Professor de Entomologia Florestal da Unesp
Op-CP-14
Com o aumento expressivo da área plantada com espécies florestais no Brasil, principalmente, eucalipto e pínus, tem-se constatado aumento na ocorrência de pragas nativas e exóticas. O melhor caminho para resolver esse problema é o manejo integrado de pragas. A agricultura teve grande aumento de produtividade após a 2ª Guerra Mundial.
Uma parte significativa dessa produtividade foi baseada no uso de agrotóxicos, principalmente inseticidas químicos. Entretanto, o uso indiscriminado e abusivo desses compostos gerou uma série de problemas, como a resistência das pragas aos inseticidas, contaminação ambiental, etc. A resposta a esses problemas surgiu na década de 1970, com a proposta do Manejo Integrado de Pragas - MIP.
O MIP é uma filosofia baseada no uso de técnicas para manipulação do agroecossistema, visando manter os insetos na condição de não-praga, de forma econômica e harmoniosa com o meio ambiente. Dessa forma, não é necessária a erradicação da praga no campo, o que é quase impossível, mas apenas manter a praga em níveis baixos, possibilitando a convivência com o inseto no campo. Para várias culturas agrícolas, o MIP foi estudado e implementado junto aos produtores.
O MIP é baseado em um tripé: Avaliação do ecossistema, envolvendo monitoramento de pragas e inimigos naturais; a tomada de decisão - controle ou não-controle, e escolha do método de controle, buscando, se possível, a integração entre eles. Os principais benefícios do MIP são a redução no uso de inseticidas químicos, pela utilização apenas nas áreas com infestação da praga ou pela possibilidade de uso de métodos alternativos ou pela integração entre os métodos, satisfazendo uma questão-chave no processo de certificação florestal.
Além disso, reduzem-se os riscos das pragas tornarem-se resistentes aos inseticidas e de desequilíbrio ambiental, pois a população de inimigos naturais é preservada no campo. Tudo isso leva, conseqüentemente, à redução de custos no processo de produção. No caso de florestas plantadas ainda não há MIP florestal, basicamente por falta de mais pesquisas básicas, principalmente quanto à quantificação de danos, relacionada à infestação da praga, o que é chamado de nível de dano e de controle.
Uma das complicações é a altura das árvores, que dificulta a avaliação da infestação. A outra é a grande extensão de áreas plantadas, o que dificulta o monitoramento. Entretanto, temos alguns exemplos de MIP florestal no Brasil. O primeiro é o monitoramento de formigas cortadeiras, que envolve o sistema de amostragem, em faixas ou transectos, e contagem e medição dos ninhos das formigas cortadeiras e avaliação de danos.
Após isso, os dados são analisados e é feita a recomendação (controle ou não-controle) e a forma desse controle (qual tipo de formicida, quantidade estimada e forma de aplicação). Posteriormente, é feita a avaliação da aplicação, ou seja, o controle de qualidade do processo. O monitoramento de formigas cortadeiras que, na verdade, pode ser considerado como MIP, tem possibilitado otimização na operação de controle e redução de custos, pois se aplica formicida apenas nas áreas necessárias e tem-se controle da quantidade a ser usada, evitando-se desperdício.
Outro programa interessante é o monitoramento de cupins em plantios de eucalipto. Os cupins são um tipo de praga de difícil previsão de ocorrência, pois são subterrâneos, ou seja, não visíveis ao produtor ou operador. Seus danos são a destruição do sistema radicular ou o anelamento do caule das mudas novas. A maioria dos empreendimentos florestais faz controle preventivo, através do tratamento de mudas por imersão em solução inseticida.
O programa de monitoramento de cupins, apesar de não poder ser considerado como MIP, pois ainda não há tomada de decisão, baseado no grau de infestação, atinge os principais objetivos do manejo de pragas. O monitoramento de cupins avalia a presença ou ausência de cupins-praga em uma área, através de instalação de iscas de papelão no solo. Após 30 dias, essas iscas são avaliadas e é feita a recomendação, baseada apenas na presença da praga.
Mesmo assim, a redução do uso de inseticidas químicos é expressiva, sendo, em média, acima de 60%, variando de, aproximadamente, 50% até 100%, em algumas regiões da Bahia, ou seja, esse programa tem demonstrado que os cupins são pragas pontuais, com possibilidade de determinar precisamente os focos de infestação para controle. Um terceiro exemplo é o MIP da mosca do viveiro, em viveiros de eucalipto.
A mosca do viveiro é formada, na verdade, por diferentes espécies de moscas da família Sciaridae, que colocam seus ovos no substrato e suas larvas alimentam-se da estaca de eucalipto, impedindo seu enraizamento. As perdas podem passar de 90% de estacas, em viveiros com alta infestação. O controle sempre foi baseado em aplicação de inseticidas químicos, com aplicações semanais ou até mais freqüentes, com resultados insatisfatórios ou extremamente caros e impactantes.
O programa de MIP para a mosca do viveiro teve que ser iniciado do zero, inclusive com a identificação das espécies, que, hoje, se sabe, são três distintas. Com o estudo da biologia do inseto, para o conhecimento da duração e fases do ciclo de vida, determinou-se a melhor fase para o controle. Em seguida, foi desenvolvido o sistema de monitoramento da praga, para avaliar com precisão as infestações nas casas-de-vegetação - CV, e também determinar o nível de controle da praga.
Nesse caso, a amostragem foi baseada na contagem de adultos da mosca capturada em armadilhas adesivas amarelas, distribuídas nas CVs. Depois, foram avaliadas as opções de controle, desde controle cultural, até seleção de inseticidas químicos de baixa toxicidade. Como resultado final, recomenda-se a escolha criteriosa da fonte de matéria orgânica do substrato para as mudas, pois o substrato é a mais provável fonte das infestações, eliminação adequada do resto de substrato e, quando necessário, a aplicação do inseticida biológico à base de Bacillus thuringiensis var. israelensis, específico no controle de moscas e mosquitos.
Novamente, teve-se redução de custos e praticamente a eliminação da necessidade de uso de inseticidas químicos, reduzindo impactos ambientais no viveiro e risco de contaminação dos funcionários envolvidos. Esses exemplos demonstram que é possível o desenvolvimento de programa de MIP em plantações florestais na região tropical, atendendo às exigências impostas pelo mercado, através das certificações florestais.