Para quem acompanha o setor florestal brasileiro, não é novidade ouvir sobre as diversas boas práticas utilizadas em termos de manejo integrado para pragas e doenças. Relembrando alguns conceitos, o manejo integrado olha para além do uso do inseticida ou fungicida; ele avalia todo um contexto que envolve o cultivo, o agente causal (praga ou doença), sua distribuição e crescimento populacional, além da presença de outros controladores naturais e condições climáticas que possam desfavorecer o aumento das infestações.
Nos últimos anos, é notório o aumento de estudos dedicados a pragas e doenças florestais, bem como o nível de relevância que esse assunto tem tomado frente à alta gestão das empresas. Os prejuízos para produtividade florestal têm-se mostrado cada vez mais importantes e muitas vezes podem ser potencializados pelos eventos climáticos extremos que temos vivido nos últimos anos. Estudos para aprimorar o manejo integrado de pragas vêm sendo realizados de forma constante, sejam em forma cooperativa em institutos de pesquisa ou universidades, em parceria com fornecedores de soluções químicas ou biológicas e até mesmo internamente dentro das próprias empresas florestais.
O fato é que muitos destes estudos buscam como objetivo principal aprimorar os métodos de controle destas pragas, testando e validando novas tecnologias químicas ou biológicas, as quais trazem claramente resultados positivos, aumentando o leque de ferramentas disponíveis ou melhorando a eficiência daquelas já utilizadas.
Outro investimento de pesquisa usual nesse tema é a ampliação de laboratórios de controle biológico, com estruturas mais modernas para produção de inimigos naturais, ampliando as áreas de controle utilizadas em empresas florestais.
Além do que já citamos, outros aspectos importantes vêm sendo estudados, talvez ainda com pouca divulgação, os quais têm ajudado a completar o quadro do manejo integrado, que são as interações existentes de pragas e seus inimigos naturais, com relação à paisagem que circunda os plantios florestais e à forma com que os plantios foram planejados.
A Sylvamo, por exemplo, se vale da produção de diversos materiais genéticos de eucalipto em seu programa de plantio, e assumir que o comportamento de pragas como percevejo bronzeado e psilídeo-de-concha, apesar de serem considerados mais generalistas, será similar ou até mesmo negligenciar o seu poder de adaptação a materiais até então “pouco susceptíveis” é certamente um erro. Nossa percepção é que a cada ano que se passa há uma crescente necessidade de compreensão dos fatores detratores da produtividade e que as recomendações padronizadas para grandes maciços florestais são cada vez menos eficazes.
Em estudos realizados, conseguimos bons insights em relação, por exemplo, às preferências de ataque e dano causado de determinadas pragas a clones específicos, mapeando preferências importantes. Além dos clones, as idades dentro do ciclo de produção florestal também trazem informações relevantes, que, quando associadas, têm auxiliado as equipes de monitoramento e controle a serem mais eficientes e efetivas sobre o que encontrar e onde encontrar.
Além destes fatores mais intrínsecos aos plantios florestais, também temos buscado um entendimento da paisagem onde estamos inseridos, ampliando a visão para o uso do solo nos arredores dos plantios. Além do nosso entorno, o design e composição que estamos dando para as nossas áreas, sejam em termos de proximidade e mosaico com florestas nativas, extensões contínuas de plantio florestal, mosaico de idades e clones ali presentes, entre outros fatores, têm-se mostrado relevantes e exercem efeito sobre as infestações.
Apesar de serem análises complexas e muitas vezes não trazerem respostas simples ou exatas, são de extrema importância para entendermos e ampliarmos a visão sobre a escala do manejo integrado de pragas. Aliado a todo este contexto, não há como citar o efeito do clima sobre as infestações. O aumento constante de temperatura nos últimos anos, aliado a estiagens, como a que está ocorrendo, tem potencializado a ocorrência de surtos de pragas, que, além de prejudicar por si só a produtividade, ainda podem potencializar efeitos do estresse hídrico.
Acreditamos que a compreensão de relações e interações como estas traz cada vez mais variáveis para a mesa do manejo silvicultural, formando um cenário desafiador não somente no setor florestal, mas talvez para toda a agricultura, o que nos leva a acreditar em um aumento da complexidade no planejamento e tempo de execução das atividades, mudando talvez alguns dos paradigmas do manejo florestal. Para que isto seja duradouro, é preciso estarmos cada vez mais unidos como setor e trabalharmos em conjunto com universidades e centros de referência abordando esses temas-chave.