Diretor Executivo do IPEF
As-CP-14
Quando se analisa a produtividade das florestas plantadas no Brasil, comparada com outros países, com frequência procura-se justificar o fato pelas excelentes condições edáficas e climáticas do nosso País. Alguns até exageram acreditando que Deus realmente “é brasileiro”. Na realidade, e sem demérito dessas condições privilegiadas, há que se reconhecer que o fato decisivo, como diz o título deste artigo, é que o Brasil está “colhendo o que foi plantado”.
Para tanto, houve uma colaboração definida em termos de:
a. Pesquisa;
b. Interação e integração;
c. Competência organizacional da iniciativa privada; e d. Formação de recursos humanos.
Pesquisa: citando apenas um exemplo, para o gênero Eucalyptus, os primeiros passos foram do “semeador” Edmundo Navarro de Andrade nos idos do primeiro decênio do século XX, com as pioneiras introduções e plantios experimentais junto à Companhia Paulista de Estradas de Ferro da época. Desacreditado desde o início por “patriotas xenófobos”, foram necessárias muitas pesquisas de entidades públicas e privadas, universidades, centros e institutos de pesquisa e desenvolvimento.
No início da década de 1950 (quase 40 anos depois), sua madeira começou a migrar de matéria-prima de segunda qualidade, destinada à queima e madeira roliça de baixa durabilidade, para produto de primeira classe, destinado à indústria de celulose, chapas, carvão vegetal e a outras finalidades. Para o gênero Pinus, segundo mais plantado em nosso País, o início da introdução comercial foi na década de 1950, com uma finalidade relativamente mais nobre, ou seja, substituir a Araucaria, a mais importante nativa de fibra longa.
Mais de 60 anos depois, pode-se constatar o acerto da medida, reduzindo a pressão sobre a mesma e garantindo o suprimento de matéria-prima para madeira cerrada e fonte de fibras longas para papel. Porém o binômio plantar-colher só daria um passo acelerado associando-se a movimentos de:
Integração e interação: nenhum outro setor produtivo brasileiro conseguiu, até nossos dias, alcançar o nível da área florestal em termos de integração universidade-empresa, interação empresa-empresa e integração floresta-indústria. Indubitavelmente, consegue-se uma otimização de recursos humanos, materiais e financeiros, ou seja, numa fase pré-competitiva, não há segredos, não há propriedades exclusivas, a troca de conhecimentos e informações ocorre de forma aberta e compartilhada.
O diferencial “lá na frente” é alcançado pela competência e pela determinação dos atores envolvidos, tanto em nível gerencial como operacional. Competência organizacional da iniciativa privada, associada à determinação de, com apoio governamental ou não, investir recursos próprios, acreditando na viabilidade técnica e econômica dos empreendimentos florestais.
Nas últimas seis décadas, são poucos os registros de significativo apoio financeiro do governo, quer em nível federal ou estadual. Nem por isso houve redução significativa de investimentos nas áreas tradicionais e, sobretudo, nas novas fronteiras. Formação de recursos humanos nos diferentes níveis (superior, médio e básico). Essa preocupação se traduziu por um crescente aumento do número de cursos superiores em Engenharia Florestal e cursos técnicos, além de programas de formação e treinamento de mão de obra das próprias empresas florestais. Hoje, a competência estabelecida em pesquisa, desenvolvimento, inovação, operacional é fator de segurança da atividade no presente e para o futuro. Colhendo o que foi plantado...
Para e com a sustentabilidade: seja qual for o enfoque da sustentabilidade (biológica, ambiental, social ou econômica), a área florestal a tem como inerente à sua própria e natural atividade. Mercê desse fato e graças ao binômio citado, nenhum outro setor da área rural vem cumprindo as exigências legais com a amplitude registrada na área florestal.
O plantar-colher subentende um círculo virtuoso ascendente, retomando desafios anteriores e procurando novos, entre os quais podemos destacar:
• Consolidação da utilização das áreas degradadas para o reflorestamento;
• Identificação de novas áreas prioritárias de expansão, respeitando-se os princípios fundamentais da própria sustentabilidade (sentido amplo e restrito);
• Conservação e recuperação de matas nativas (Áreas de Proteção Permanente e Reserva Legal), flora e fauna locais;
• Prevenção e controle de incêndios florestais;
• Utilização crescente da silvicultura de precisão e desenvolvimento de modelos ecofisiológicos;
• Seleção de clones menos demandantes de nutrientes, mais resistentes a pragas e a doenças e de alta produtividade e qualidade ao fim a que se destina;
• Priorização de estudos de novos híbridos (polinização, poliploidis e transgenia);
• Consolidação do uso de “cultivo mínimo” na implantação e na reforma de povoamentos florestais;
• Redução da utilização de defensivos químicos em favor do uso de inimigos naturais (manejo integrado de pragas e doenças);
• Desenvolvimento de sistemas de exploração visando ao uso múltiplo (biomassa para energia, produtos sólidos da madeira e produtos não madeireiros); e
• Difusão contínua das novas tecnologias florestais.