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Marcelo Scantamburlo Denadai

Coordenador de CST em Agronegócio da Faculdade de Tecnologia de Botucatu

OpCP76

A utilização de novas tecnologias e a formação da mão de obra profissional
A interface entre a floresta e a indústria representa um dos desafios contemporâneos, exigindo a conciliação entre a exploração dos recursos naturais e a preservação ambiental. A utilização de drones agrícolas, aliados à formação e preparo da mão de obra profissional, é essencial para alcançar um equilíbrio sustentável. Iremos discutir como as inovações tecnológicas, particularmente os drones e a qualificação profissional, podem transformar a relação entre a floresta e a indústria, promovendo um desenvolvimento mais sustentável.
 
Os drones agrícolas emergiram como ferramentas poderosas para a atividade agrícola, mas também para a indústria florestal. Equipados com câmeras de alta resolução e sensores avançados, esses drones permitem o monitoramento contínuo e preciso das condições das florestas.

Eles podem mapear grandes áreas em pouco tempo, detectar pragas, identificar doenças e monitorar o crescimento das árvores. Além disso, drones são utilizados para dispersar sementes em áreas de difícil acesso, promovendo a regeneração florestal de maneira eficiente e rápida. A automação desses processos aumenta a eficiência operacional, reduz o desperdício e minimiza impactos ambientais.
 
A utilização de drones agrícolas na indústria florestal tem um impacto direto na sustentabilidade, permitindo uma gestão mais responsável dos recursos naturais, garantindo que a exploração seja feita dentro dos limites ecologicamente seguros. A prevenção de desastres naturais, como incêndios florestais, é facilitada pela capacidade dos drones de fornecer dados em tempo real, permitindo uma resposta rápida. A saúde das florestas é monitorada continuamente, promovendo a conservação da biodiversidade e a recuperação de áreas degradadas. Assim, os drones agrícolas tornam-se aliados cruciais na promoção de práticas sustentáveis.
 
Para que os drones sejam plenamente aproveitados, é fundamental que a mão de obra esteja devidamente preparada. Isso exige uma atualização constante dos currículos acadêmicos, incorporando disciplinas que abordem o uso de drones na gestão florestal. Além disso, é necessário desenvolver programas de capacitação contínua para os profissionais que já atuam no setor, garantindo que eles possam operar e manter esses dispositivos tecnológicos. 

A formação deve ser multidisciplinar, abrangendo conhecimentos em tecnologia de drones, análise de dados e gestão florestal, para que os profissionais estejam aptos a enfrentar os desafios complexos da indústria moderna. Investir em educação e treinamento é essencial para preparar uma mão de obra qualificada.

As instituições de ensino, especialmente aquelas voltadas para as áreas técnicas e de engenharia florestal, devem atualizar seus currículos para incluir o uso de drones e práticas sustentáveis. Parcerias entre as universidades, os centros de pesquisa e a indústria podem acelerar o desenvolvimento de programas de formação que atendam às demandas do mercado. Além disso, é necessário incentivar programas de capacitação e desenvolvimento profissional contínuo, para que os trabalhadores possam se atualizar constantemente e acompanhar as inovações tecnológicas.
 
A promoção de uma cultura de inovação é vital para o desenvolvimento sustentável da indústria florestal. Empresas do setor devem incentivar a pesquisa e o desenvolvimento de novas soluções tecnológicas, como drones agrícolas, investindo em projetos inovadores que possam melhorar a eficiência e a sustentabilidade das operações. A colaboração entre diferentes atores, como universidades, institutos de pesquisa e a indústria, pode gerar novas ideias e acelerar a implementação de práticas sustentáveis. Iniciativas de sucesso, que combinam inovação e sustentabilidade, devem ser destacadas e replicadas, servindo de exemplo para o setor como um todo.

No mapeamento com drones, o treinamento é fundamental para garantir que os operadores possam aproveitar ao máximo as capacidades dessa tecnologia, assegurando a coleta de dados de alta qualidade e a realização de análises precisas. Dentre os conhecimentos de grande relevância, destaco o entendimento dos princípios básicos de fotogrametria, a importância da sobreposição de imagens para criar mapas precisos e contínuos, e a calibração adequada do sensor e câmera, para obter imagens claras e bem definidas. Altura de voo, velocidade de deslocamento do drone e velocidade do obturador são algumas das variáveis que podem comprometer um mapeamento se não configurados corretamente. 

Os operadores dessas tecnologias precisam ser proficientes no uso de softwares específicos para planejamento de voo e processamento de dados, assim como na interpretação dos resultados obtidos. Além disso, é crucial que os operadores sejam capacitados em técnicas de voo seguro e regulamentações aéreas para operar os drones de forma legal e eficiente. Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) e Ministério da Defesa (MD) são os principais órgãos que regulamentam o uso de drones. 

O treinamento prático, com simulações e voos controlados, permite que os operadores desenvolvam habilidades essenciais para lidar com diferentes cenários de campo, tais como condições meteorológicas adversas e terrenos variados.

Além dos pontos destacados acima, seja no mapeamento seja na pulverização, os erros de posicionamento de drones agrícolas podem ter consequências significativas tanto para o planejamento florestal, quanto para a eficiência do processo ou mesmo para o meio ambiente. 

Quando um drone não trabalha com coordenadas precisas e com acurácia, ele pode aplicar produtos de maneira desigual, resultando em áreas superdosadas ou subdosadas. Isso não só compromete a eficácia do controle de pragas e doenças, como também pode causar danos às plantas, devido ao excesso de produtos aplicados e impactar nos custos de produção. 

Além disso, a pulverização inadequada pode levar à contaminação de áreas não-alvo, incluindo corpos d'água e habitats naturais, prejudicando a biodiversidade local. Para mitigar esses riscos, é crucial que os operadores de drones recebam treinamento adequado e utilizem sistemas de posicionamento e navegação de alta precisão, garantindo uma aplicação uniforme e segura dos produtos agroquímicos.

O uso de receptores GNSS (Global Navigation Satellite System) com RTK (Real-Time Kinematic) é essencial para corrigir os erros de posicionamento de drones agrícolas durante a pulverização. 

O RTK é uma técnica avançada de posicionamento que utiliza correções em tempo real para melhorar significativamente a precisão dos dados do GNSS, permitindo uma precisão centimétrica. Ao integrar RTK nos drones agrícolas, é possível garantir que eles sigam rotas de voo muito mais precisas e aplicar produtos agroquímicos exatamente onde são necessários, porém precisamos tomar cuidado, pois utilizar RTK não é simplesmente ligar o equipamento e usar. 

A base RTK pode fornecer dados precisos, porém, para garantir a acurácia das coordenadas, é necessário que essa base tenha uma coordenada conhecida, ou seja, ajustada previamente a partir da comparação com outras bases, como do sistema PPP do IBGE. Dessa forma, será garantida a acurácia das coordenadas corrigidas em tempo real.

Essa precisão e acurácia são cruciais em operações de pulverização, em que a uniformidade na aplicação dos produtos é fundamental para a eficácia do tratamento e para a proteção do meio ambiente. Com RTK, os drones podem evitar áreas sensíveis e minimizar a deriva de pulverização, reduzindo o risco de contaminação de áreas não-alvo e a exposição desnecessária de plantas e animais a produtos químicos. 

Além disso, a precisão proporcionada pelo RTK aumenta a eficiência operacional, economizando tempo e recursos ao garantir que a quantidade correta de produto seja aplicada de maneira uniforme em toda a área de cultivo. Dessa forma, o RTK se torna uma ferramenta indispensável para otimizar as operações de pulverização agroflorestais, promovendo práticas mais sustentáveis e produtivas.
 
Já no controle biológico de pragas com uso de drones, o treinamento é vital para maximizar a eficácia e eficiência dessas operações, garantindo que o material biológico, como predadores naturais ou agentes de controle, seja distribuído de forma precisa e uniforme. A qualidade do material é crucial, portanto, operadores treinados são essenciais para manusear e abastecer os drones adequadamente, preservando a viabilidade dos organismos biológicos. Além disso, um bom treinamento também abrange o planejamento logístico, que envolve a coordenação dos voos para cobrir grandes áreas de cultivo, a gestão do tempo para garantir que os agentes biológicos sejam liberados no momento ideal, e a conformidade com as regulamentações ambientais. 
 
Um operador bem treinado pode ajustar os parâmetros de voo para otimizar a dispersão, reduzir ou aumentar a faixa de aplicação para garantir a sobreposição necessária, e minimizar o tempo de operação, garantindo uma abordagem sustentável e eficaz no manejo integrado de pragas.

A integração eficaz de drones e sustentabilidade é a chave para uma interface perfeita entre a floresta e a indústria. Estratégias que equilibram a exploração econômica com a preservação ambiental são fundamentais para garantir a sustentabilidade a longo prazo. 

Casos de sucesso em que drones foram utilizados para promover práticas sustentáveis devem ser compartilhados e replicados. Benefícios econômicos, como a redução de custos operacionais e o aumento da eficiência, aliados aos benefícios ambientais, como a conservação dos recursos naturais e a promoção da biodiversidade, demonstram que a integração de drones e sustentabilidade é uma abordagem vencedora.

A utilização de drones agrícolas e a formação e preparo da mão de obra profissional também são essenciais na busca pela perfeita interface entre a floresta e a indústria. A adoção dessas inovações tecnológicas pode transformar a gestão florestal, promovendo práticas mais eficientes e sustentáveis. No entanto, isso só será possível se houver um investimento contínuo em educação e capacitação profissional, pública e privada. A combinação de tecnologia, formação profissional e sustentabilidade é o caminho para um futuro em que a exploração dos recursos florestais seja feita de maneira responsável, beneficiando tanto a economia quanto o meio ambiente.