Há algum tempo, o setor florestal brasileiro vem perdendo produtividade em suas florestas. Notam-se, nos relatórios de entidades que representam o setor, dados que apontam uma estagnação e até mesmo queda nos índices que medem essa produtividade, IMA – Incremento Médio Anual, ou m³ de madeira por ha por ano.
Diversos fatores são apontados como responsáveis por esse fenômeno, como déficit hídrico, alteração do clima, pragas e doenças, plantio em áreas menos produtivas e outros fenômenos, como seca de árvore ainda não identificado, vento e incêndio. Por outro lado, o surgimento de materiais genéticos capazes de enfrentar tudo isso e manter o ritmo de aumento da produtividade ainda está distante, no máximo conseguimos manter o estado atual dos nossos povoamentos florestais.
Pensando em resultados econômicos dos negócios baseados em produtos florestais, também estamos perdendo o jogo, exceção apresentada pelo setor de celulose, que mantém boa performance com bom equilíbrio em demanda e oferta, com preços competitivos; os demais setores, como siderurgia a carvão vegetal, painéis reconstituídos de madeira, madeira sólida e produtos não madeireiros, vêm mantendo uma performance frágil e com viés negativo. A consequência disso é um menor investimento em pesquisas florestais e o não enfrentamento dos problemas atuais de forma mais consistente.
Outro fator relevante que vem contribuindo para a redução da produtividade florestal brasileira é a redução de pesquisas básicas nas universidades ligadas ao setor, parte disso, pelo sucateamento das universidades brasileiras e parte, pela necessidade urgente de se conduzir pesquisa aplicada que objetiva uma resposta rápida para os problemas atuais, porém não garantindo um conhecimento robusto para um possível desdobramento desses problemas.
Em resumo, o Brasil tem perdido competitividade devido à perda de produtividade florestal e também pelo aumento sistemático de seus custos de produção. Embora ainda se posicione como o principal produtor de floresta plantada de baixo custo no mundo, podemos dizer que um sinal amarelo está ligado e alerta o setor.
E aí a pergunta que surge é: Como corrigir o rumo do setor florestal brasileiro?
A resposta mais honesta é “ainda não sabemos”, e acredito que a maioria das empresas privadas, instituições governamentais e outros profissionais ligados ao setor também estão buscando um caminho para voltarmos a crescer e garantir melhores resultados para o setor de florestas plantadas, mas o fato é que todas as regiões do País estão se deparando com queda de produtividade significativa de seus maciços florestais.
Em minha opinião, mantenho o diagnóstico de que o que nos trouxe até aqui não garante o nosso futuro, devido às grandes alterações ocorridas no mundo de forma muito relevante; o meio ambiente mudou, as demandas sociais são diferentes, o ambiente de negócio mudou e as tecnologias mudaram. Isso requer um cuidado na preparação do nosso futuro como silvicultor, mas deveríamos ver com atenção a nossa trajetória dos últimos 50 anos, o ambiente de trabalho que criamos nesse período levou o Brasil a crescer mais de 3 vezes a nossa produtividade e o nosso tamanho.
Durante esse período, foram criadas importantes entidades de pesquisa florestal, como o IPEF, Instituto de Pesquisa e Estudos florestais, ligado à Esalq , a SIF, Sociedade de Investigação Florestal, ligada à UFV, mais de 70 cursos de engenharia florestal espalhados por todo o País. Criamos eventos florestais sistemáticos, que congregavam vários profissionais dos diferentes setores para troca de experiência, onde todos apresentavam suas descobertas e compartilhavam conhecimento sem restrições, ou seja, criamos uma
joint venture de conhecimento e víamos nisso uma colaboração justa entre as diversas empresas brasileiras. Com o passar dos anos, a comunicação entre empresas seguiu por um caminho diferente, onde redefinimos a posição da régua do conhecimento pré-competitivo, e os esforços passaram a ser feitos de forma isolada e muito mais protegidos.
Vale a pena repetir o modelo? Talvez não, mas deveríamos dedicar algum tempo para pensar na evolução da produtividade média brasileira de pínus e de eucalipto e repensarmos onde deveria estar situada a divisão entre esforços pré-competitivos e competitivos. Vejam o clone I-144, cultivar de eucalipto mais plantado no País há vários anos e que define atualmente o patamar da produtividade Brasileira. Vindo do setor de carvão vegetal, esse material tem garantido, nos últimos anos, a mesma produtividade florestal, desafiando pragas, doenças e mudanças climáticas. Como sair do padrão I-144? Ainda não temos essa resposta, e clones com essa plasticidade são raros no mercado brasileiro.
O que queremos então? Ocorre-me citar alguns pontos que, em meu entendimento, seriam importantes para corrigir a rota do setor florestal, independente do segmento de negócio:
1. Uma árvore mais produtiva, com mais fibra, com mais densidade e mais tolerante às alterações climáticas, poderia vir com um aumento do esforço coletivo do setor no aumento de nossa base genética, associado a estudos e experimentações mais assertivos para descoberta de raças locais bem adaptadas;
2. Avaliar a construção de um programa nacional para melhorar o controle de pragas florestais;
3. Melhoria na infraestrutura para o transporte rodoviário, hidroviário e ferroviário e redução dos custos portuários;
4. Eliminação ou redução de tributos em cascata que incidem ao longo da cadeia produtiva;
5. Melhoria na dinâmica de licenciamentos ambientais, tanto para processos normais da rotina florestal quanto para implantação de novos projetos.
Além do crescimento como silvicultor, a maioria dos plantadores de florestas sempre usaram de boas práticas ambientais e sociais, e, por essa razão, possuímos grandes áreas certificadas com selos, como o FSC e Cerflor, e devemos preservar essa forma de conduzir o setor e manter o reconhecimento internacional de nossos produtos.