Produtora Rural fomentada pela VCP
Op-CP-04
Farmacêutica e Administradora de Empresas de formação, entrei no mundo do agrobusiness em meados de 2001. Eu e meu marido tínhamos uma propriedade razoavelmente grande no distrito de Joanópolis. A fazenda tinha algumas cabeças de gado, búfalos e carneiros, mas nenhuma atividade agropecuária específica.
Foi numa conversa com um amigo agronômo, que surgiu a dica sobre florestas plantadas e a apresentação ao Nelson Barbosa Leite, naquela época, Presidente da Sociedade Brasileira de Silvicultura, SBS. Num bate-papo com o Nelson, tive a minha primeira aula sobre Florestas. Até hoje me lembro de todo o empenho para freqüentar e entender inúmeros cursos e seminários relacionados à área. Uma verdadeira corrida atrás de conhecimento, contatos e experiência.
Estimulantes e inspira-dores foram os cursos sobre Legislação Ambiental com a Zezé, sobre mudas e viveiros com o pessoal da Embrapa Floresta, e outros no IPEF, coordenado pelo Prof. José Otávio Brito, acerca de carvão vegetal e outros produtos florestais. O projeto piloto de plantio de mudas clonadas da espécie Eucaliptus urograndis foi feito em Dezembro de 2002. O talhão plantado era de aproximadamente 10.000 mudas. Tudo saiu dentro do planejado e minha maior preocupação eram as formigas, ou melhor, a capacitação e o comprometimento dos meus funcionários no combate às formigas.
No ano seguinte, o desafio triplicou, aliás, ficou 10 vezes mais trabalhoso. Plantamos 100 mil mudas clonadas, doadas pela VCP, dentro do projeto de fomento, junto com a Casa de Agricultura. O investimento necessário era alto e aproveitamos a disponibilização de um financiamento feito pelo BNDES para pequenos e médios agricultores, em prol do cultivo de Florestas Plantadas, em agosto de 2002.
O teto do financiamento era de 150 mil reais, juros de 8,75% aa, e carência de 7 anos, quando a quitação total era feita após o primeiro corte. Foi inacreditável o nível de dificuldade e exigência para apresentação do projeto para a análise do BNDES. Os bancos desconheciam este financiamento e não tinham idéia da documentação necessária para analisar a pertinência e viabilidade do pedido.
Ao todo, foram 360 dias de peregrinação, do lançamento do crédito, até sua aprovação. Acredito que a principal frustração foi a contratação de uma consultoria, especializada em elaboração de projetos de financiamento, porque foi a única maneira do Banco do Brasil aceitar ser o meu agente financeiro no Propflora. E logo na apresentação do projeto, feita em conjunto com esta consultoria, o Banco do Brasil simplesmente avisou que não iria executar o financiamento, em razão do mesmo não ser interessante.
Um banco público, que se vangloria de trabalhar com financiamentos rurais, fazer uma afirmação como esta, foi lastimável! Passado o capítulo da obtenção de recursos para o plantio, entrou-se na parte do próprio plantio, que se mostrou como a parte mais profissionalizada de todo o processo. A VCP fornecia-nos a cartilha sobre tudo que se referisse a plantio, espaçamento, adubação, restrições ambientais, produtividade esperada, equipamentos de segurança necessários, custo da mão-de-obra e homem-hora, além de disponibilizar as mudas e um serviço de assistência técnica in loco, através de parceria com as Casas de Agricultura.
O único problema em relação ao plantio, desde então, tem sido a discrepância entre a área medida em levantamento planialtimétrico e o número de mudas plantadas. Por exemplo, o número de mudas num espaçamento de 2 x 3 metros é de 1.667, certo? Depende. O manual da Votorantim, dado ao produtor e acima descrito, mostra que a expectativa de plantio em áreas inclinadas é de 1.875 mudas por hectare.
Na nossa fazenda, onde sinuosidades e declives fazem parte da paisagem, existem áreas em que a produtividade por hectare atinge 2.300 mudas. Isto mesmo, o pessoal consegue plantar 40% mais de mudas, respeitando fielmente o espaçamento de 2x3. E é neste momento que o produtor se sente desamparado pela falta de informação disponível para explicar se este rendimento é bom ou ruim no desenvolvimento da floresta plantada.
No entanto, o grande e principal problema é no momento do corte: a falta de mão-de-obra especializada neste segmento do mercado de florestas plantadas é impressionante e aterrorizador. Já foram várias experiências desagradáveis nos diversos tipos de contrato de venda: venda em pé, mato fechado, venda por saída de caminhão, pagamento antecipado, cláusulas de multa e rescisão de contrato, entre outros.
No início da prospecção de prestadores de serviços para a colheita, sempre tem acontecido o mesmo: promessas de um excelente serviço, com prazo de entrega e qualquer outro item que se queira colocar no contrato. Mas, logo que assinado o termo de compromisso começam todos os problemas, as desculpas, e ficam nítidas as faltas de profissionalização e de compromisso, chegando, na maioria das vezes, à ruptura da relação de confiança mútua.
Com certeza, num futuro próximo, haverá uma mobilização entre produtores, indústrias de papel e celulose e os próprios prestadores de serviço, no intuito de se otimizar esta fase do processo de colheita de florestas. Na silvicultura, há também boas notícias, como o lançamento do seguro florestal. Finalmente, os produtores podem contar com um seguro para suas florestas plantadas, contra fogo, geadas e ventos, por um valor razoável, de aproximadamente 0,5% do valor da floresta, por ano.