Diretor Executivo do IPEF
Op-CP-01
Quando se analisa o setor de florestas plantadas do Brasil, no contexto das outras nações, normalmente destacam-se como vantagens a diversidade de solos, climas favoráveis a diferentes gêneros e espécies, a disponibilidade de terras, mão de obra e o desenvolvimento tecnológico alcançado. De todos esses fatores, o de maior relevância foi o progresso alcançado em termos de produtividade e qualidade das florestas, visando atender as diferentes demandas industriais, envolvendo celulose para papel, chapas e painéis, carvão para siderurgia, madeira serrada, etc.
Todo esse sucesso, alcançado em pouco mais de quatro décadas, deve-se à associação de fatores relacionados à ciência e à tecnologia. Segundo o Prof. Carlos Henrique de Brito Cruz, Diretor Científico da FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a sustentação adequada do desenvolvimento econômico e social precisa apoiar-se em três pilares: pesquisa acadêmica, em geral, feita em universidades e institutos de pesquisas; formação de recursos humanos; e pesquisa e desenvolvimento no meio empresarial.
Analisando-se os diferentes setores produtivos da economia brasileira, constata-se que o florestal foi aquele que melhor conseguiu conciliar, de forma equilibrada, esse triplo desafio. As explicações encontram-se na existência de mais de 20 escolas de engenharia florestal no Brasil, espalhadas de norte a sul, e em entidades de integração universidade-empresa, entre as quais o Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais, IPEF, em Piracicaba.
Este serviu e serve de modelo e inspiração para outros, vinculados a diferentes universidades brasileiras. Além das universidades, destacam-se os institutos florestais dos diferentes estados e a Embrapa Florestas. Dos principais gêneros exóticos, sobre os quais se apóiam as florestas plantadas no Brasil, o Eucalyptus tem o início de sua história de pesquisa ligada a Edmundo Navarro de Andrade e ao Horto Florestal de Rio Claro, na década de 20.
O Pinus tem seus primeiros registros de pesquisa na década de 50, baseados em trabalhos de introdução do Instituto Florestal do Estado de São Paulo e algumas empresas florestais do PR e SC. Até 1960, a introdução dessas essências exóticas de rápido crescimento visava o atendimento de demandas localizadas e restritas, procurando substituir algumas nativas, principalmente, o Pinheiro do Paraná para a indústria madeireira e folhosas, sem tradição de uso para a indústria de celulose para papel.
A pesquisa restringia-se, simplesmente, em introduzir diferentes espécies dos citados gêneros, respeitando princípios básicos como adequação de solo e clima, referenciados às suas regiões de origem. A década de 70 caracterizou-se pelo lançamento de grandes empreendimentos florestais, programas governamentais e plantações extensivas.
Neste cenário, começava a cristalizar-se o modelo que vigora até os dias atuais, no qual as pesquisas mais básicas ficavam restritas à academia, enquanto as mais práticas e o desenvolvimento operacional passavam a ser assumidos pelas empresas. Na área de melhoramento florestal, as pesquisas concentravam-se na seleção de materiais genéticos de plantações já existentes, seleção de árvores matrizes para coleta de sementes e busca de novos materiais nas regiões de origem e adequação espécie-local.
Na área da silvicultura, as preocupações eram com as possíveis melhorias na produção de mudas e estudos de fertilização, tendo como alvo prioritário o aumento da produtividade. Em contrapartida, apareciam as primeiras preocupações com o surgimento de pragas e doenças. Além de medidas de controle e prevenção, a resistência aos mesmos passaram a ser incluídas nos critérios de seleção de espécies.
Na década de 80, surgiram os estudos de hibridação, visando, fundamentalmente, resistência a doenças, aumento da produtividade e melhoria da uniformidade da floresta, reformas de povoamentos, com materiais genéticos melhorados, novas tecnologias de plantio (como cultivo mínimo), manejo e exploração da floresta. Também nesta década, aparecem as primeiras preocupações com o conceito de qualidade e adequação matéria-prima, com o processo de transformação industrial.
Na década seguinte, consolidaram-se as seleções de clones, apoiadas em inúmeros critérios, tanto silviculturais, como ambientais e tecnológicos. A propagação vegetativa passou a predominar sobre a propagação, através de sementes, e ocorreu uma revolução nas técnicas dos viveiros, lembrando linhas de produção, até então só vistas em empreendimentos industriais.
Da mesma forma, foi consolidada a preocupação ambiental, em parte devido à preocupação com a sustentabilidade da floresta plantada, e em parte devido à necessidade da certificação florestal, como pré-requisito básico de todo o empreendimento. A certificação procura englobar uma ampla gama de aspectos, destacando-se, dentre eles, segundo o trabalho da Sociedade Brasileira de Silvicultura - SBS, cumprimento da legislação, a racionalidade dos recursos florestais, a conservação da biodiversidade, a preservação do ambiente, no que diz respeito ao solo, ao ar e às águas e, finalmente, o desenvolvimento econômico, social e ambiental, nas regiões onde se inserem o empreendimento florestal.
Para o Brasil manter sua vantagem competitiva, o futuro aponta para as técnicas de genômica funcional, associadas à biossegurança florestal, estudos de eco-eficiência, estudos de seqüestro de carbono, usos múltiplos e conseqüente consolidação do envolvimento dos pequenos e médios proprietários rurais, além dos programas tradicionais de fomento.
A experiência brasileira para equacionamento destas questões já demonstraram nosso diferencial na área florestal, mercê do know-how acumulado em torno dos três pilares elencados anteriormente: pesquisa acadêmica, formação de recursos humanos à altura do desafio e desenvolvimento tecnológico empresarial. Ressalte-se, a bem da verdade, que os citados pilares apóiam-se numa base sólida: determinação e competência gerencial do empresariado nacional, ligado ao setor florestal.