Em consulta ao dicionário sobre o significado da palavra sinergia, encontrei que se trata de “união de esforços, trabalho coordenado para realização de uma tarefa grande ou complexa”. Concluo, por consequência, que sinergia do setor florestal ocorre quando há cooperação de vários agentes do setor para desenvolver um grande projeto, que preocupe, afete ou beneficie a todos. Dessa forma, pergunto-me quando o setor florestal trabalhou de forma sinérgica, com objetivo comum e realizou para tal grandes tarefas?
Tenho acompanhado o setor nos últimos 25 anos e, apesar de não ter vivenciado aquele momento histórico, me parece consenso que um projeto articulado entre o governo, instituições de ensino/pesquisa e iniciativa privada teve o grande êxito de impulsionar o setor de florestas plantadas no Brasil com os incentivos fiscais na década de 1960. Foi um momento histórico de sinergia do setor mais ligado às florestas plantadas, que é, inclusive, responsável por sua origem de forma mais estruturada como hoje é conhecido.
Como reflexo desse primeiro movimento, pude vivenciar, principalmente na década de 1990 e início dos anos 2000, a grande sinergia em torno da pesquisa aplicada na área de florestas plantadas, onde transparecia a pujança dos institutos de pesquisa como o IPEF, servindo de ponte entre o setor florestal e a universidade. São evidentes, até hoje, os investimentos realizados em laboratórios de pesquisa, a origem de grandes projetos de cooperação entre empresas, a instalação de grandes experimentos no campo e, consequentemente, os resultados de avanço tecnológico do setor nas mais diversas áreas.
Tudo isso vinha acompanhado de uma ação sinérgica do Governo e da iniciativa privada, de investimento na infraestrutura das universidades, na contratação de docentes, ou no fornecimento de bolsas de estudos, via Capes, CNPq, agências estaduais ou mesmo pelos institutos de pesquisa.
Essa segunda onda ainda persiste, de forma mais tímida, direcionada principalmente às demandas do setor, mas responsável pela manutenção de equipes e laboratórios de pesquisa ligados ao setor florestal. Como exemplo, o Programa de Monitoramento Ambiental em Microbacias (Promab) é um sucesso de sinergia do setor florestal, beneficiando empresas, universidade, Governo e a sociedade em geral. Como o Promab, outros grandes projetos tiveram início nesse período, no entanto o crescimento do setor, a independência tecnológica das empresas, aspectos estratégicos ligados à competitividade, à redução de custos, a questões jurídicas, entre outros fatores, contribuíram para um afastamento das empresas de uma interação maior com as universidades, reduzindo essa segunda onda.
É claro que existem inúmeras iniciativas setoriais sinérgicas, em que empresas se unem por objetivos comuns, mesmo em pesquisa, mercado, compartilhamento de ativos, certificação, entre muitas outras. Mas, procurando grandes movimentos que envolvam outros agentes além do setor privado, em seguida, eu me pergunto: qual seria uma terceira onda sinérgica que poderia unir governo, universidades, ONGs, empresas em torno de um objetivo comum?
Oportunidades não têm faltado na última década; pode-se citar a reforma do Código Florestal, as mudanças climáticas, a crise hídrica, a restauração florestal, a nova Revolução Industrial e até mesmo a pandemia. Mas parece que nenhum desses temas foi capaz de mobilizar todo o setor para trabalhar em sinergia, e muitos são os fatores que poderiam explicar por que não houve energia suficiente para unir o setor florestal. Mas qual tema pode englobar todos esses assuntos, além de outros? Sim, a educação e a pesquisa, que, historicamente, podem ser consideradas um dos pilares do setor florestal. Dessa forma, cabe aqui uma reflexão sobre uma situação atual das universidades e dos institutos de pesquisa, que poderia explicar, em parte, o marasmo sinérgico em que nos encontramos.
Uns dos principais protagonistas das primeiras ondas citadas foram as universidades com seus cursos e pesquisas na área florestal, que, fortalecidas desde a década de 1960, deram suporte a todos os avanços no setor e, principalmente, participaram da formação dos profissionais que estão atuando no mercado brasileiro e mundial. No entanto, principalmente nos últimos 10 anos, nota-se o enfraquecimento desse importante parceiro do setor. A falta de novos investimentos, a redução de seus orçamentos, entre outros fatores, levou a uma situação de currículos desatualizados, à falta de funcionários e docentes, com laboratórios funcionando precariamente, resultando em menor capacidade para ensino e pesquisa.
Como é possível enfrentar os desafios atuais em conjunto, projetar um futuro em que as principais questões atuais estejam equacionadas no setor, se um de seus principais parceiros não pode atuar com todo o seu potencial? E o futuro do setor florestal não depende de investimentos agora na área de ensino e pesquisa?
O que o setor privado tem a ver com isso? Parece-me consenso que o investimento na área de ensino e pesquisa reverte para toda a sociedade, mas, nesse caso, principalmente para o próprio setor. Cabe agora decidir sobre qual é a responsabilidade de cada um em mudar esse paradigma, aguardando que algo de novo aconteça, ou sendo proativo e agindo nessa direção. A Universidade de São Paulo está iniciando um planejamento para os próximos 10 anos, por meio do plano de metas “Florestas 20+10”, e contará com o Governo, a iniciativa privada e o terceiro setor para atingir seus objetivos.
Fica aqui um convite para investir no futuro por meio do ensino e da pesquisa, para capacitar os novos profissionais da engenharia florestal e gerar conhecimento que dê suporte aos muitos desafios que ainda enfrentaremos. Que possamos construir essa nova onda de sinergia para surfarmos nela no futuro!