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Tasso Rezende de Azevedo

Diretor do Serviço Florestal Brasileiro do Ministério do Meio Ambiente

Op-CP-09

Megatendências: um olhar sobre os novos rumos

O Brasil é uma potência mundial quando se trata de cadeias produtivas diretamente associadas aos recursos naturais, como mineração, agricultura, energia e floresta. Esse último setor apresenta números expressivos: geração de empregos - 6,5 milhões, participação na balança comercial - 8,4% das exportações e 15% do superávit, e participação no PIB - 3,5%.

Mas, a despeito de ter a segunda maior área florestal do planeta, e de longe a maior biomassa produtiva, o país detém pouco mais de 4% do mercado mundial de produtos florestais – perde para a China com 4,5%, Rússia com 5%, Finlândia com 7%, Suécia com 8%, Alemanha com 9%, EUA com 9% e Canadá com 16%. Mas, os ventos estão mudando.

O Brasil passa pelo melhor período de investimentos no setor de base florestal de sua história. Papel e celulose, siderurgia, chapas, movelaria, óleos e diversas outras cadeias estão em expansão, atendendo aos mercados internos e externos - que não param de crescer. Um olhar sobre a situação mundial do setor revelará uma série de megatendências (plagiando John Naisbitt) - com inevitáveis reflexos no Brasil.


Megatendências Mundiais:

Clima: As mudanças climáticas afetarão nosso modo de agir e elevarão as florestas, igualmente, à condição de vítimas e vilãs do clima. Mas, podem ser a salvação também. São vilãs quando emitem CO2 na atmosfera – quando submetidas a processos de desmatamento. Mas, se tornam estratégicas, quando capturam o carbono de volta.

Nova geração: Os produtos reengenheirados, o biorefino e a bioenergia são a terceira geração dos produtos florestais. Até o século XIX, a exploração das florestas era limitada a dois produtos: a lenha e os produtos de madeira sólida. Durante o século XX, a fibra (celulose, MDF, etc.) foi introduzida e diversificou o cenário. No final dos anos 90, mais de 50% da madeira para uso industrial já era destinada a esta segunda geração.

Hoje, vivemos a terceira geração, com novos painéis reengenheirados, energia da celulose e biorefino, para obtenção de produtos da química da madeira. A velha e dura madeira, agora, é decomposta para obtenção de novos produtos essenciais ao mundo contemporâneo. O centro das atenções passa a ser o volume de biomassa – área em que o Brasil aparece com enorme vantagem competitiva.

Essa nova geração provocará um salto de demanda sobre todas as cadeias de produção de base florestal. Na Europa, o crescimento do consumo voltado para bioenergia já preocupa o setor de papel e celulose.

BRIC: Com a demanda por biomassa crescendo, os países com maior área e melhores condições aumentam sua produção.

Na China, atualmente, se plantam mais de 2,5 milhões de hectares por ano. Na Rússia, as autoridades desencadeiam processos produtivos em larga escala. No Brasil, o panorama também é animador: a produção anual de 130 milhões de m3 deverá dobrar, antes de 2020, ultrapassando o Canadá, um antigo gigante do setor.

Por outro lado, Índia, Brasil, China e Rússia, grupo conhecido como BRIC, têm enormes mercados internos, que não param de crescer. Juntos, compreendem mais de um terço da população mundial. No futuro próximo, ninguém produzirá ou consumirá mais produtos florestais do que eles.

Serviços prestados: No novo contexto, os serviços ambientais prestados pelas florestas, tornaram-se parte da contabilidade física e jurídica de empresas e também de governos. Esse cenário traz boas oportunidades para quem investir na conservação, plantio e uso sustentável das florestas, e penaliza os que traçarem rotas insustentáveis.

Em novas mãos: Durante centenas de anos, as florestas eram essencialmente estatais ou de domínio da coroa, em períodos monárquicos.

Durante o século XX e, especialmente, nos últimos 50 anos, as florestas foram transferidas, apropriadas ou reconhecidas como posse de particulares e de comunidades, em todo o mundo. Apesar de 84%, dos quase quatro bilhões de hectares de florestas do planeta ainda serem públicos, muitas áreas têm sido reconhecidas como de domínio de comunidades ou estão sob gestão privada, por meio de diversos mecanismos de concessão. Até meados da próxima década, mais de 40% das florestas no mundo estarão sob gestão de comunidades locais. Essa alteração de cenário demandará um novo nível de relação entre empresas, governos e comunidade.


Democracia e transparência: Nas últimas décadas, o mundo vem transformando rapidamente o regime político. Em nenhum outro período, a democracia foi tão majoritária.

Com poucas barreiras significativas a serem vencidas, as práticas de transparência e estímulo à participação social estão alterando a forma de governança. Na sociedade da informação, com reações instantâneas diante dos acontecimentos, já não se pode adotar diferentes práticas corporativas, em diferentes países ou estados. Tampouco, é possível omitir-se diante dos conflitos. É preciso enfrentá-los de forma transparente.

Brasil: Todas estas mudanças já afetam o setor florestal interno. Aqui, a indústria de base florestal vem ocupando novos espaços: interioriza-se, seguindo as mudanças no perfil da infra-estrutura, ao mesmo tempo em que, nas regiões de ocupação histórica, próxima ao litoral e a grandes centros, integra-se às atividades agrícola e pecuária.

Florestas sociais: As florestas manejadas pela lógica familiar ou comunitária serão cada vez mais significativas. Atualmente, mais de 40% das florestas públicas são gerenciadas por comunidades. Em menos de cinco anos, a participação dos pequenos produtores no total de florestas plantadas saltou de menos de 8%, para 25% do total plantado.

A indústria de base florestal terá de ser repensada, para incorporar de forma definitiva as florestas sociais, em sua estratégia de desenvolvimento.

Florestas de investimentos: Na última década, uma dezena de fundos de investimento aportaram no Brasil, para investir em florestas. Por enquanto, restringem seus investimentos às regiões Sul e Sudeste, basicamente em florestas plantadas.

Mas, é inevitável que, em breve, estejam atuando em todo o país, aumentando o capital disponível no setor e elevando o Brasil a um novo patamar de produção florestal.

Economia da floresta: Muito se falou, nos últimos 20 anos, a respeito do uso múltiplo das florestas. O debate, no entanto, não avançou para além dos subprodutos da madeira.

Hoje, é diferente. Os horizontes expandiram-se. Há perspectivas reais de exploração de um maior número de produtos florestais não madeireiros, como óleos e resinas. Biomassa é a palavra chave. E a pesquisa do biorefino já é realidade no Brasil.

Florestas públicas: Mais de 60% das florestas do Brasil são públicas e praticamente inacessíveis ao mercado formal de produtos florestais.

Este cenário deve mudar com a implantação da Lei de Gestão de Florestas Públicas, especialmente com a destinação para comunidades locais e com o início, ainda em 2007, dos processos de concessão florestal.

Gestão Compartilhada: Em 2006, com a implantação do sistema de gestão florestal compartilhada, foi iniciada uma nova fase da gestão. Este ano, o novo sistema desconcentra da União as atividades de licenciamento e regulação, aumentando a responsabilidade dos estados, ao mesmo tempo em que promove a integração dos sistemas estaduais e a transparência das informações de todos os entes para a sociedade.

É neste cenário que acreditamos que o setor de base florestal deve ser planejado, para sustentar um crescimento de 8 a 10% ao ano, nas próximas duas décadas, dobrando sua participação no mercado mundial, ao mesmo tempo em que promoverá ações, para conservar o patrimônio florestal brasileiro.