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Gilmar Bertoloti

Diretor de Operações da Amata

Op-CP-27

Ousadia de inovar

Nas últimas três décadas, pude acompanhar o grande salto no desenvolvimento do setor florestal do Brasil. O fato de o País ter um grande potencial para produzir florestas de rápido crescimento, principalmente de eucalipto e pinus, fez com que houvesse uma busca intensa por novas tecnologias.

Foi essa atitude que alçou o Brasil à atual condição de maior exportador de celulose de fibra curta do mundo e detentor das maiores taxas mundiais de produtividade florestal.

Como iniciante na área de P&D, participei desse processo ao lado de outros pesquisadores, acompanhando a implementação dessas tecnologias na área de manejo de florestas plantadas com eucalipto e pinus, e, mais tarde, como profissional de grandes empresas florestais, colocando-as em prática no campo.

O caminho de quem trabalha com inovação não é fácil, pois, muitas vezes, ele esbarra na desconfiança dos profissionais das empresas que utilizam uma tecnologia já estabelecida.

No entanto, com persistência e capacitação, consegue-se quebrar paradigmas. O fato é que o setor florestal mostrou-se capaz de assimilar as inovações com certa facilidade, apesar dos desafios representados pela introdução do novo, absorvendo e adaptando as tecnologias que permitiram ao Brasil dar um salto estratégico na qualidade e na produtividade  florestal.

Nos últimos 15 anos, quando se começou a implantar a certificação florestal em maior escala no País, a questão ambiental e de segurança passou a ocupar um espaço maior nas atividades de pesquisa e de campo.

Ela forçou os profissionais que trabalham com inovação a pensar em alternativas que melhorassem a segurança e a ergonomia dos operadores e, principalmente, a reduzir os impactos ambientais. Com isso, houve uma significativa melhoria no desempenho das empresas não apenas no aspecto econômico mas também no social e no ambiental.

A continuidade dessa postura é vital para o setor, em especial para as áreas de plantio de florestas nativas que visam à recuperação de áreas degradadas e de manejo florestal sustentável de impacto reduzido em florestas na Amazônia, em que houve um desenvolvimento tecnológico em ritmo menor.

Para que os avanços continuem, é importante, em primeiro lugar, que haja mais integração entre as escolas de engenharia florestal, as instituições de pesquisa e as empresas. Afinal, são estas que possuem os recursos financeiros que podem alavancar as pesquisas e que usam as tecnologias desenvolvidas. Na área de eucalipto e pinus, essa integração está mais consolidada, mas a área de florestas nativas ainda carece dela.

Também poderia haver maior integração entre os pesquisadores, para estimular o desenvolvimento de pesquisa básica e aplicada específica para as florestas nativas plantadas.

Entre as tecnologias que devem ocupar maior espaço no futuro, destacam-se a biotecnologia e a engenharia genética, que estão permitindo o desenvolvimento de novos produtos florestais em regiões pouco exploradas do Brasil, como as fronteiras no Norte e no Nordeste, e o desenvolvimento de tecnologias para o plantio de florestas multiuso, destinadas ao processo de celulose, siderurgia, energia e madeira sólida.

Outra área em expansão é a tecnologia derivada da agricultura de precisão, que possibilita o planejamento e a adoção de tecnologias diferentes nas fazendas em função do tipo de solo, espécies plantadas, sistemas de manejo, etc. Também cresce o uso de imagens de satélite para planejar as operações e acompanhar os índices de desmatamento e realizar inventários florestais.

Além disso, é importante o desenvolvimento de tecnologias sociais, para integrar as comunidades do entorno das operações e permitir que elas também usufruam das inovações no seu dia a dia.

Para que possamos implantar essas tecnologias e continuemos inovando, é crucial investir em capacitação profissional, tanto da mão de obra menos especializada quanto de operadores de equipamentos e gestores. Além disso, é importante trazer profissionais de outras áreas, como finanças, comunicação, suprimentos e recursos humanos, para os projetos florestais, visando a uma abordagem mais ampla dessas novas tecnologias.

Essa é uma carência que precisa ser tratada para que possamos manter a liderança mundial que conquistamos com grande empenho nas últimas décadas. E, mais que tudo, é fundamental continuar tendo a audácia para pensar coisas novas e executar as atividades de forma diferente do que sempre fizemos, seja para superar obstáculos, seja para melhorar o desempenho das empresas nas dimensões econômica, ambiental e social. A ousadia para mudar é o motor da inovação.