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Marco Antônio Fujihara

Diretor da Key Associados

Op-CP-28

Democracia e sustentabilidade no mercado de capitais

A redução das taxas de juros praticadas no País está acelerando um movimento muito interessante no mercado de capitais brasileiro. O fim dos ganhos fáceis e de baixo risco com a compra de títulos públicos, combinado com a percepção da crescente complexidade da atuação das empresas, obriga gestores de investimentos a desenvolverem produtos inovadores, que considerem não só os tradicionais riscos empresariais, mas também as condições de sustentabilidade dos negócios.

Se, por um lado, esse movimento tende a promover uma democratização dos produtos financeiros entre os aplicadores – até mesmo entre os órfãos da poupança da classe média, atentos à importância de buscarem novas modalidades de investimentos, caso queiram manter a boa rentabilidade de suas carteiras –, também deve ampliar o acesso das empresas a tais oportunidades de financiamento.

Aí também é necessária a democratização. Afinal, hoje o custo de se fazer uma oferta de ações na bolsa de valores no Brasil – da ordem de R$ 500 mil – é inacessível para a maioria das empresas do País. Não só é preciso diminuir esse custo (e a burocracia envolvida nesse processo) como é fundamental o desenvolvimento de novas alternativas de participação nas empresas, como fundos de venture capital.

Do lado das empresas, o principal desafio é fazer a lição de casa de aperfeiçoar seus processos e, em muitos casos, aceitar o envolvimento de novos sócios diretamente nos processos de gestão. E esses gestores deverão estar justamente preocupados com a sustentabilidade dos negócios.

Por sustentabilidade, entenda-se não uma palavra da moda, mas sim uma atuação que efetivamente leve em conta os impactos ambientais, sociais e econômicos da empresa. O desafio é ir muito além da reciclagem do lixo do escritório ou da economia de papel por meio do uso de internet: a sustentabilidade tem de ser entendida como parte fundamental do próprio negócio. Afinal, a manutenção do tripé sustentável é que vai garantir o futuro da maioria dos negócios.

Um exemplo para ilustrar: recentemente, fui consultado por uma empresa que havia sido multada pelo Ibama por ter desmatado uma pequena área no interior de Minas Gerais. Sua principal dúvida era como explicar a multa para seus acionistas. O fato é que a multa é o de menos.

Ao desmatar aquela área em particular, a empresa provavelmente inviabilizou a manutenção da nascente existente no local, o que poderá inviabilizar a manutenção de suas operações na região. Portanto, mais do que se preocuparem com os gastos momentâneos com uma multa, os acionistas terão de se atentar para o risco de que o próprio negócio seja comprometido. É esse tipo de questão de sustentabilidade que os gestores precisam levar em conta.

Isso porque o novo cenário de investimentos também traz um componente adicional, que é a questão do prazo. A tendência – e já era em tempo – é que deixemos de ser um país que atrai capital especulativo: precisamos de investidores de longo prazo, interessados em efetivamente se tornar sócios dos nossos empreendimentos.

Gente que queira crescer junto com o Brasil, não só aproveitar nossos juros altos. São sócios que não estão preocupados com a oscilação da bolsa de valores no curto prazo, mas com a capacidade de criação de valor de uma companhia e real condição de crescimento e manutenção do seu negócio daqui a 20 ou 30 anos.

Ou seja, o novo investidor está preocupado em encontrar boas opções de rentabilidade duradouras – portanto, de negócios sustentáveis –, e as empresas precisam se organizar para receber esse investidor. A compreensão dessa realidade por companhias e gestores fará toda a diferença no futuro.

Temos de cumprir nosso papel de desenvolver essas oportunidades e estimular as empresas brasileiras. Certamente, ao conseguirem condições para financiar o seu desenvolvimento sustentável, essas empresas terão condição de remunerar bem não apenas seus sócios, como também contribuir intensamente para o crescimento sustentável do nosso país.