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Dagoberto Stein de Quadros

Professor de Economia Florestal da FURB

OpCP45

Os negócios florestais precisam de análises econômicas fidedignas
O Engenheiro Florestal Ingo Paulo Robl citou, em sua dissertação (Ppgef/CCT/Furb, Blumenau-SC), trecho da célebre carta de Américo Vespúcio (1504) sobre o Brasil, qual seja: “Nesta costa não encontramos nada que se possa aproveitar, salvo uma infinidade de árvores de tinturaria e de cássia (canafístula) e das que produzem a mirra/.../. E, havendo já bons dez meses que viajávamos vendo que na terra não achávamos minério algum, decidimos despedir-nos dela e metemo-nos ao mar para outra parte.”
 
Parece que, desde então, os “negócios florestais” se basearam, quase exclusivamente, em extrativismo. Foram 450 anos de exploração florestal. Passou-se por alguns ciclos: o do pau-brasil, o do pinho, o das “madeiras de lei” e ainda estamos no “ciclo das madeiras nobres do Norte”.

Somente nos anos 1960, com a escassez de algumas espécies e com o surgimento dos primeiros princípios “florestais”, tudo começa a mudar. Cria-se o primeiro Curso de Engenharia Florestal do Brasil, é promulgado o segundo Código Florestal (1965) e o Estado Brasileiro decide alavancar o reflorestamento, através dos incentivos fiscais. Surgem as primeiras abordagens do manejo florestal e o empenho em se iniciar a atividade de reflorestamento.

Nos anos que se seguem, aparecem, de maneira mais expressiva, os investimentos em reflorestamento, desta vez com recursos não estatais, porém realizados, quase exclusivamente, com o objetivo de atender a demandas específicas de alguns setores da economia.

Já nos anos 1990, cresce o investimento em reflorestamento realizado com recursos próprios e independentes de consumo próprio. Dessa vez, a atividade tem por objetivo auferir lucros e rendimentos promissores. Investimentos estes que, em muitos casos, foram impregnados de erros técnicos, que proporcionaram um aumento de oferta de madeira de baixa qualidade, causando um excesso de oferta, com consequente diminuição do valor dos produtos florestais. O “lançamento” do apagão florestal no Sul do Brasil é um exemplo que não deve ser seguido.
 
Estamos em plena transição; a história dos nossos últimos 50 anos demonstram isso, e temos que estabelecer uma nova história, portanto os profissionais da área tem a obrigação de tirar uma lição de tudo isso. Uma das lições mais evidentes é a de que temos que ter dados econômicos reais, tanto mercadológicos como de custos, de rentabilidade de investimento e até de definição de estratégias econômicas de longo prazo.
 
A economia florestal deve estabelecer métodos de análise do curto prazo, a partir das definições da tríade do custo direto e indireto, do custo fixo e variável e do custo desembolsável e não desembolsável. A definição do ponto de equilíbrio das empresas que atuam no “negócio florestal” também é imprescindível. A partir desses parâmetros básicos, pode-se seguir para a definição dos fluxos de caixa padrão e, aí sim, com assertividade, iniciarem-se as análises de longo prazo, ou seja, as análises de investimento do “negócio florestal”.
 
Métodos e normas não nos faltam e existem há muitas décadas; podem-se citar como grande exemplo as metodologias de Gheren e Faustmann, de 1849, e o Critério de Duerr, de 1956. Pode-se utilizar ainda o Valor Presente Líquido (VPL), a Taxa Interna de Retorno (TIR), o Valor Anual Uniforme Equivalente (VAUE), adaptações do Valuation e tantas outras metodologias.
 
Em termos de normas, a extinta NBR 8799 (1985), que já tratava da Avaliação de Propriedades Rurais, é um exemplo. A atual NBR 14.653-1 e 3 (2004) levou as análises a um patamar mais evoluído. A internacionalização da contabilidade brasileira, com a Lei 11.638 (2007) e suas consequentes normatizações, como a CPC 29 – que trata dos ativos biológicos –, também é um sinal de evolução.
 
Então, o que nos falta?
 
Nos falta conhecer os custos do “negócio florestal” de forma apropriada, para que, assim, possam-se fazer análises básicas e tomar decisões corretas. Os diversos tipos de lucro têm que ser apurados. Precisa-se conhecer os encargos e benefícios sociais no setor florestal de forma exata, a redução do INSS é um dos exemplos. Pode parecer engraçado, mas nos falta encarar a depreciação como um importante custo.
 
Temos deficiência no conhecimento dos impostos que incidem sobre os “negócios florestais”. Somos carentes na definição de metodologias de exaustão, o custo de oportunidade do capital sobre a silvicultura. O cálculo correto do custo de oportunidade da terra é fundamental. Na verdade, carece-se de sistemas integrados de contabilidade (ERPs) adaptados à atividade florestal.
 
Faltam-nos dados contábeis confiáveis, que devem ser corretamente lançados e analisados a partir de correções monetárias justas, que representem a inflação do “negócio florestal”. Temos que ter um índice próprio de correção monetária, a exemplo do Custo Unitário Básico (CUB) da construção civil. Quem sabe um dia chegue-se ao PBQP-H – Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat, no “negócio florestal”.
 
Temos uma lacuna na definição de procedimentos técnicos acurados para realizar a aquisição de propriedades produtivas, utilizando-se, no mínimo, o Grau de Utilização da Terra. Não se pode mais comprar terra, o “negócio florestal” tem que comprar solo. Carece-se de investimentos estrangeiros no Brasil, pois os recursos do Governo Federal estão escassos, e os recursos privados estão cautelosos com o setor florestal. Assim sendo, precisa-se de políticas que facilitem o uso da terra pelo capital internacional; necessita-se de segurança jurídica, em todos os aspectos.
 
Necessita-se de fluxos de caixa autênticos, estruturados a partir de conceituações corretas, para que, a partir deles, tenha-se condições de realizar verdadeiras análises de investimento do “negócio florestal”. Por incrível que pareça, em muitos casos, ainda temos que discernir o que é taxa de juro real e nominal.
 
Sem temor, pode-se concluir que nos falta seriedade na definição das análises econômicas, tanto nos orçamentos, nas avaliações de ativos florestais, quanto nas análises comparativas de balanços. Indiscutivelmente, precisa-se educar os profissionais do “negócio florestal” para trabalhar com números reais e não com números nominais.
 
Resumidamente, parece que nos falta cultura econômica no “negócio florestal”. Sem sombra de dúvida, necessita-se de ensino, de pesquisa e de extensão que consiga transformar essa realidade. As universidades têm papel importantíssimo na solução desse conjunto de problemas. Além disso, não podem mais formar somente empregados, as universidades têm a obrigação de formar empreendedores, que, por sua vez, serão os agentes de mudança.
 
O “negócio florestal” tem que atrair empreendedores legítimos e, consequentemente, competentes. Note-se que “legítimo” é o empreendedor que já assimilou os conhecimentos advindos das várias “ondas administrativas”, tais como: marketing, qualidade, planejamento estratégico, globalização, sustentabilidade e, até, a inovação...
 
Evidentemente que há grandes exemplos de “negócios florestais”, incluindo-se aqui alguns escritórios de engenharia florestal, de colegas recém-formados, até grandes empresas. Temos empresas fundamentadas em sólidas análises econômicas. No entanto temos uma missão: transformar TODOS os “NEGÓCIOS FLORESTAIS” em “NEGÓCIOS FLORESTAIS ECONOMICAMENTE VIÁVEIS”, no real sentido da palavra.