Diretor do Instituto de Geofísica da Universidade Federal de Alagoas
Op-CP-11
É amplamente aceito que a concentração de dióxido de carbono - CO2, global passou de 280 ppmv, na era pré-industrial, para os atuais 380 ppmv, um aumento de 35% em sua concentração nos últimos 150 anos, que está sendo atribuído às atividades humanas, particularmente à queima de combustíveis fósseis e de florestas tropicais, em especial, a Amazônia.
Simultaneamente, ao longo desse período, foi observado um aumento da temperatura média global, entre 0,4 e 0,7°C, que teria sido causado pelo aumento da concentração de CO2, segundo o IPCC - Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas. O processo físico responsável pelo aumento observado seria a intensificação do efeito estufa, já que o CO2 é um dos gases, porém não o mais importante, que participam do efeito estufa.
O IPCC produziu cenários hipotéticos de CO2, com sua concentração dobrada com relação à era pré-industrial, que foram utilizados para simular o clima futuro, em modelos de computador. Os resultados dessas simulações sugeriram que poderá haver um aumento da temperatura média global entre 2° e 4,5°C. Os efeitos desse aumento de temperatura seriam catastróficos.
Uma das conseqüências seria a elevação dos níveis dos mares entre vinte e sessenta centímetros que, dentre outros impactos sociais, forçaria a relocação de 60% da humanidade que vive em regiões costeiras. Não há, entretanto, comprovação científica que o CO2 armazenado na atmosfera, ao longo desses 150 anos, seja originário de emissões antrópicas ou mesmo que seu aumento tenha causado o elevação da temperatura global.
Análises de testemunhos climáticos, como os cilindros de gelo da Antártica, indicaram que a temperatura global já esteve mais elevada em épocas passadas, porém as concentrações de CO2 não ultrapassaram 300 ppmv. E observações dos últimos 10 anos mostraram que a temperatura média global diminuiu, embora a concentração de CO2 continue aumentando.
Há argumentos fortes que demonstram que o aumento da temperatura antecede o de CO2 e não o contrário, tornando o aquecimento global antropogênico questionável. Em 1997, a Conferência das Nações Unidas em Kyoto, Japão, adotou um protocolo, pelo qual os países industrializados deverão reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 5%, em relação aos níveis de 1990, entre 2008 e 2012.
Na Conferência, foi criado um instrumento denominado MDL - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, pelo qual estes países poderão investir em projetos de redução de carbono atmosférico de países emergentes, e contabilizá-los como redução de suas próprias emissões. Isso inclui projetos de reflorestamentos de áreas degradadas em florestas tropicais, pois plantas removem carbono da atmosfera ao crescer, fixando-o na biomassa.
A Conferência, porém, não considerou o seqüestro de carbono por florestas nativas como um MDL, pois estas, por hipótese, estariam em equilíbrio dinâmico, ou seja, o carbono retirado da atmosfera pela fotossíntese seria reemitido pela respiração da vegetação e dos microorganismos em seus solos. Porém, em 1988, muito antes desse evento, este autor mostrou, utilizando medições na Amazônia Central, que a Floresta estaria seqüestrando cerca de 2 toneladas de carbono por hectare por ano que, se generalizados para sua área de cobertura (550 milhões de hectares), corresponderia a uma absorção de 1,2 bilhão de toneladas de carbono por ano (GtC/a).
Medições posteriores comprovaram que a Amazônia seqüestra entre 0,6 e 2,5 GtC/a, dependendo da variabilidade interanual do Clima. A hipótese de a floresta estar em equilíbrio não se aplica, pois ela sofre renovações, devido à constante destruição natural, causada por temporais violentos, em que rajadas de vento excedem 100 km/h.
Como os solos são pobres, a floresta tem mais de 80% de seu sistema radicular, praticamente na superfície, para absorver os nutrientes da serrapilheira, liberados pela atividade microbiana, uma fantástica estratégia de sobrevivência. As grandes árvores praticamente não têm sustentação radicular e tombam à ação dos ventos fortes, levando consigo centenas de outras, em um efeito dominó, e abrindo espaços na copa principal, muitas vezes superiores a mil hectares, nos quais a vegetação, anteriormente sombreada pela copa principal, passa a fazer fotossíntese acelerada e a crescer.
Parte do carbono das árvores derrubadas é incorporada aos solos e não retorna à atmosfera. Conservando a Floresta Amazônica, o Brasil está, sim, contribuindo para minimizar o incremento de CO2 atmosférico, se é que ele continuará a aumentar. Essa discussão é meramente acadêmica, já que o Protocolo de Kyoto é inútil, sob o ponto de vista da variação do efeito estufa.
A emissão antrópica total nos dias de hoje é igual a 6 GtC/a e 5% de redução, e corresponderia a um fluxo de 0,3 GtC/a. Ora, os fluxos naturais de carbono dos oceanos, vegetação e solos para a atmosfera foram estimados em cerca de 200 GtC/a. Como são estimativas, um erro de 10% seria perfeitamente aceitável, o que corresponderia a um fluxo de 20 GtC/a, três vezes as emissões atuais e 70 vezes a proposição de Kyoto.
No entanto, plantar árvores e reflorestar áreas desmatadas são ações altamente benéficas para a conservação ambiental. A cobertura vegetal, dentre outros benefícios, protege os solos contra erosão da chuva e dos ventos, diminui o assoreamento dos rios, preserva a qualidade da água e da vida aquática. A evapotranspiração das árvores, por sua vez, consome grandes quantidades de calor e ajuda a refrigerar o ar próximo à superfície. A conservação ambiental é uma necessidade de sobrevivência da humanidade, independente de mudanças climáticas, quer seja aquecimento ou resfriamento global.