A colheita florestal é definida, segundo Machado (2004), como um conjunto de operações que visa preparar e extrair a madeira até o local de transporte, através de técnicas e padrões definidos, que levam em consideração fatores como:
a) a floresta e seu ambiente: espécie, declividade, volume individual, condições de solo e clima, destinação econômica;
b) a tecnologia empregada;
c) a mão de obra: capacitação e aperfeiçoamento; o suporte administrativo, logístico, operacional e de áreas de apoio estratégico.
O planejamento de uma colheita florestal tem o objetivo de determinar a melhor forma de alocar os recursos frente às oportunidades e desafios, através do aumento da produtividade, da redução de custos, das melhorias de qualidade, de padrões de segurança e que proporcione a rentabilidade desejável ao negócio.
Tudo isso é possível através da utilização de ferramentas e de modelos matemáticos, softwares de modelagem comparada, ferramentas operacionais e gerenciais, sistemas de informações geográficas, planilhas eletrônicas, banco de dados, simuladores, expertise técnica e gerencial, que desdobrem as decisões estratégicas em ações de médio e curto prazo.
Em se tratando de operações de colheita florestal, o microplanejamento exerce papel fundamental na obtenção das melhores performances operacionais, principalmente quando elaborado por equipe com visão multidisciplinar, baseado nos pilares da sustentabilidade: econômico, ambiental e social.
Afinal, em meio a importantes avanços tecnológicos, de gestão e em processos, o que efetivamente continua fazendo a diferença em termos de competitividade?
Uma importante pesquisa realizada na Universidade de Harvard avaliou cuidadosamente 200 práticas de gestão estabelecidas e empregadas por 160 empresas ao longo de 10 anos e revelou quais práticas de gestão são indispensáveis e realmente produzem resultados superiores para as empresas e os negócios.
Foram estudadas práticas amplas, como estratégia, inovação, processos empresariais, além de outras específicas, como feedback 360 graus e gestão da cadeia de suprimentos. Os pesquisadores Nitin Nohria, William Joyce e Bruce Roberson (Harvard Business Review, 2003) demonstraram que uma grande maioria das técnicas e ferramentas de gestão estudadas não tinham nenhuma relação causal direta com um desempenho superior das empresas.
Comprovou-se, nesse estudo, que o importante continua sendo o domínio a fundo do básico dos negócios, que aqui denominamos práticas primárias de gestão. Sem exceção, as empresas cujo desempenho foi superior, inclusive gerando maior retorno total aos acionistas, sobressaíram na aplicação do conceito de práticas primárias de gestão: estratégia, execução, cultura e estrutura, perfeitamente aplicáveis às operações florestais.
Estratégia focada e claramente anunciada:
A chave da excelência na estratégia ? não importa o que se faça e que abordagem se adote ? é definir com clareza tal estratégia e comunicá-la reiteradamente. Manter a clareza na estratégia significa defini-la com nitidez, comunicá-la com clareza e garantir que seja bem compreendida por funcionários, clientes e parceiros, numa clara proposição de valor para as operações e para o negócio.
Inclusive nos momentos de ajustes, com base em mudanças de mercado, novas tecnologias, tendência social, regulamentação governamental e até mesmo em mudança de estratégia.Tão importante quanto um excelente planejamento, apoiado por ferramentas diferenciadas e de alto padrão, necessário é manter o foco na estratégia e garantir que seja efetivamente anunciada e compreendida, em todos os níveis, inclusive os operacionais.
Execução operacional impecável:
Exatamente como na estratégia, tão importante quanto o que se executa é a forma como se executa. Isso implica uma atenção disciplinada às operações e aos seus detalhes. Lute constantemente para eliminar todo tipo de excesso, perdas e desperdício. Eleve a produtividade. Tenha foco na rotina da excelência. Aprimore os sistemas de gestão da qualidade e segurança ocupacional. Importante também atentar para o contínuo aperfeiçoamento técnico da mão de obra, principalmente operadores, mecânicos, técnicos e assistentes.
Estudos e técnicas de tempo e movimento demonstram que é possível melhorar significativamente os rendimentos operacionais através de um detalhado plano de desenvolvimento individual (PDI), que permita o contínuo aprimoramento técnico da equipe, frente às novas tecnologias disponíveis, condições da floresta e do ambiente. Desenvolva e mantenha impecável a execução operacional. A melhoria contínua deve ser um compromisso estratégico firmado em toda a organização.
Estrutura simplicada:
Simplifique e facilite o trabalho na sua organização e com a sua organização. Promova a cooperação e a troca de informações em toda a empresa (quebra de silos). Coloque seu melhor pessoal o mais perto possível da ação e estabeleça sistemas para uma troca contínua de conhecimento. Toda a organização precisa de procedimentos e protocolos para funcionar bem. No entanto os excessos burocráticos devem ser evitados. Simplifique ao máximo as estruturas e os processos. Trabalhe no empoderamento de todos os níveis, inclusive os operacionais.
Desenvolva e mantenha uma cultura voltada para o desempenho:
Promova um ambiente que valorize o alto desempenho e o comportamento ético, que estimule marcantes contribuições individuais e de equipe. Tão importante quanto tornar o trabalho prazeroso, é manter elevadas as expectativas de desempenho. Inspire os colaboradores e parceiros a darem o melhor de si. Dê poder aos funcionários para que eles tomem decisões independentes e encontrem meios de melhorar as operações.
Além das recompensas financeiras, não descuide das psicológicas. Crie um ambiente de trabalho desafiador e satisfatório. Estabeleça valores claros na empresa e mantenha-se fiel a eles. Como podemos observar, apesar dos importantes e necessários avanços tecnológicos, que permitem a escolha dos melhores sistemas de colheita, a aplicação das melhores técnicas e a ampla quantidade de ferramentas e aplicativos de planejamento e controle operacional disponíveis, a aplicação do saber administrativo convencional, cientificamente testado e validado, ainda é um importante diferencial competitivo.
Tais práticas básicas de gestão, como estratégia focada e claramente anunciada, execução operacional impecável, cultura da recompensa e estrutura simplificada, são perfeitamente aplicáveis às operações florestais. Obviamente, a perícia nessas áreas deve sempre ser complementada com o domínio de outras práticas de gestão de reconhecida importância, como liderança, inovação, atração e retenção de talentos, dentre tantas outras. O diferencial competitivo não consiste apenas no que está se executando, mas principalmente na forma como a estratégia do negócio está sendo conduzida.