A região Nordeste do Brasil compreende 1,56 milhão de km2, dos quais o semiárido ocupa 0,98 milhão, sendo o 0,58 milhão restante ocupado pela Zona da Mata e áreas costeiras. Segundo o IBGE, existem, no Nordeste, 30,5 milhões de hectares ocupados com pastagens, sendo 16 milhões com pastagens naturais e 14,5 milhões com pastagens cultivadas. Do total de cultivadas, 12,3 milhões de hectares são de pastagens em boas condições, e apenas 2,2 milhões de degradadas.
No entanto, aplicando-se para a região a mesma estimativa de 80%, feita por Kichel, para o Brasil, o quantitativo de pastagens nordestinas com algum grau de degradação seria de 11,6 milhões de hectares. Considerando-se, ainda, que a maior parte do semiárido é ocupada pela caatinga, essa composição florística deve ter sido considerada pelo IBGE como “áreas ocupadas com essências florestais também usadas para pastejo”, e não como pastagens.
Essa categoria de florestas representa, no Nordeste, 19 milhões de hectares. Dessa forma, estima-se que os 16 milhões de hectares com pastagens nativas estão, em sua maioria, localizados em locais onde a caatinga foi removida, enquanto as cultivadas estão nas zonas mais úmidas, representadas pelo agreste e a mata. O rebanho da região Nordeste, em 2006, era composto de 25,3 milhões de bovinos, 6,47 milhões de caprinos, 7,8 milhões de ovinos, que têm, nas pastagens, sua fonte quase exclusiva de alimento e encontram-se, em maiores concentrações, nas zonas da mata e no agreste.
Em ambos os casos, a quantidade de animais é bem acima do que as pastagens podem suportar, condicionando a uma crescente degradação das mesmas. A iLPF, em suas diversas modalidades, tem sido apontada como a estratégia mais sustentável para a recuperação das pastagens degradadas e sua permanência ao longo do tempo nas diversas regiões do País. No Nordeste, porém, as pesquisas com sistemas de integração ainda são recentes, mas já apresentam resultados bastante satisfatórios. A adoção desses sistemas, por outro lado, ainda é incipiente, necessitando de estratégias de transferência mais efetivas e em maior quantidade.
iLPF no semiárido: As estratégias de iLPF para o semiárido têm como foco principal o manejo racional da vegetação nativa da caatinga e o desenvolvimento de modelos produtivos. O uso de espécies nativas, como maniçoba, mandioca, pornunça, mamãozinho-de-veado, postumeira, mandacaru sem espinho, camaratuba, umbuzeiro, mororo e sabiá, visam a seus aproveitamentos em sistemas isolados ou em consórcio com outras forrageiras herbáceas e arbóreas. Além das forrageiras nativas, espécies exóticas, como os capins buffel e urocloa, as palmas forrageiras, as leguminosas arbóreas leucena, gliricídia e algaroba são também utilizadas. Quanto aos modelos produtivos, o foco tem sido a integração dos elementos nativos ou exóticos adaptados, dando origem a modelos capazes de aumentar a sustentabilidade dos sistemas produtivos.
Sistema CBL: Caatinga/Buffel/Leguminosas arbóreas. Garrotes criados nesse sistema podem atingir 14-15 arrobas aos 24-30 meses. Em termos de quilogramas de bezerros desmamados, o sistema propicia um aumento de 1.000% em relação ao sistema tradicional.
Cabrito Ecológico: Caprinos de raças ou ecotipos nativos criados semiextensivamente com pastejo em áreas de caatinga e capim-buffel, com suplementação nos períodos críticos do ano usando resíduos agrícolas ou agroindustriais.
Sistema Sipro - Sistema Integrado de Produção Experimental: Simulação de propriedade com quatro componentes ou subsistemas: agricultura dependente de chuva (11,57 ha), agricultura com irrigação de salvação (1,5 ha), pecuária baseada na exploração da caatinga e produção florestal.
Sistema agrossilvipastoril: Sistema integrado abrangendo três parcelas de igual dimensão: área destinada à produção agrícola, à atividade pastoril e à produção madeireira.
iLPF nas Zonas da Mata e Agreste: As iniciativas de implantação de sistemas de iLPF na Zona da Mata baseadas em recomendações tecnológicas têm um histórico muito recente e são ainda em pequeno número. Um exemplo dessa iniciativa são os sistemas implantados por algumas grandes empresas de produção de celulose em plantações de eucaliptos e pinho Bahia. Esses sistemas seguem o modelo clássico adotado por empresas similares no estado de Minas Gerais e oeste da Bahia.
Em virtude da necessidade de adaptações na estrutura do sistema florestal vigente e de uma maior lucratividade do componente madeireiro em comparação ao pecuário, o sistema integrado não tem tido grande expansão nessas empresas, mas desponta como excelente opção para médios e pequenos pecuaristas locais, que começam a ver na silvicultura uma alternativa de aumento da renda da propriedade. Por outro lado, os sistemas iLPF baseados no uso da gliricídia ou da leucena como componente arbóreo em consórcio com lavouras, gramíneas e palma forrageira estão em grande expansão nessas sub-regiões. Especificamente para a condição das áreas costeiras, o consórcio da gliricídia com o coqueiro tem mostrado resultados bastante promissores.
Um sistema que se tem mostrado de alta eficiência para a recuperação de pastagens degradadas das Zonas da Mata e Agreste é o consórcio da gliricídia com milho e capim-braquiarão. A gliricídia é cultivada em alamedas com o milho e o braquiarão, cultivados juntos nos dois primeiros anos entre as alamedas, em plantio direto. A entrada dos animais em lotação rotacionada é feita no segundo ano após a colheita do milho. Daí em diante, o produtor escolhe entre continuar com o sistema de iLPF completo, com nova cultura do milho, ou apenas com o sistema silvipastoril.
Um ensaio de longo prazo vem sendo conduzido nos tabuleiros costeiros de Sergipe desde 2008, comparando a eficiência desse sistema à B. brizantha em monocultivo e sem fertilização nitrogenada, ou fertilizada com nitrogênio nas doses de 80, 160 e 240 kg de N ha-1. Uma análise financeira simplificada é apresentada na tabela em destaque, considerando apenas como entradas a comercialização das arrobas ganhas no ano, em cada um dos sistemas, a um valor básico de R$ 100,00, e, como custos, os valores dos fertilizantes usados em cada um dos tratamentos, também considerando um valor básico de R$ 1.000,00 por tonelada.
No sistema de braquiária brizantha fertilizado com nitrogênio, ocorreu um aumento da margem bruta de lucro até a dose de 80 kg/ha, enquanto, no sistema consorciado, foi mais do que o dobro daquela. Dessa forma, o sistema consorciado com gliricídia, além de outras vantagens não levantadas nesse trabalho, tem maior sustentabilidade econômica do que a aplicação de fertilizantes nitrogenados minerais.
Na tabela, destaca-se a análise financeira simplificada da produção de garrotes em sistemas de Brachiaria brizantha fertilizado com diferentes doses de nitrogênio ou em consórcio com a Gliricidia sepium. Na Zona do Agreste, mais especificamente visando aos produtores de leite, tem-se estudado a utilização de pastagens cultivadas com os capins: buffel, grama aridus e urocloa em consórcio com gliricídia ou leucena; bancos de proteína de leucena ou gliricídia, consorciado com milho e/ou feijão; áreas de palma forrageira consorciadas com gliricídia nas linhas e milho nas entrelinhas; áreas reflorestadas com sabiá e cercas vivas forrageiras de gliricídia. Esses sistemas já têm suas eficiências comprovadas, mas necessitam de maiores esforços para suas difusões e adoção.
Os sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF) possuem aplicabilidade para quase todas as mais diferentes condições de clima, solo, topografia, tamanho da propriedade, modelo da empresa agrícola, condição social dos atores e sistema agropecuários da região Nordeste. Em alguns locais, modelos simples de integração já são praticados há algum tempo, independente da existência de modelos previamente desenvolvidos e difundidos entre os produtores. Para essa situação, um programa de pesquisa e transferência de modelos, adaptados às condições locais, possui maior chance de adoção e sucesso. A introdução de espécies arbóreas com maior número de serviços do que as encontradas, ou a seleção daquelas mais eficientes entre as existentes, bem como o uso de novos modelos de distribuição espacial das árvores na pastagem, são estratégias muito bem recebidas por aqueles produtores que já se beneficiam do consórcio.