Me chame no WhatsApp Agora!

Ederson de Almeida

Diretor Executivo da Consufor Advisory & Research

Op-CP-27

Tecnologia e planejamento

O setor florestal é um grande provedor de inovações. Prova disso são os constantes avanços que temos observado. Tomemos como exemplo a região Sul do País, com o permanente crescimento da produtividade média do pinus, que saltou cerca de 25%, e do eucalyptus, 15%. Isso é, sem dúvida, resultado de muito trabalho e de muita inovação tecnológica.

Outro fato: nos últimos 5 anos, o custo de implantação do pinus (ano zero) sofreu uma redução real (descontada a inflação) da ordem de 20% e eucalyptus de 15%. Para o mesmo período, o custo médio da colheita caiu, em termos reais, cerca de 17%, e o custo médio de transporte teve uma queda de 15%.

Essas reduções ocorreram ao mesmo tempo que o custo de alguns componentes, como a mão de obra, que sofreu um aumento real da ordem de 7%. Esse cenário contribui para comprovar que o setor florestal tem utilizado a tecnologia a seu favor. É importante ressaltar que parte dessa queda tem como origem fatores exógenos ao setor, no entanto a maior parte deve-se ao estudo e à aplicação de tecnologia no seu sentido amplo, do planejamento até a entrega do produto ao cliente.

Com produtividade maior e custo menor, seria de se imaginar que as margens de lucro do produtor florestal tivessem se elevado. No entanto, infelizmente, não é verdade.

Ao mesmo tempo que se conseguiu obter ganhos pela ótica da produção, registraram-se dois movimentos que contribuíram negativamente para o setor: forte elevação do custo da terra e uma queda real de preços de madeira de pinus da ordem de 25% e de 15% no de eucalyptus. Esses movimentos anularam os ganhos tecnológicos, resultando em estagnação com viés de baixa nas margens de lucro do produtor florestal.

Dessa forma, apesar dos avanços tecnológicos conquistados nos últimos anos, ainda temos muito trabalho pela frente. Como destacado anteriormente, a tecnologia deve ser pensada no seu sentido amplo. Um dos aspectos que tenho observado com muito cuidado e preocupação é o planejamento dos projetos florestais, principalmente dos novos empreendimentos, em especial, nas novas fronteiras.

Tem sido constante a oferta no mercado de planos de negócios elaborados sem o devido cuidado tecnológico, deixando de analisar em profundidade todos os componentes de um projeto florestal, principalmente em relação à tecnologia de produção e à tecnologia de mercado. Projeto florestal com tecnologia no estado-da-arte significa condições ótimas de produção, de processamento e de consumo (existência de mercado).

Avançamos muito em termos de produtividade, mas isso se refere aos plantios existentes. Em uma nova fronteira sem a tradição florestal, que ainda não possui clones totalmente testados e aprovados, certamente não se atingirão os mesmos resultados médios esperados em regiões consolidadas. Isso significa risco maior e rentabilidade menor que em mercados maduros. Ou seja, ainda teremos muito esforço tecnológico em termos de produtividade para essas regiões.

Em relação à colheita, tanto para as novas fronteiras como para sites consolidados, também temos muitos desafios. A cada dia, surge uma nova máquina com maior produtividade, menor custo, etc. Mas é importante frisar que essa máquina somente trará resultados significativos se for utilizada dentro de um sistema de colheita que seja adequado ao modelo do negócio florestal analisado.

Em outras palavras, todo o sistema, desde o plantio, passando pela colheita e transporte, deve estar alinhado. Para que isso aconteça, o planejamento é fundamental. Ressalto a necessidade de planejamento como tecnologia, pois o negócio florestal é de longo prazo e, uma vez tomada uma decisão errada, a correção torna-se difícil e gera muitas perdas. No entanto um bom planejamento somente existirá se houver uma boa base de dados que permita analisar com cuidado todas as variáveis.

Para isso, o monitoramento constante de todas as atividades é fundamental. Além do controle detalhado de custos, é muito importante o mapeamento das atividades executadas. Estudos de tempos e movimentos, aqueles mesmos recomendados por Taylor no século XIX, ainda continuam válidos para a busca da melhoria contínua.

Em resumo, fazer uso de tecnologia não necessariamente é utilizar-se de máquinas e equipamentos que automatizem todo o processo, mas sim adotar sistemas inteligentes que estejam adequados ao seu modelo de negócio (tamanho, objetivo da produção, topografia, condições do mercado, custos, preços, disponibilidade regional, etc).