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Blairo Borges Maggi

Governador do Estado do Mato Grosso

Op-CP-15

O exemplo da indústria de celulose e papel e as oportunidades para o setor

O agronegócio brasileiro já demonstrou que com o auxílio da tecnologia pode aumentar a sua produtividade, sem expandir as áreas de plantio. Os números não mentem. Entre 1990 e 2007, houve um aumento de 140% na produção de grãos. No mesmo período, o tamanho da área plantada cresceu apenas 30%. Dados como este confirmam a importância do investimento e desenvolvimento de novas tecnologias para o setor.

No entanto, é evidente que o agronegócio ainda tem uma série de desafios pela frente. Um desses desafios é a verticalização da produção, que será determinante para o futuro do setor, e que já é uma realidade na indústria de papel e celulose brasileira. A importância da verticalização transcende o ganho de escala para o produtor e empresário.

Ela é essencial, também, para a sustentabilidade da cadeia produtiva e gera um ciclo virtuoso na economia. Hoje, a indústria brasileira de papel e celulose serve de exemplo para os demais atores do agronegócio. Ela foi pioneira na implementação de uma série de exigências ambientais, conseguiu agregar valor ao produto final e colocou o Brasil entre os seis maiores produtores mundiais de celulose e entre os dez maiores de papel.

A indústria de papel e celulose planta de maneira 100% sustentável, faz o corte da madeira, extrai o produto final e o exporta e vende no mercado interno. Esse ciclo precisa ser seguido nas demais áreas do agronegócio. O produtor de grãos deve considerar o investimento no processo de industrialização. O Instituto de Economia Agrícola Matogrossense - IMEA, produziu um estudo que aponta as vantagens da verticalização da produção para a sustentabilidade do negócio.

Um dos dados é surpreendente. A maior parte dos grãos produzidos no Mato Grosso é exportada. O transpor-te dos grãos das fazendas até os locais de embarque consome, anualmente, 570 milhões de litros de combustível, o que gera uma enorme emissão de CO2 na atmosfera. Segundo o estudo, se toda a produção de grãos fosse processada internamente, haveria uma redução de 270 milhões de litros de combustível no estado, gerando uma diminuição de 50% na emissão de CO2 e uma enorme economia para o produtor.

Um outro aspecto positivo para a indústria de papel e celulose nacional é uma nova forma de política para a preservação das florestas brasileiras, conhecida como pagamento por serviços ambientais.
Esses programas têm como objetivo gerar valor para a floresta, de forma que o proprietário de terra na Amazônia, por exemplo, seja compensado financeiramente por manter uma parcela considerável da sua propriedade em pé.

Isso requer uma série de ações paralelas para garantir a segurança jurídica do programa. A ideia é que grandes empresas poluidoras ao redor do mundo compensem suas emissões de CO2 no Brasil, principalmente na Amazônia brasileira. Hoje, o desmatamento é a principal fonte de emissão de gases no Brasil e também responde por 20% das emissões globais anualmente.

As florestas tropicais têm um papel fundamental na luta contra o aquecimento global, pois, segundo o IPCC da ONU, elas armazenam 50% a mais de carbono do que outras florestas, além, também, de retirar o carbono da atmosfera e transformá-lo em matéria orgânica. Por essas e outras razões, o governo brasileiro quer diminuir o ritmo do desmatamento em 70%, até 2017.

Para atingir esses objetivos, eu acredito que é necessário implantar ações pragmáticas, como o pagamento por serviços ambientais. Mato Grosso está em fase final de desenvolvimento de um projeto de pagamento por serviço ambiental na região noroeste do estado, onde o desmatamento é mais intenso. Ao invés de abrir novas áreas para plantar ou para alimentar o rebanho, o proprietário será estimulado a manter a floresta em pé.

O setor de celulose e papel pode ser um grande parceiro dos governos da Amazônia Legal, na busca por soluções para a floresta. A indústria pode, por exemplo, incentivar o manejo florestal sustentável na região. Hoje, segundo dados da Bracelpa - Associação Brasileira de Celulose e Papel, há apenas três indústrias do setor, instaladas na região norte do Brasil. As mudanças que estão sendo implementadas para promover o desenvolvimento sustentável na região, associadas à experiência e ao conhecimento do setor de celulose e papel, podem dar início a um novo ciclo de desenvolvimento nos estados que lutam para conter o desmatamento.