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Sebastião Venâncio Martins

Professor do Departamento de Ciências Florestais da UF-Viçosa

OpCP82

Monitoramento da vegetação em projetos em restauração florestal: avanços e desafios
A Organização das Nações Unidas (ONU) definiu o período de 2021 a 2030 como a Década da Restauração de Ecossistemas, como uma forma de incentivar e cobrar a restauração ecológica visando mitigar as mudanças climáticas, além de outros objetivos secundários. Na prática, essa e outras iniciativas internacionais resultaram em um aumento substancial de projetos de restauração, principalmente dos ecossistemas florestais.
 
Paralelamente ao aumento recente das demandas por projetos de restauração florestal e considerando que inúmeros projetos já foram implantados Brasil afora nas últimas duas décadas, surgiu também a necessidade de avaliação e monitoramento das áreas em processo de restauração.

Neste contexto, o monitoramento da restauração florestal é certamente um dos maiores desafios atuais, dada a extensão continental do País, diversidade de biomas e formações florestais resultantes de diferentes tipos climáticos, altitudes, tipos de solos, entre outras variáveis. Além disso, cabe destacar também as diferentes técnicas de restauração florestal implantadas em regiões distintas. Tudo isso torna o monitoramento complexo e desafiador, porém não impossível de ser realizado.

Entre os indicadores de monitoramento, aqueles relacionados a medições da vegetação (figura 1) têm sido os mais aplicados e que apresentam resultados que expressam melhor o sucesso, ou o fracasso, dos projetos de restauração florestal principalmente nos primeiros anos da implantação, pois a sobrevivência, a riqueza de espécies e o crescimento das mudas plantadas e dos regenerantes resultam da combinação de vários fatores como fertilidade do solo, competição com espécies invasoras, ataque de formigas cortadeiras, chegada de sementes via dispersão etc. Mas outros indicadores também são importantes, particularmente nas fases seguintes aos primeiros anos dos plantios, ou seja, no monitoramento ecológico, como presença de fauna (figura 2), serapilheira e ciclagem de nutrientes (figura 3) e o banco de sementes do solo (figura 4).

Buscando padronizar o monitoramento da restauração florestal, alguns protocolos foram criados para os biomas brasileiros, nos quais critérios e indicadores foram definidos, como densidade e riqueza mínimas de espécies a serem atingidas em determinados períodos após a implantação do projeto, taxas de cobertura mínima do solo e de gramíneas exóticas, presença de  espécies invasoras, entre outras. 

Contudo, apesar dos avanços e da grande contribuição destes protocolos para o sucesso da restauração em larga escala no Brasil, eles ainda esbarram em aspectos como generalização para diferentes situações e regiões. Por exemplo, não se pode esperar a mesma velocidade do processo de restauração para áreas extensas localizadas em paisagens agrícolas onde fragmentos florestais são ausentes ou muito isolados, de áreas menores próximas de remanescentes em bom estado de conservação. Indicadores que podem ser rapidamente atingidos em áreas com forte potencial de regeneração, com matriz florestal e solo não degradados, podem levar um tempo muito maior ou mesmo nem serem atingidos em áreas e paisagens muito antropizadas e em solos degradados.

Um aspecto importante e que muitas vezes não é considerado nos monitoramentos é a altura das mudas ao longo do tempo da restauração, pois, no reflorestamento com plantio em área total, é possível corrigir desvios dos projetos em termos de densidade de mudas e riqueza de espécies, através de replantios constantes, ainda que a custos elevados.

Assim, uma empresa prestadora de serviços de restauração pode assumir o compromisso de entregar determinada área com no mínimo certa densidade de mudas e número de espécies, e conseguir atingir os valores assumidos, fazendo replantios no final do projeto dois ou três anos após o plantio. Mas se as mudas do plantio original ou do replantio não crescerem o suficiente para superar a competição com gramíneas agressivas, por exemplo, altas taxas de mortalidade podem resultar nos anos seguintes e comprometer todo o projeto.

Após anos de avaliação e monitoramentos de projetos de restauração, em parceria com empresas como Energisa, CBA, CMPC, Gerdau, Samarco, TTG e Vale, foi elaborado pelo Laboratório de Restauração Florestal da Universidade Federal de Viçosa – LARF, um protocolo mais facilmente aplicável, de baixo custo na aplicação e que leva em conta o crescimento em altura das mudas. 

Como este primeiro protocolo do LARF é específico para projetos de restauração na Mata Atlântica, está em fase de elaboração versões para os demais biomas brasileiros.

Tecnologias modernas de monitoramento da vegetação em áreas em restauração têm ganhado força nos últimos anos, como o uso de imagens de satélites e drones e de LiDAR (Light Detection and Ranching), que permitem avaliar a cobertura do solo, densidade de mudas, estrutura do plantio entre outros parâmetros, tendo sido a dissertação de mestrado em Ciência Florestal pela UFV, de Bruna Paolinelli Reis, um dos primeiros estudos nesta linha. 

É inquestionável o avanço do monitoramento remoto com tais tecnologias, possibilitando a redução de custos, o monitoramento em larga escala e de áreas de difícil acesso, contudo, um gargalo que ainda persiste é a identificação total das espécies plantadas e de regenerantes através de imagens, sendo muitas vezes indispensável a checagem de campo, embora grande esforço e investimentos em pesquisas estejam sendo direcionados para melhorar essa identificação.

A cobertura de dossel das áreas em restauração também é um bom indicador do avanço do processo e pode ser obtida através de imagens áreas de drones e satélites, mas também internamente através de fotografias hemisféricas (figura 5). Contudo, sempre deve ser associada a outros indicadores, pois é possível atingir uma boa cobertura de dossel em florestas com baixa diversidade ou mesmo monodominantes.


Finalizando, fica evidente a ampla gama de indicadores e tecnologias disponíveis para o monitoramento da restauração florestal, cabendo ao pesquisador escolher aquelas que melhor atendam aos seus objetivos e às peculiaridades de cada projeto. 


 

1. Medição de altura das árvores com trena a laser em projeto de restauração.
2. Câmera trap utilizada no monitoramento de fauna em áreas em processo de restauração florestal. 
3. Coleta de serapilheira acumulada em áreas em processo de restauração florestal, para análises.
4. Avaliação do banco de sementes do solo de área em processo de restauração florestal.
5. Dossel de área processo de restauração florestal.