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João Fernando Borges

Diretor Florestal da Stora Enso

Op-CP-10

Cluster florestal da Finlândia é exemplo para os trópicos

As raízes do desenvolvimento social e tecnológico de países nórdicos, como a Finlândia, estão assentadas na transformação da madeira, ao longo dos últimos séculos. Neste país, cuja produtividade florestal é várias vezes inferior à proporcionada nos trópicos, a formação de um cluster florestal eficiente, competitivo e rentável, levou ao desenvolvimento não apenas do setor e à geração de renda para centenas de milhares de pequenos proprietários rurais, mas impulsionou a evolução de outros ramos da economia nacional, como telecomunicações e serviços de alta tecnologia.

O resultado que o mundo vê, hoje, é um estado de bem-estar social e ambiental, levando o país a alcançar posição destacada em rankings globais de competitividade e inovação. A indústria florestal finlandesa colaborou em muito para a criação de praticamente todas as grandes companhias finlandesas e atividades econômicas. Em termos conceituais, o cluster florestal inclui, na sua base, o manejo das florestas e a primeira transformação da madeira nas serrarias, a produção de aglomerados e outros produtos sólidos, com base na madeira, a fabricação de pastas e papel, sendo que o transporte e o beneficiamento da madeira e produtos dela derivados requerem equipamentos específicos e sistemas auto-matizados.

O uso de tecnologia avançada começa já com a colheita das árvores com harvesters, equipamentos providos de computadores de bordo, que permitem sua localização on-line, por satélite, seu controle e gerenciamento pelos operadores, à distância. Essa máquina, rapidamente, corta e descasca toras com precisão e mede sua produção. Para o transporte, utilizam-se forwarders, máquinas aparelhadas para medir os volumes que serão embarcados nos caminhões, que levarão a matéria-prima para o beneficiamento.

No centro do cluster florestal está a geração de produtos populares em todo o mundo: celulose, papéis e embalagens diversas, desde caixas para medicamentos, até invólucros para alimentos. E estes só se viabilizam com produtos químicos e tecnologias capazes de tratar água, efluentes e resíduos sólidos, os quais agregam novos atores e soluções tecnológicas e implementos para a cadeia produtiva, colocando a Finlândia como líder mundial na fabricação destes e de outros equipamentos especializados.

A integração de todas essas atividades faz com que o setor florestal consolide-se como a segunda força da economia finlandesa, superada apenas pelo setor de equipamentos de telecomunicações, que, aliás, também tem um pé na floresta. Um dos exemplos mais conhecidos é a fabricante de celulares Nokia, cuja concepção dos telefones móveis, hoje vendidos e adotados em todos os continentes, deu-se a partir da necessidade de comunicação nas florestas.

Assim, uma necessidade do setor florestal tornou-se o motivador principal para a evolução dos negócios, com telecomunicações e seus produtos. Esse complexo tecnológico em torno da madeira justifica-se pela importância que essa matéria-prima tem para a Finlândia, em diferentes áreas. O setor florestal emprega cerca de 90 mil pessoas na Finlândia, é o único viável e sustentável em todas as áreas rurais do país e responsável por, pelo menos, 25% das exportações.

Estima-se que um em cada cinco finlandeses é proprietário de florestas, que levam cerca de 70 anos para completarem seu ciclo de corte. Somente para efeito comparativo, no Brasil, é possível fazer a colheita de eucaliptos em apenas sete anos, o que explica o grande interesse de grupos econômicos deste setor pelo hemisfério Sul, mais notadamente o Brasil, que tem terras em profusão, clima adequado para a produção florestal e grande necessidade de desenvolvimento tecnológico e social.

Neste ínterim, cabe destacar que o setor florestal brasileiro é pujante e promissor, oferecendo, a cada ano, contribuições importantes para a sociedade brasileira, tanto em conservação e recuperação ambiental, quanto para a economia nacional, com a geração de milhares de empregos e contribuindo significativamente com a economia e o desenvolvimento nacionais.

Mais do que isso, com grande potencial para, assim como na Finlândia, liderar um ciclo de desenvolvimento sólido, uma vez que este cluster baseia-se nos recursos naturais, ponto em que o Brasil é sabidamente imbatível. Mas, a madeira atende também a outras necessidades finlandesas. Cerca de 20% do total da energia consumida naquele país provém de derivados da madeira e resíduos da indústria florestal, como o licor negro da indústria de celulose.

Mais de 5 milhões de metros cúbicos de madeira e 1 milhão de metros cúbicos de resíduos são queimados, para aquecer moradias, fazendas e pousadas, o que significa cerca de 40% do sistema de aquecimento de casas particulares. Na média, uma moradia necessita de um pouco menos de dois metros cúbicos por ano, ao passo que nas fazendas, o consumo gira entre 10 e 20 metros cúbicos por ano.

O estado-da-arte finlandês na indústria florestal não surgiu ao acaso. Ao longo dos anos, foram feitos contínuos investimentos em novos processos de produção e aperfeiçoamento do capital humano, com educação técnica e universitária especificamente voltada para o setor florestal. As florestas cobrem cerca de 60% do território finlandês, e o país detém quase 8% do comércio mundial de produtos florestais, enquanto o Brasil participa com somente 1,5% desses negócios.

Em um país cujo próprio nome remete a uma árvore, podemos nos espelhar no caminho trilhado pelo povo finlandês para fortalecer o setor florestal e, alicerçados nas raízes de eucaliptos, pínus e outras espécies florestais, promover o desenvolvimento sustentável. A madeira continuará sendo uma matéria-prima essencial ao bem-estar da sociedade.