O setor florestal brasileiro consolidou-se como um dos pilares da economia nacional e global, sendo líder na produção de celulose, papel, painéis de madeira e biomassa energética. No entanto, as florestas plantadas enfrentam desafios cada vez mais complexos, decorrentes de mudanças econômicas, ambientais, sociais e tecnológicas.
A sustentabilidade da produção futura dependerá da nossa capacidade de superar essas barreiras e transformar desafios em oportunidades. A sustentabilidade é a base para o futuro das florestas plantadas no Brasil. A conservação de recursos naturais, como água, solo e biodiversidade, será cada vez mais crucial diante da utilização comercial das áreas produtivas e um diferencial de mercado.
Em diversos fóruns, tenho utilizado o termo “Silvicultura Regenerativa”; na realidade, faço uma alusão à tendência atual da agricultura e que, para nós florestais, compreende práticas como o cultivo mínimo, o manejo de resíduos, o preparo de solo apenas na linha de cultivo, uso de menores doses e menos aplicações de químicos, além da correta alocação clonal. O setor deve buscar práticas de manejo integradas e regenerativas, que equilibrem produtividade e proteção ambiental.
Paralelamente, os impactos das mudanças climáticas já se fazem sentir, com eventos extremos, alterações no regime hídrico, surto de pragas e aumento da pressão por espécies mais resilientes. O mercado global de produtos florestais enfrenta transformações significativas, impulsionado pela crescente demanda por produtos mais sustentáveis e tecnologias verdes.
Apesar do cenário marcado por incerteza e instabilidade, como destacado no relatório da Global Consulting Alliance (GCA 2024-Q3), o setor florestal brasileiro encontra-se diante de uma janela de oportunidade sem precedentes. O Brasil possui vantagens comparativas importantes, como clima favorável e alta produtividade por hectare, mas precisa superar desafios relacionados à logística, custos internos elevados e volatilidade cambial para manter sua competitividade.
Além disso, décadas de inação em políticas públicas, especialmente no âmbito federal, têm limitado o país a assumir uma posição de liderança sustentável. O crescimento da bioeconomia, com produtos inovadores como nanocelulose e bioplásticos, oferece caminhos promissores para agregar valor às florestas plantadas, diversificar mercados e consolidar o Brasil como referência global.
Para alcançar esse potencial, é essencial adotar uma visão estratégica que integre inovação, sustentabilidade e políticas públicas eficazes, transformando desafios em oportunidades de liderança internacional. A tecnologia desempenhará um papel transformador no futuro das florestas plantadas. Inovações no manejo florestal, como o uso de drones, sensores remotos e agricultura de precisão, já aumentam a eficiência das operações e reduzem custos.
O melhoramento genético deve estar focado na resiliência climática, o que envolverá a seleção e o desenvolvimento de clones capazes de suportar os desafios impostos pelo clima, como temperaturas extremas, secas, inundações, doenças e ataques de pragas. Destaco que será imprescindível o uso de microrganismos e bioinsumos integrados às práticas de manejo quer seja no viveiro, implantação/reforma ou talhadia para mitigar os impactos climáticos e manter e/ou ampliar o potencial produtivo.
Por outro lado, a automação e a Internet das Coisas (IoT) prometem conectar toda a cadeia de produção, permitindo decisões no manejo florestal em tempo real e otimizando o uso de insumos. Esses avanços, no entanto, exigirão investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento, bem como a capacitação técnica de profissionais do setor.
As políticas públicas desempenham papel crucial no avanço ou na estagnação do setor florestal. Um marco regulatório sólido e coerente é necessário para garantir segurança jurídica e atrair investimentos. A simplificação dos processos de licenciamento ambiental, assim como foi feito recentemente em Minas Gerais onde o Estado não é mais obrigado a exigir EIA/RIMA para todos os novos empreendimentos de plantios florestais acima de mil hectares, aliada a incentivos fiscais e financeiros, pode estimular novos plantios e a expansão sustentável das áreas florestais.
Nesse contexto, o Projeto de Lei 182, de 2024, que estabelece o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), foi aprovado, mas apresentou uma abordagem desequilibrada ao priorizar excessivamente o mercado voluntário, deixando em segundo plano o mercado regulado, que deveria ser o foco principal.
Este desequilíbrio no marco regulatório gera incertezas que podem impactar negativamente a capacidade de o setor florestal se posicionar como um ator estratégico na economia de baixo carbono. Para superar tais desafios, é essencial que ajustes sejam feitos no SBCE, garantindo uma estrutura que valorize tanto o mercado regulado quanto o voluntário, maximizando benefícios ambientais e econômicos.
Ao mesmo tempo, conflitos relacionados ao uso da terra, especialmente em regiões de alta pressão agrícola, devem ser geridos com planejamento territorial integrado, assegurando que as florestas plantadas coexistam com outras formas de uso do solo, como agricultura e conservação.
Os desafios para a floresta plantada do amanhã no Brasil de hoje são complexos, mas plenamente superáveis. A integração entre sustentabilidade, tecnologia, mercado e políticas públicas será determinante para consolidar o setor como uma referência global. O Brasil tem condições ímpares para liderar a transição para uma economia verde baseada em florestas plantadas, mas isso exigirá uma abordagem estratégica e colaborativa entre empresas, governo, academia e sociedade civil.
Nesse cenário, as certificações ambientais, como FSC e PEFC, tornam-se não apenas uma exigência de mercado, mas uma ferramenta estratégica para acesso a mercados globais e para garantir transparência e confiabilidade aos stakeholders. O futuro das florestas plantadas no Brasil é promissor, mas exige ações imediatas e coordenadas para garantir que a produção florestal continue contribuindo para o desenvolvimento sustentável, a conservação ambiental e a competitividade global.