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João Paulo Ribeiro Capobianco

Presidente do Instituto Democracia e Sustentabilidade

As-CP-17

Integração entre nativas e exóticas
O Brasil possui a maior riqueza biológica do planeta Terra. Seus seis biomas terrestres e ecossistemas marinhos abrigam cerca de 104 mil espécies animais e 43 mil espécies vegetais, números que vêm crescendo à medida que novos estudos e inventários são realizados.
 
Em termos de cobertura florestal, o Brasil também se destaca. Segundo a FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, o território brasileiro possui, atualmente, cerca de 4,9 milhões de km2 de matas originais, ocupando o segundo lugar no ranking mundial, atrás apenas da Rússia. Em termos de bosques tropicais, que abrigam a maior biodiversidade, o Brasil está em primeiro, tendo o triplo da República Democrática do Congo, segundo colocado. 
 
Apesar dessa riqueza, que significa enorme potencial para o desenvolvimento sustentável e resiliência às mudanças climáticas, os processos de degradação evoluem em ritmo extremamente acelerado. Segundo o IBGE, o País já eliminou 88% da mata atlântica, 54% da caatinga, 49% do cerrado, 54% do pampa, 20% da Amazônia e 15% do pantanal, e os índices de redução do desmatamento que estavam em queda voltaram a crescer nos quatro últimos anos. Nesse contexto, identificar formas e modelos que integrem produção e conservação é um desafio inadiável.  
 
Um dos setores da economia que mais tem avançado nessa direção é o das florestas plantadas. Segundo a Indústria Brasileira de Árvores  – Ibá, o setor produziu, em 2015, uma receita equivalente a 6% do PIB e 4,7% das exportações, e gerou 3,8 milhões de empregos diretos e indiretos.

Além da importância econômica inquestionável, são notáveis os avanços na agenda da sustentabilidade. Dois indicadores relevantes comprovam essa afirmação. O primeiro é o fato de que as áreas com ecossistemas naturais protegidos nas formas de Reserva Legal, Áreas De Preservação Permanentes e reservas particulares do patrimônio natural, mantidas pelas próprias empresas, totalizam 56 mil km2, equivalente a 41,2% do território total de produção do setor, uma contribuição importantíssima para a conservação da biodiversidade. O segundo aspecto que merece destaque é que 67% da energia consumida nas operações das companhias desse segmento econômico é por elas produzida na forma de energia renovável.
 
Esses dados alvissareiros, no entanto, não foram sempre assim. Desde que teve início, o cultivo comercial do eucalipto e, posteriormente, do pínus, muitos conflitos socioambientais foram deflagrados pela rápida expansão do plantio dessas florestas.

Exemplo disso foram os anos do desastroso programa de incentivos fiscais na década de 1970, que levou à destruição de extensas áreas de cerrado e mata atlântica. A evolução positiva do setor verificada recentemente é o resultado de um longo processo de ajustes resultantes de pesquisas, desenvolvimento tecnológico e incorporação de parâmetros socioambientais, motivados pela pressão da sociedade e pelo aumento do rigor da legislação ambiental.
 
Hoje, o quadro positivo do setor de florestas plantadas contrasta com o atraso verificado na economia com nativas, ainda dominada pela exploração predatória e com participação pífia nos mercados nacional e internacional de madeiras.
 
Segundo o SFB – Serviço Florestal Brasileiro, do total de 267 milhões de m3 de madeira extraída no Brasil em 2015, apenas 17,1% tiveram origem em florestas naturais, uma contradição difícil de justificar para um país que concentra 12,8% do que resta delas em todo o mundo. Ao longo dos últimos anos, observa-se o aumento contínuo da participação da silvicultura com exóticas no valor dos produtos extraídos, tanto madeireiros como não madeireiros, respondendo, atualmente, por cerca de 74% da renda econômica gerada nesse segmento econômico.
 
Uma agenda que poderia reverter esse quadro e gerar muitos benefícios para a restauração e a conservação ambiental e o aumento da produtividade rural seria estimular as empresas voltadas às florestas plantadas a se envolverem com o plantio e posterior manejo econômico de florestas com espécies nativas. Suas expertises, tecnologias e práticas inovadoras, responsáveis pelo sucesso do setor, associadas a fontes adequadas de financiamento, poderiam dinamizar essa atividade.
 
Duas oportunidades podem contribuir para isso. A primeira decorre do enorme desafio, estabelecido pelo Código Florestal, da obrigatoriedade de recuperação de milhares de km2 de vegetação original nas propriedades rurais através dos PRAs – Programas de Recuperação Ambiental. O segundo, que se articula com o primeiro, é o compromisso assumido pelo Governo Brasileiro junto à Convenção sobre Mudanças Climáticas, de plantar 12 milhões de hectares de florestas nos próximos anos.