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Karina Carnielli Zamprogno Ferreira e Marcos Rafael Amâncio

Gerente de Pesquisa, Planejamento e EHS Florestal, e Coordenador de Melhoramento Genético, respectivamente, ambos da Sylvamo

OpCP76

Novos conceitos de produtividade florestal
É incontestável que o Brasil é protagonista entre os países produtores de celulose e papel, principalmente devido à produtividade de nossas florestas de eucalipto. Esse sucesso não vem apenas da aptidão climática do país, mas também de grandes investimentos em pesquisa pública e privada que possibilitaram atingir esse patamar.

No entanto, na última década, observamos uma estabilização na produtividade das florestas, acompanhando as alterações climáticas principalmente dos regimes hídricos, não somente uma redução, mas também uma piora na distribuição das chuvas, ora concentrada em poucos meses, ora escassa, porém, sempre integrada a altas temperaturas e consequente surgimento de novas pragas, beneficiadas por tais mudanças. 
 
Então, surgem os questionamentos: Chegamos ao limite de produtividade das nossas florestas de eucalipto no Brasil? Quais novas estratégias devem ser implementadas nos programas de melhoramento genético para mitigar os efeitos das mudanças climáticas? Por que ainda plantamos clones antigos? Como podemos aumentar a resiliência das nossas florestas frente às pragas e doenças emergentes?
 
Para responder a estas e outras dúvidas, vamos lançar mão da experiência e das novas ciências. A Sylvamo, com um dos programas pioneiros de melhoramento genético de eucalipto no Brasil, evoluiu seus objetivos significativamente ao longo de quase seis décadas. Inicialmente, o foco principal era o aumento da produtividade volumétrica. 

Aos poucos, conceitos de qualidade da madeira, tolerância ou resistência a pragas, doenças, déficit hídrico, sustentabilidade e resiliência foram encorpando o indicador de produtividade das nossas florestas, trazendo maior complexidade aos processos de seleção de novos materiais genéticos e seus respectivos ganhos. 

Nesse novo contexto, a produtividade não é mais medida pelo Incremento Médio Anual (IMA), mas pelo IMACel (tonelada de celulose seca ao ar por hectare por ano), que engloba os três principais fatores de seleção: o volume, a densidade básica e rendimento de celulose. 

O grande desafio do programa de melhoramento moderno das empresas do setor de celulose e papel é não apenas aumentar a quantidade de celulose produzida em uma mesma área, mas olhar também para a característica dessa polpa por material genético, obtendo ganhos significativos na floresta e indústria. 

Os impactos climáticos também influenciam na expressão dessas características de qualidade da madeira, além das já conhecidas influências no crescimento. Portanto, o estudo dessas interações com ambiente é de extrema importância. Com o avanço das tecnologias de sistemas de informações geográficas (SIG), aliado às bases de dados públicas abrangentes contendo informações climáticas históricas e atuais, além dos avanços computacionais, torna-se viável a utilização de ferramentas mais robustas. 

É nesse contexto que a Ambientômica surge como uma poderosa ferramenta no melhoramento genético. Adotando abordagem similar à Genômica, a Ambientômica tem foco no “ambientôma” – o conjunto de todos os fatores ambientais que determinam um local. Essa abordagem “ômica” possibilita a interpretação mais precisa da complexa relação de associação entre o genótipo e ambiente, permitindo o aumento na acurácia de seleção e até predição de novas cultivares em locais nunca antes testados. 

Essa análise mais ampla do conceito de produtividade traz uma forte participação da relação dos fatores ambientais nos limites genéticos das espécies e mede a capacidade das florestas de eucalipto em ajustar suas respostas fenotípicas em um sistema interligado solo-planta-atmosfera. 

Isso determina a sua “plasticidade”, ou capacidade fisiológica em responder positivamente às interferências do meio em que está inserida. Isso talvez explique, por exemplo, o porquê da reintrodução de clones antigos e menos produtivos volumetricamente nos plantios comerciais de grandes empresas, que reconhecem nesses clones outros comportamentos de adaptação ou plasticidade para se desenvolver em ambientes inconstantes, enquanto os novos clones estão em processo de descrição. 

Para diminuir a pressão sofrida pelos clones recém-lançados, é necessária uma mudança conceitual nos plantios comerciais tradicionais. 

Essa mudança envolve a adoção de novas práticas na seleção e recomendação operacional de clones, definindo um conjunto de clones, que, quando plantados juntos, demonstram maior produtividade e resiliência. Os chamados compostos clonais geralmente apresentam produtividades superiores em comparação aos plantios monoclonais, pois agregam maior diversidade genética nos talhões comerciais e, consequentemente, minimizam as perdas por fatores bióticos e abióticos.

Prever a produtividade futura nunca foi uma tarefa simples e tornou-se ainda mais desafiadora com a instabilidade e imprevisibilidade climática. Mais do que nunca, precisamos evoluir também na forma de mensurar nossa produtividade e reconhecer que minimizar perdas em ambientes complexos também pode ser considerado ganho. Essa mudança de chave na forma de pensar é essencial para continuidade do protagonismo do setor. 

A busca constante por materiais genéticos, a adoção de novas tecnologias e adaptação das práticas tradicionais de plantio são cruciais. Além disso, é necessário redefinir o conceito de ganho de produtividade, entender que em algumas situações a manutenção da produtividade é um avanço significativo, e que a minimização das perdas por problemas bióticos ou abióticos também representa um ganho importante. 

Ao olharmos por essa perspectiva, estaremos mais preparados para enfrentar os desafios futuros e assegurar a sustentabilidade do setor a longo prazo.