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Dartagnan Baggio Emerenciano

Diretor Científico da Fupef

Op-CP-09

Setor florestal: a missão de promover o rendimento sustentável

O setor florestal continua carente de medidas efetivas, para que se possa atingir o equilíbrio entre os ambientes natural e econômico. Os dados mostram que o Brasil tem 850 milhões de hectares, dos quais 48,5% são de florestas e que, destes, 70,5% correspondem a Amazônia, com 90% de produção de madeira nativa, da qual 86% são consumidas no Brasil.

As demandas de madeira continuam a crescer e a busca de alternativas para otimizar a exploração florestal, principalmente o combate à ilegalidade no corte de árvores, torna-se uma das principais metas a serem atingidas. A possibilidade de conciliar a conservação ambiental com o progresso não é um desafio tão difícil de vencer.

É justamente o oposto, ou seja, conciliar o progresso com a conservação, em função do padrão do comportamento humano, seja no ambiente público, como no privado, muitas vezes devido a muita ganância e ignorância, que superam as razões científicas e técnicas. Os planos de sustentabilidade, principalmente os de manejo florestal sustentável, devem ser colocados em prioridade, como de longo prazo, para o setor florestal, tanto em escala governamental, como empresarial.

Será por meio destes planos que poderá ser estabelecido o equilíbrio entre a oferta e a demanda de produtos florestais, garantindo-se a produção contínua, principalmente a de madeira. A redução dos desperdícios deve ser parte integrante dos planos. Hoje, podemos constatar que no processo de exploração/colheita das espécies comerciais da floresta amazônica, são necessárias, em média, 2,4 árvores, para se obter uma árvore de produtos nos atuais padrões comerciais.

Do restante, 28% são queimados e, muitas vezes, a céu aberto, porque não existe um destino comercial, em função da inexistência de novos padrões tecnológicos. Durante pesquisas aplicadas em projetos, ao longo de cerca de 10 anos, constatou-se a falta, principalmente, de padrões de madeiras de pequenas dimensões, que mantivessem a disposição natural das fibras.

E, em especial, a falta destes padrões dimensionais, associada a uma necessidade de nova tecnologia que os produzisse, a partir dos resíduos, e não a partir da madeira bruta novamente. Observe-se que, em Moçambique e em outros países africanos, essa relação é de 3 para 1. Novos padrões tecnológicos agregam valor ao produto final e promovem a multiplicidade de usos.

Portanto, os planos de longo prazo deverão considerar as pesquisas já realizadas, relacionadas ao aumento do índice de eficiência na industrialização da madeira, permitindo possibilidades ao pleno processamento dos resíduos ainda relegados, inclusive em materiais de acabamento. O projeto de pesquisa PRIMAS – Padronização dos Resíduos Industriais de Madeira Sólida, em Volumes Comerciais, em desenvolvimento pela FUPEF – Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná, fundação de apoio da Universidade Federal do Paraná, busca alternativas em novos produtos, o que permitirá, de imediato, uma redução de 2,4, para 1,9 árvores, na composição de uma árvore comercial.

Não se pode esquecer que na abrangência dos planos, está também incluída a produção das florestas plantadas, que atende a segmentos específicos do mercado, sujeitos também a uma dependência de planos de sustentabilidade, que garantam uma demanda de colheita em torno de 400 mil ha/ano. Então, diante do cenário que vislumbramos no presente, o que deveremos considerar, em termos de planejamento para o futuro?

 

  • em relação a uma nova estrutura pública: que as instituições públicas aperfeiçoem seus mecanismos e capacitação na área do ensino;
  • em relação à disponibilização de matérias-primas: campanhas de massa, apresentando os benefícios sociais, econômicos e ambientais das florestas naturais e das plantações florestais; informar/ensinar à população sobre os benefícios ambientais, sociais e econômicos das plantações florestais;
  • no segmento de políticas públicas para o setor: investimentos em educação tecnológica e campanhas na mídia;
  • na área de capacitação: melhor entendimento das relações entre produção e aspectos ambientais da silvicultura; múltiplos usos e aplicações dos produtos de origem florestal; desenvolvimento de produtos de maior valor agregado; melhor integração entre as universidades e o mercado;
  • na área de recursos financeiros: desenvolvimento de mecanismos de pagamento de serviços ambientais; criação de fundos para ampliar os reflorestamentos e as plantações florestais.

O apoio do governo Lula para que o Brasil torne-se uma potência florestal é evidente e comprovada pela regulamentação da gestão das florestas públicas e a criação, no Ministério do Meio Ambiente, do Serviço Florestal Brasileiro e do Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal. Em continuidade, deve ser estimulada uma ação, dentro da política pública de financiamento, nos DFS – Distritos Florestais Sustentáveis, para que eles sejam modelos para as outras regiões, adotando, por exemplo, a Tecnologia PRIMAS, que estimula a redução da demanda por madeira, por meio do aumento da eficiência na industrialização, criando-se novos padrões tecnológicos, que estabelecerão dimensões para pastilhas de madeiras e perfilados de madeira branca de alta densidade (já em discussão em Comissão de Estudo – ABNT, via ABIMCI – CB-31 – Comitê Brasileiro da Madeira).

Além disso irão oportunizar a criação de uma série de novos produtos, muitos deles substituindo o uso da madeira maciça inteiriça, que gera grande volume de resíduos. Diante de todo esse cenário, para o futuro, deverá permanecer como prioridade o monitoramento contínuo das ações, acompanhado de um rigoroso sistema de fiscalização. Somente assim, poder-se-á dar continuidade às metas estabelecidas no PNF – Plano Nacional de Florestas, para que tenhamos a garantia de uma base florestal sólida, com ênfase na recuperação de áreas já degradadas, bem como na ampliação da participação de pequenos produtores, gerando mais emprego e renda. Enfim, que nos planos governamentais e empresariais seja cumprida a missão de promover o desenvolvimento sustentável, conciliando o uso com a conservação dos recursos florestais.