Coordenador de Desenvolvimento de Produtos Florestais e Coordenador de Marketing em Florestas da Bayer América Latina
Estamos em acelerada transformação. Essa frase poderia ser dita em qualquer momento dos últimos 30 anos, desde que a internet se popularizou, permitindo rápidas transformações na forma como consumimos, nos relacionamos, trabalhamos ou nos divertimos. É até difícil se lembrar da vida sem o Waze, o Facebook ou os bancos digitais, por exemplo.
Mas esses são todos exemplos de inovações que surgiram (ou se popularizaram) há não mais que 10 ou 12 anos. Desde o início de 2020, porém, um fato somente comparável a crises como as causadas por grandes guerras acomete o planeta. Nem mesmo as maiores crises econômicas ou os maiores desastres naturais de nossa história recente tiveram o poder de catalisar a transformação da humanidade como a Covid-19 vem apresentando.
Enquanto temos enfrentado o isolamento social, o uso de ferramentas que nos permitem acesso a sistemas de forma remota e a participação em reuniões de dentro de sua própria casa passaram a ser rotina de muitos profissionais. Com esse uso em massa, a capacidade de acesso a redes necessitou ser ampliada, garantindo qualidade na comunicação; muitas plataformas virtuais que eram pouco ou nem conhecidas ganharam notoriedade, e, assim, passamos a ter diariamente lives recreativas e também as técnicas.
Nada substitui a emoção de estar ao vivo em um show próximo ao seu ídolo ou o networking durante o intervalo de um congresso técnico. Mas, mesmo no “novo normal” (e isso já está acontecendo em países que relaxaram as medidas de isolamento), as formas remotas de interagir continuaram e assim seguirão, de forma intensa e frequente.
O tal home office, que já era praticado por algumas empresas, de forma bastante tímida, passou a ser regra e não mais exceção. Esse fenômeno criou, inclusive, a percepção duvidosa da real necessidade de escritórios que comportem todos os colaboradores efetivos em todos os dias úteis.
Da mesma forma, nós provamos o quão produtivos podemos ser trabalhando mesmo de casa. O mesmo raciocínio se aplica às viagens de trabalho. Indubitavelmente, algumas interações entre fornecedores e clientes continuarão necessariamente a ser presenciais. Visitas a campo para visualização de resultados de experimentos, testes de novos equipamentos ou tecnologias e alguns tipos de treinamentos dificilmente terão a mesma eficiência e resultados satisfatórios se feitos remotamente.
No entanto, viagens (às vezes de ida e volta no mesmo dia, cruzando o País) apenas para fazer um acompanhamento de um projeto ou de uma negociação parecem perder sentido em um momento no qual conseguimos fazer quase tudo remotamente. E isso pode ser um “legado” benéfico da Covid-19 para milhares de funcionários e executivos de grandes corporações, que terão mais qualidade de vida e poderão passar mais tempo com suas famílias.
E até mesmo para o meio ambiente, com a redução do uso de combustíveis, por exemplo. Mesmo para atividades nas quais a presença física é mandatória, como trabalhos no campo, o avanço da tecnologia já reduziu drasticamente a quantidade necessária de profissionais. No controle de plantas daninhas em plantios florestas, o número de funcionários dedicados à capina manual foi reduzido a poucas máquinas roçadeiras ao longo das últimas décadas.
Além disso, os herbicidas, cada vez mais eficientes, reduzem a necessidade presencial do homem no campo para o combate às plantas daninhas, principalmente com as tecnologias de controle na pré-emergência e de longo residual. Existem muitos outros exemplos de tecnologias que favoreceram e trouxeram eficiência para as operações silviculturais: automação de viveiros; máquinas conjugadas que realizam diversas operações ao mesmo tempo, no momento da subsolagem; plantadeiras mecanizadas; ferramentas de monitoramento via imagens de satélite ou de drone e, finalmente, na colheita e extração florestal, que quase extinguiu a motosserra nas grandes empresas florestais e passou a utilizar grandes máquinas, com conforto e automação na operação e coleta de informações, de forma instantânea.
Então, o que teremos de novo? Quais serão as novas transformações? Difícil prever, porém muitas delas, que estavam apenas sendo desenvolvidas a passos contados e a longo prazo, serão, necessariamente, catalisadas. A busca incessante das empresas florestais por tecnologias que reduzam os trabalhos manuais e número de funcionários no campo ganha um novo apelo com a necessidade de atendimento de protocolos de distanciamento social.
A estrutura necessária para transporte, alimentação e descanso dos funcionários, em tempos de pandemia é, no mínimo, duas vezes maior. Isso, obviamente, reflete em aumento de custos por hectare plantado. E essa realidade, ao que tudo indica, permanecerá, mesmo parcialmente, após o período mais crítico da pandemia.
Inovações que contribuam para que as empresas florestais atinjam os mesmos resultados em trabalhos de campo com menos funcionários ou que reduzam os custos com protocolos de saúde terão maiores chances de se consolidarem. No que tange, ainda, especificamente à pesquisa e ao desenvolvimento em silvicultura, o uso de ferramentas que permitam coleta de informações de forma remota, digitalização e inteligência artificial no uso de dados será cada vez mais comum.
Essas inovações virão na forma de aplicativos, dispositivos, câmeras especiais que captam imagens em tempo real ou radares que, mesmo a partir do espaço, coletam informações abaixo das copas das árvores, incluindo aí o subsolo das florestas. Já são realidade no mundo florestal sensores que, instalados em árvores, medem o crescimento das plantas, tornando o inventário anual algo diário, mesmo sem ter que sair do escritório para essa coleta de dados.
Todas essas tecnologias e ferramentas, utilizadas de forma individualizada ou combinadas, tendem a tornar mais eficiente o trabalho de pesquisadores em silvicultura. Pela enorme quantidade de informação gerada em curtíssimo intervalo de tempo, profissionais com conhecimento e habilidade em coleta e processamento de dados se tornam indispensáveis.
Uma vez mais, fica claro que trabalhos que podem ser realizados remotamente tendem a ganhar importância e reduzir, sempre que possível, trabalhos manuais em campo. A evolução traz muitos desafios. A adaptação exige esforços e mudanças, muitas vezes estruturais, em nossas vidas. O mesmo raciocínio serve para os negócios, inovação e tecnologias.
Nem tudo o que está sendo desenvolvido de maneira acelerada se consolidará no mercado, mas, certamente, as tendências criadas com o cenário da pandemia são permanentes. As tecnologias que se adequarem aos novos tempos, buscando resolver problemas reais da sociedade e dos negócios, sem negligenciar aspectos relacionados à sustentabilidade, podem se beneficiar do cenário atual. Ainda assim, essas tecnologias deverão continuamente se adaptar a esse mundo em constante transformação, às vezes acelerada por crises que, de tempos em tempos, teimam em aparecer.