativa, para o desenvolvimento tecnológico florestal. A disponibilidade de tecnologia não é mais gargalo para o desenvolvimento do setor, mas se apresenta como excelente oportunidade.  
 
Tecnologias desenvolvidas para outros setores podem e devem ser utilizadas nos processos produtivos e de gestão das plantações florestais. Telemetria, sensoriamento remoto, automação, Big Data são exemplos de tecnologias que têm crescido a taxas exponenciais, sendo, cada vez mais, transversais aos setores, sem um fim específico e visando ao maior número de cadeias produtivas.   
 
Para que possamos garantir processos mais otimizados e que novas tecnologias sejam aplicadas, pessoas serão cada vez mais importantes no setor florestal. As ciências agrárias se diferenciam de outras pela necessidade de conectar conhecimentos distintos. O Brasil figura entre os países com maior desenvolvimento tecnológico nas ciências agrárias, porém não estamos conseguindo multiplicar esse conhecimento de maneira eficiente.  Temos, hoje, limitações nacionais na formação básica e profissional.
 
Melhorias nos níveis educacionais da população têm sido apontadas como importante fator para o desenvolvimento socioeconômico dos países, sendo também uma forma extremamente efetiva de diminuição das desigualdades sociais. O fortalecimento das escolas técnicas agrícolas deve ser uma das políticas públicas a serem melhoradas; ações integradas entre os diversos atores devem ser fomentadas, a fim de capturar as sinergias entres os setores público e privado.

Estamos num momento em que as pessoas aprendem em rede, e não podemos pensar que o modelo de aprendizado atual será o mesmo que ocorreu no passado, sendo necessário repensar as grades curriculares dos cursos técnicos e de graduação, visando à modernização dos cursos, trazendo o dinamismo dessa revolução tecnológica e as interações que ocorrem com setor produtivo, para dentro do aprendizado. 
 
A aproximação do setor privado junto à Academia deve ser estreitada, agilizando o desenvolvimento das pessoas e conectando-as aos reais problemas hoje enfrentados na cadeia produtiva. Muitos exemplos já ocorrem no Brasil; posso citar o caso de sucesso da integração da Fibria com o Senai em Três Lagoas-MS, o que, devido à expansão de nossa fábrica, geramos demanda de mão de obra qualificada na região e conseguimos, através dessa parceria, excelentes resultados na qualificação de operadores e mecânicos florestais, mas acreditamos que ainda temos espaço para desenvolver outras estratégias de qualificação. 
 
A automação dos processos é uma realidade, e, com ela, surgem novas competências de trabalho. Já utilizamos práticas de silvicultura de precisão, estaremos cada vez mais aptos para correlacionar o nosso manejo com as variáveis ambientais, de modo a continuarmos, cada vez mais, melhores no uso dos ativos ambientais.  
 
Outro ponto importante e tema de grande discussão no Brasil é a terceirização. No contexto de modernização tecnológica, a terceirização é uma alternativa para o desenvolvimento nacional, como já ocorre em outros países. O conceito pressupõe que empresas terceirizadas tenham alta performance e eficiência, pressupõe especialidade e, principalmente, agilidade na solução de problemas; desse modo, conseguem garantir uma rentabilidade ao empregador, sem que haja a precarização da mão de obra. Estamos no século XXI e, como dito anteriormente, estamos conectados com a sociedade, com certificações que atestam que estamos realizando nossas atividades dentro das melhores práticas. 
 
A regulamentação da terceirização e a modernização das leis trabalhistas serão um grande passo para que possamos garantir a expansão do mercado de trabalho e evitar qualquer possibilidade de precarização da mão de obra. Por fim, gostaria de destacar a pessoa do líder. Hoje, não é mais esperado que a liderança fundamente sua gestão em ordem e comando, uma liderança na qual o líder é o centro das atenções e que os colaboradores executem sem que suas opiniões sejam ouvidas. 
 
Necessitamos de líderes inspiradores, com visões cada vez mais colaborativas, que provoquem a discussão como forma de aceitar a diversidade de opiniões, que tenham visão do todo, garantindo que o valor está na troca de experiências e não na máxima eficiência individual; que busquem ações de integração, que saibam atuar em rede, pois dados e informações são abundantes e disponíveis a todos nos dias de hoje; um bom líder será aquele que obtiver o melhor resultado através dessa cooperação e conexão dos fatos. 
 
Teremos um novo dinamismo no setor florestal, e a gestão de pessoas será fundamental para que novos processos e novas tecnologias sejam implementados de maneira rápida e eficiente.