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Dagoberto Stein de Quadros

Professor de Engenharia Econômica e Economia Florestal na FURB de Blumenau

Op-CP-13

Uma análise econômica das empresas prestadoras de serviço florestal no Sul do Brasil

Os temas relacionados à terceirização no setor florestal brasileiro são objeto de constantes discussões. Dentre estes temas, os custos das atividades desenvolvidas pelas empresas prestadoras de serviço e a rentabilidade obtida por estas empresas talvez sejam os que apresentem as maiores polêmicas. Fato que, por vezes, torna a relação entre os tomadores e os prestadores de serviço bastante difícil.

A esta polêmica, acrescentam-se todos os problemas advindos das legislações trabalhistas, tributárias, fiscais e ambientais que, de um modo ou de outro, relacionam-se   com a prestação de serviço florestal. Como se tudo isto não bastasse, existe, neste mercado, uma enorme variação de tamanhos das empresas prestadoras de serviço florestal, com conseqüente variação da capacidade de produção.

Existem ainda, diversas maneiras de mensuração da produção, de formas e prazos de pagamento, de graus de mecanização, de tipos e idades de máquinas e implementos e, principalmente, de sistemas de produção. Analisando-se estas afirmações, pode-se ter uma dimensão do problema que o tema envolve. Acrescido a isto, há a necessidade de se determinar uma metodologia padronizada e que, de forma simples, permita estabelecer os custos e a rentabilidade das empresas que operam nesta atividade. Esta metodologia deve permitir responder às seguintes questões:

 

  • Quais são os principais componentes dos custos das empresas prestadoras de serviço florestal?
  • Quais são os custos de mão-de-obra, máquinas e implementos, administrativos e governamentais destas empresas?
  • Qual é a participação dos custos diretos e indiretos na prestação de serviço florestal?
  • Qual é a relação dos custos fixos, em relação aos custos variáveis?
  • Qual a quantidade de produção necessária para que as empresas prestadoras de serviço obtenham lucro?
  • Qual a rentabilidade das empresas prestadoras de serviço florestal?

Diante do exposto, indaga-se qual o papel da Universidade nesta problemática. Talvez, por ser uma instituição imparcial e que tenha por objetivo o ensino, a pesquisa e a extensão, esta deva se debruçar mais sobre este tema tão importante, pois as empresas prestadoras de serviço florestal, na maioria dos casos, são uma das bases de sustentação de um setor que está em pleno desenvolvimento.

Assim sendo, procurou-se estudar o problema de forma estruturada e detalhada e, aqui, se apresentam, de forma bastante sintética, alguns resultados obtidos em um estudo realizado no estado de Santa Catarina. Inicialmente, se fez a estruturação de um modelo de custo, baseando-se a análise na metodologia de custos diretos (de produção) e indiretos (de administração).

Os custos diretos foram compostos pelos custos de máquinas e implementos (custo de capital, depreciação, manutenção, combustível e lubrificantes, seguros, multas, etc.), custos de mão-de-obra (salários, encargos e benefícios sociais, EPI, alimentação, transporte, etc.). Os custos indiretos foram compostos pelos custos de máquinas e implementos indiretos, mão-de-obra administrativa, despesas gerais e custos governamentais.




Depois de realizada esta análise, classificou-se estes mesmos custos em fixos (que não alteram com a variação da produção) e variáveis (que mudam de acordo com a variação da produção). Posteriormente, se analisou o ponto de equilíbrio e a rentabilidade destas empresas. Baseado nas indagações e nas premissas acima citadas, parece impossível analisar os custos destas empresas.

No entanto, o estudo do tema permitiu-nos o desenvolvimento de uma metodologia padronizada, para definir os custos das empresas prestadoras de serviço florestal. Esta metodologia foi aplicada em 46 empresas prestadoras de serviço florestal que atuam no estado de Santa Catarina, com o objetivo de esclarecer os questionamentos acima. Inicialmente, se fez a classificação das empresas, de acordo com o tamanho da sua receita bruta anual.

Para tanto, foram seguidas as especificações contidas na Lei Complementar nº 123, que classifica as empresas em estratos. No primeiro estrato, foram agrupadas as empresas com receita bruta anual inferior a R$ 240.000,00, denominadas microempresas. No segundo, foram agrupadas as empresas com receita bruta anual entre R$ 240.000,01 e R$ 1.800.000,00 (especificação para Santa Catarina), denominadas empresas de pequeno porte.

No terceiro estrato, foram agrupadas as empresas com receita bruta anual superior a R$ 1.800.000,01, denominadas grandes empresas. Dentre tantos dados obtidos neste estudo, parece-nos mais importante destacar os seguintes: Na análise da composição de custos, como vemos na tabela, ficou claro que ocorre um aumento da participação dos custos de máquinas e implementos diretos, à medida que aumenta o tamanho da empresa prestadora de serviço. Em contrapartida, a participação da mão-de-obra cai acentuadamente, demonstrando que as pequenas empresas utilizam intensivamente mão-de-obra nos seus processos produtivos.

Ocorre um aumento substancial das despesas governamentais, à medida que o tamanho das empresas cresce, passando de 6% nas microempresas, para 23% nas grandes empresas. Isto ocorre em função do sistema tributário brasileiro, que impõe maiores alíquotas de impostos, na proporção em que aumenta a receita das empresas, característica que inibe o crescimento das mesmas.

Na análise do custo direto e indireto, ocorre uma diminuição da participação dos custos diretos em relação ao custo total, à medida que aumenta o tamanho das prestadoras de serviço, passando de 73% nas microempresas, para 70% nas empresas de pequeno porte e para 60% do custo total nas grandes empresas. Destaca-se aqui, portanto, que os custos indiretos têm uma participação que varia de 27% a 40% do custo total, constatação relevante na análise de custo destas empresas.

Este fato ocorre, porque nas empresas prestadoras de serviço menores existem custos de mão-de-obra indireta maiores, e nas empresas maiores ocorrem despesas governamentais mais elevadas. Analisando-se agora os custos, em termos de custos fixos e variáveis, notou-se que ocorre uma acentuada diminuição na participação dos custos fixos, em relação ao custo total, à medida que aumenta o tamanho das empresas.

As microempresas possuem 73% dos seus custos totais como custos fixos, as empresas de pequeno porte 61% e as grandes empresas apresentaram 53% de participação dos custos fixos, em relação ao custo total. Os custos fixos são mais elevados nas microempresas, devido à elevada participação dos custos de mão-de-obra direta no custo total. Por outro lado, os impostos, considerados custos variáveis, aumentam à medida que aumenta a receita bruta e fazem com que cresça a participação dos custos variáveis nas empresas maiores.

Em termos de análise do ponto de equilíbrio, pode-se destacar que as microempresas atingem a lucratividade com 92% da capacidade instalada. As empresas de pequeno porte, com 95%, e as grandes, com 64%. Nota-se que as microempresas e empresas de pequeno porte apresentaram uma elevada necessidade de produção, para atingir o ponto de equilíbrio econômico, situação preocupante.

Já as grandes empresas operam em melhor situação, pois necessitam produzir com baixa capacidade instalada, para atingirem a lucratividade. Analisou-se a rentabilidade das empresas prestadoras de serviço sobre várias metodologias, destaca-se aqui a rentabilidade econômica sobre as vendas que, nas microempresas, foi, em média, de 8%, nas empresas de pequeno porte, de 6% e nas grandes empresas, de 24%.

A rentabilidade expressivamente maior nas grandes empresas deriva de um processo produtivo mais estruturado em termos econômicos, de custo direto e indireto e de custos fixos e variáveis. Esta situação ocorre, apesar da alta participação das despesas governamentais na composição dos custos, o que prejudica o desempenho das grandes empresas. De um modo geral, observou-se que existem diferenças significativas entre os vários tamanhos de empresas prestadoras de serviço florestal.

Este fato colabora com a ocorrência de resultados econômicos diferentes, que, de um modo geral, são melhores, à medida que as empresas são maiores. Para finalizar, ressalta-se que muito ainda deve ser estudado sobre esta temática, pois provavelmente esteja neste segmento empresarial uma das bases de sustentação do setor florestal brasileiro. É importante lembrar, no entanto, que o tema sempre deve ser analisado, abordando as prestadoras de serviço florestal como “empresas”, no real sentido da palavra.