Ao longo de algumas experiências vividas no setor de florestas plantadas, sendo muitas delas envolvidas com a produção de celulose e outras na cadeia da siderurgia, posso afirmar que, independente do destino da madeira, atuar de forma inteligente e estratégica é fundamental para o bom desempenho das operações florestais.
De forma geral, para todo processo produtivo, a preparação inicial das atividades tem papel fundamental no sucesso da execução. A preparação pode se iniciar no mapeamento dos processos produtivos, na identificação das atividades críticas, nos seus indicadores de performance ou de controle, passando pela gestão de rotina e utilizando as melhores práticas de planejamento. Cada etapa deve ser estruturada de forma a sustentar e a orientar os processos produtivos.
Construir todas as etapas formais descritas acima leva tempo e demanda dedicação de pessoas que conheçam os anseios e as limitações na cadeia produtiva. Hoje em dia, o modelo clássico de preparação, aquele onde se empreende tempo demais na elaboração de documentos (procedimentos, instruções, etc.), quer sejam eles impressos ou eletrônicos, não é mais produtivo.
É preciso buscar formas mais ágeis de se atingir o mesmo objetivo, no entanto com o devido cuidado, para não sermos atraídos pelas armadilhas do novo mundo digital. Nesse contexto, algumas etapas importantes foram vencidas no processo de colheita e logística florestal. Na colheita, por exemplo, a interação das máquinas e dos operadores com o mundo digital, que, antes, era desejo, hoje, tornou-se uma realidade e tem se consolidado como uma fonte inesgotável de oportunidades.
Começando pela localização, em tempo real, das máquinas e passando pelos apontamentos eletrônicos, mapas digitais embarcados e leitura dos dados de telemetria. Esses são alguns exemplos, que trazem para os gestores uma grande oportunidade de elevar a competitividade nas operações.
A logística no Brasil ainda é um grande desafio para a cadeira produtiva. Existem desafios estruturais a serem vencidos, quer sejam pelas prefeituras, ou pelo governo federal, e, no transporte de madeira, não é diferente. Embora ainda concentrado em modal rodoviário, existem oportunidades imensas no setor florestal, que vão, desde a consolidação de rotas e modais, passando pela tecnologia embarcada nos equipamentos.
Utilizar, de forma adequada, a grande quantidade de dados gerados ou ofertados a partir dos exemplos citados acima se torna um desafio e também um mar aberto para diversas linhas de projetos. Sem querer parecer clichê, a geração de dados não tem grande valia se eles não se tornarem informações úteis ao processo.
Na Bracell, os conceitos mais atuais de ESG são as nossas diretrizes de relacionamento com o mundo e também a nossa estratégia de sustentabilidade do negócio. Contudo, para o viés operacional, temos uma segunda diretriz, baseada em um outro conjunto de letras, o QPC (Qualidade, Produtividade e Custo). Nessa visão, o custo é a consequência, sendo resultante de uma operação feita com qualidade, ou seja, sem desperdício ou retrabalho e tendo a produtividade como o principal direcionador do processo, gerando, assim, resultados acima do planejado.
Com a entrada da nova linha de produção, tivemos que buscar o que há de melhor em termos de equipamentos e sistemas, visando garantir o abastecimento fabril, desde a silvicultura até a movimentação de madeiras no pátio. Ter os melhores equipamentos é um passo importante, mas acreditamos, de fato, nas pessoas.
Para compor o time que passou a atuar com o aumento da demanda, além de contar com os colaboradores que já faziam parte da equipe, contratamos novos profissionais e, ao mesmo tempo, também estruturamos um projeto para a formação de profissionais inexperientes. Para a Bracell, gerar emprego e rendas nas comunidades onde atuamos é mais que um compromisso, é um valor da empresa, e essa formação de operadores (na colheita e no carregamento) e motoristas (especializados em caminhões com nove eixos) foi mais uma das contribuições das nossas operações às comunidades onde estamos inseridos.
Para atender à temática da inteligência na colheita e à estratégia da logística, operações que caminham lado a lado na missão de produzir e transportar madeira para o processo produtivo, optamos por estruturar uma central de controle que opera 24 horas por dia. A operacionalização dessa central proporciona tomada de decisão em tempo real, e também temos como cuidar da segurança das pessoas, pois, nos caminhões, contamos com câmeras para identificação de desvios, quer sejam comportamentais ou de fadiga.
Esse pioneirismo faz da Bracell a primeira empresa brasileira a ter uma central integrada de controles que se inicia no monitoramento de incêndios com o uso de câmeras, passa pela gestão das atividades de silvicultura, colheita, logística florestal, movimentação de celulose, operação de trens e operação portuária. Podemos dizer que estamos controlando, em tempo real, do plantio ao embarque do produto acabado no porto.
Este é o primeiro passo na era digital, o de ter dados e informações para o melhor controle operacional. Mas queremos ir além e buscar o que há de mais inovador no uso desses dados, elevando nosso patamar tecnológico para operação remota de equipamentos, operação autônoma de caminhões, uso de machine learning para predição de manutenção, uso de imagens para identificar oportunidades em treinamentos operacionais, entre outras inovações.
Sou entusiasta do que ainda se pode fazer com as muitas tecnologias já disponíveis para o uso no dia a dia das pessoas, mas que ainda não foram pensadas ou aplicadas no processo florestal. Falar em Era Digital no setor florestal talvez ainda seja precoce, mas com certeza temos um mundo de oportunidades com a digitalização e a automação dos processos. E, para seguir nessa jornada, é fundamental contarmos com boas parcerias, pois muitas tecnologias ainda precisarão ser desenvolvidas. A troca de experiências e aprendizados entre setores distintos pode ser o grande diferencial, fazendo com que algumas pedras no caminho sejam evitadas.