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Francides Gomes da Silva Júnior

Professor de Tecnologia de Celulose e Papel da Esalq-USP

Op-CP-19

As gerações de engenheiros florestais

A história da engenharia florestal no Brasil é bem conhecida de todos os profissionais que atuam na área; sempre que se elabora a biografia de algum profissional de destaque ligado ao setor, ou se faz uma avaliação histórica da atividade florestal no Brasil, essa história é mais uma vez recontada. Nesta edição da Revista Opiniões, a história da engenharia florestal no Brasil é apresentada com riqueza  de detalhes por efetivas testemunhas oculares.

A engenharia florestal tem sua raiz ligada às ciências agrárias, e sua origem, nas principais universidades brasileiras, ligada aos cursos de agronomia - as universidades formavam agrônomos silvicultores. Apesar da raiz comum, as particularidades e complexidade das atividades florestais formam um arcabouço técnico e científico que compõe o que hoje se denomina ciência florestal.

A consolidação desse conceito extrapola as ciências agrárias, que não mais conseguem acomodar as necessidades da sociedade, especialmente a brasileira de meados do século passado. É sob esse contexto que nasce a engenharia florestal no Brasil; em um primeiro momento, com uma visão de florestas de produção, visando atender à crescente demanda brasileira por madeira para processamento industrial oriunda de florestas plantadas.  

Os primeiros cursos no Brasil, por mais paradoxal que possa parecer, ainda formavam “engenheiros silvicultores”, e isso era compreensível, pois a grande maioria dos docentes era composta por agrônomos silvicultores. As primeiras turmas de engenheiros florestais formados pelas universidades brasileiras foram rapidamente absorvidas pelo mercado, uma vez que a demanda por esses profissionais era grande, em face do desenvolvimento que atividades florestais brasileiras apresentavam à época.

De uma forma pseudodidática, podemos dizer que os dez primeiros anos da engenharia florestal no Brasil deu origem à primeira geração de engenheiros florestais brasileiros.  Essa geração de engenheiros florestais contribuiu significativamente para a consolidação da profissão de engenheiro florestal, e esse profissional ocupa lugar de destaque no setor, tanto público quanto privado.

A ampliação das áreas de plantios florestais no Brasil trouxe à tona a discussão sobre os possíveis impactos socioambientais das atividades silviculturais; essa discussão teve reflexo na reestruturação da formação acadêmica dos engenheiros florestais com a inclusão de diversas disciplinas que tratam desse tema. Essa ampliação no escopo da formação do engenheiro florestal trouxe para a ciência florestal profissionais com formações distintas, tais como biólogos, geógrafos, ecólogos, gestores ambientais, economistas, sociólogos, entre outros.

Essa movimentação contribuiu para a consolidação de um importante segmento da engenharia florestal, a qual corresponde à  área, genericamente, denominada de manejo e conservação de ecossistemas florestais. O aumento da produção de florestas para fornecimento de madeira para processamento industrial mostrou a necessidade de profissionais com formação específica no que se refere ao processamento industrial da madeira - tecnologia de produtos florestais, área esta, cuja formação ainda está restrita à engenharia florestal e, mais recentemente, à engenharia industrial madeireira.

Os aspectos mencionados anteriormente mostram que a engenharia florestal no Brasil está sustentada por três pilares genericamente denominados: silvicultura (no seu sentido mais amplo), conservação e manejo de ecossistemas florestais e tecnologia de produtos florestais. Essa divisão encontra reflexo nos diversos cursos de engenharia florestal, atualmente distribuídos em todo o território nacional.

Os cursos de engenharia florestal com maior enfoque em silvicultura são aqueles primordialmente ligados às universidades pioneiras na implantação da carreira de engenheiro florestal e que geograficamente estão localizados nas regiões brasileiras mais tradicionais na produção de florestas plantadas. Os cursos com maior enfoque em manejo e conservação de ecossistemas florestais estão ligados a faculdades e universidades com maior vocação para a área de biologia e ecologia e localizados em regiões com ecossistemas florestais de importância estratégica para o Brasil e para o mundo.

Os cursos de engenharia florestal com maior enfoque na área de tecnologia de produtos florestais encontram-se ligados efetivamente à área das engenharias propriamente ditas. Ao completar 50 anos, a engenharia florestal no Brasil vê a sua primeira geração de profissionais completar seu ciclo e ser substituída por novos engenheiros florestais, estes, por sua vez, formados efetivamente por engenheiros florestais. Um olhar atento e filosófico para o futuro, com um sólido conhecimento do passado, mostra-nos que a engenharia florestal do século XXI caminha a passos largos para mais algumas mudanças, dando àqueles observadores mais atentos a clara noção da volatilidade das fronteiras do saber.