Thaumastocoris peregrinus, Leptocybe invasa, Glycaspis brinblecombey, Gonipterus scutellatus. Quem não é do meio florestal certamente considera esses nomes estranhos e difíceis de pronunciar. Representam um grupo de insetos australianos introduzidos acidentalmente no Brasil e que causam sérios problemas ao produtor de eucalipto. Para facilitar a vida dos que não têm proximidade com a entomologia, logo ganharam apelidos.
Seus nomes comuns são, respectivamente, percevejo bronzeado, vespa da galha, psilídeo de concha e gorgulho. Os 3 primeiros chegaram aqui há menos de 15 anos, e o último da lista, há mais de 40 anos. Hoje, essas 4 pragas fazem parte das preocupações que o produtor florestal deve ter ao conduzir suas atividades. Somam-se a outras já tradicionais, como formigas, lagartas desfolhadoras e o besouro amarelo. No futuro, é bem provável que tenhamos preocupações adicionais com outros insetos, que já ocorrem de forma endêmica ou que ainda não existam em solo brasileiro.
O grande fluxo de pessoas e mercadorias, comum em uma economia globalizada, favorece a entrada de novos insetos e micro-organismos em locais onde, anteriormente, eles não existiam. Dessa forma, é bem provável que outros insetos exóticos ainda apareçam por aqui trazendo prejuízos ao produtor florestal.
A maneira mais adequada para enfrentar esses desafios é o manejo integrado de pragas. O silvicultor deve procurar formas de monitorar a população do inseto causador dos prejuízos e tentar manter essa população em níveis adequados, sem que ocorram danos econômicos ao plantio.
Simples de propor, mas, muitas vezes, difícil de fazer, o monitoramento requer conhecimento da biologia da praga e o uso de armadilhas eficientes para a captura do inseto. Uma vez detectado o inseto e reconhecido que o dano econômico está presente, o silvicultor também terá dificuldades para controlar a praga.
Entre as alternativas disponíveis ao produtor, estão o uso de inseticidas químicos ou biológicos, a distribuição de insetos parasitoides que se alimentam dos insetos praga e, no longo prazo, o plantio de espécies ou clones menos suscetíveis.
Para a maioria desses insetos, não existem produtos químicos aprovados para uso florestal pela legislação brasileira. Os produtos químicos reconhecidamente eficientes podem ser fatais aos parasitoides e a outros insetos que não trazem danos à floresta.
Não há, no mercado, parasitoides que possam ser adquiridos e usados de imediato. Finalmente, a troca de espécies ou clones pode ser extremamente onerosa, sendo viável apenas ao final da rotação. Ainda com o agravante de alguns clones poderem ser mais tolerantes a um determinado inseto e suscetíveis a outro.
O agricultor enfrenta desafios semelhantes aos do silvicultor: doenças e insetos-praga são parte do dia a dia. A diferença é que o agricultor conta com uma variedade maior de recursos para enfrentar o problema. A quantidade de insumos químicos disponíveis para o agricultor é maior e ele dispõe de uma tecnologia poderosa, as sementes transgênicas.
Por meio do uso de cultivares geneticamente modificadas, o agricultor controla as ervas daninhas e as lagartas com mais facilidade e a um custo menor. Os cultivares tolerantes ao herbicida e às lagartas fazem sucesso com os agricultores brasileiros há mais de uma década. Soja, milho e algodão são as culturas onde essa tecnologia é mais utilizada. Alguns cultivares oferecem ao agricultor um grupo de características genéticas positivas agregadas à mesma semente.
Como exemplo, há um cultivar de soja que é mais tolerante à ferrugem e, ao mesmo tempo, tolerante a um herbicida e a uma ampla gama de lagartas. Nessa soja, a primeira característica foi obtida por melhoramento convencional, e as duas últimas, por transgenia. Essa associação de melhoramento convencional e biotecnológico é uma realidade na agricultura atual.
Para o silvicultor, a realidade é mais dura. Não existem cultivares de espécies florestais tolerantes ao herbicida e às lagartas. Portanto o controle do mato e o combate às lagartas devem ser feitos de forma convencional. A aplicação de herbicidas requer cuidados extremos para evitar o contato do produto com a espécie florestal, e o controle de lagartas, quando necessário, é realizado principalmente com o uso de produtos biológicos, à base de Bacillus thuringiensis.
Ou seja, o agricultor pode utilizar a tecnologia em sua plenitude. Já o setor florestal não. As grandes empresas que desenvolvem cultivares agrícolas geneticamente modificados parecem ignorar o mercado florestal no que diz respeito à aplicação dessa tecnologia em espécies florestais.
O argumento mais usado é o de que o mercado florestal é ainda pequeno, insuficiente para justificar o investimento. Essas mesmas empresas têm se limitado a oferecer ao silvicultor soluções químicas, promovendo a regulação para uso florestal, de produtos já existentes na agricultura. A superação de tal situação dependerá do esforço das próprias empresas brasileiras, por meio do desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas para uso em nosso território.
Já existem algumas iniciativas nessa direção. A CTNBio, órgão brasileiro que regula os trabalhos com biotecnologia, vem analisando e aprovando pesquisas e desenvolvimento nessa direção. Será um longo caminho. Mesmo com plantas agrícolas, a obtenção de um cultivar geneticamente modificado pode levar mais de 10 anos. Com o eucalipto, deve-se superar esse tempo e exigir-se muitos recursos financeiros, humanos e científicos.
Mas o caminho já está sendo trilhado, e, em breve, o eucalipto geneticamente modificado deverá chegar ao mercado, contribuindo para gerar mais recursos para o País, mais empregos e benefícios sociais. Pesquisas recentes com cultivares agrícolas mostram que o uso dessas plantas trouxe 37% de redução no uso de pesticidas, 22% de aumento de produtividade e 68% de aumento de lucro para os agricultores.
Os questionamentos sobre a biossegurança dessa tecnologia também começam a ser respondidos de forma mais consistente. Recentemente, um grupo de 110 cientistas agraciados com o Prêmio Nobel assinaram um documento onde ratificam a importância dessa tecnologia, apoiando a pesquisa, o desenvolvimento e o consumo de plantas transgênicas. A informação pode ser acessada através do link: https://www.washingtonpost.com/news/speaking-of-science/wp/2016/06/29/more-than-100-nobel-laureates-take-on-greenpeace-over-gmo-stance/.
Essa tecnologia é eficiente e segura para uso agrícola e também o será para nossas florestas cultivadas. A biotecnologia não resolverá todos os problemas do setor florestal no Brasil, mas certamente ajudará o País a continuar sendo uma potência global na produção de madeira através de florestas plantadas.