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Pedro Jacob Christoffoleti e Luiz Henrique Franco de Campos

Diretores da Herbtech

Op-CP-77

Seletividade de herbicidas em eucalipto: um equilíbrio delicado
Para explorar o potencial produtivo do ambiente de produção e dos fatores de incremento da produtividade na cultura de eucalipto, há necessidade de um manejo eficaz das plantas daninhas, de forma seletiva para a cultura. No entanto, a seletividade é um conceito complexo e influenciado por diversos fatores, especialmente em culturas perenes como o eucalipto, cuja escolha de um herbicida seletivo é crucial para garantir a produtividade e a qualidade das árvores, evitando perdas econômicas e ambientais. 
 
Há muitas dúvidas na área de manejo florestal sobre o assunto seletividade. Assim, este artigo busca elucidar os mecanismos de seletividade, os fatores que a influenciam e os aspectos importantes na tomada decisão de escolha de um herbicida seletivo para a cultura, com o objetivo de contribuir para a disseminação de informações sobre a seletividade de herbicidas em eucalipto, incentivando a utilização racional dos herbicidas.

Seletividade é a capacidade de um herbicida de controlar as plantas daninhas, sem causar danos significativos, que resultem em perdas de produtividade. No caso do eucalipto, um herbicida seletivo controla as plantas daninhas, mas não afeta o crescimento e o desenvolvimento das árvores. Essa seletividade é fundamental para garantir a produtividade da cultura e a qualidade da madeira.

A seletividade de um herbicida é influenciada por uma série de fatores, dentre eles destacam-se as características físico-químicas do herbicida. Para os herbicidas pré-emergentes aplicados ao solo, a solubilidade em água e seu coeficiente de adsorção aos coloides do solo determinam a profundidade de ativação no solo. 

Herbicidas como sulfentrazone e isoxaflutole, que apresentam alta solubilidade depois de ativado no solo, percolam no perfil do solo onde se encontram as raízes da cultura. Assim, a seletividade destes herbicidas é decorrente de aspectos bioquímicos da cultura como degradação enzimática, sítio de ação não sensível ao herbicida, ou redução na absorção e translocação, além da compartimentalização do herbicida no vacúolo. Este mesmo tipo de seletividade ocorre para os herbicidas pós-emergentes, como no caso dos herbicidas graminicidas, inibidores da ACCase, como o cletodim e haloxyfop, devido à insensibilidade da enzima ao herbicida.

Por outro lado, herbicidas de baixa solubilidade em água e alto coeficiente de adsorção (Koc), como os herbicidas indaziflan, pyroxasulfone e flumioxazin, têm seletividade de posicionamento no solo, ou seja, permanecem nas camadas superficiais de solo, sem atingir o sistema radicular da cultura. Esta seletividade é chamada também de toponômica ou verdadeira.

Especificamente sobre a seletividade do herbicida flumioxazin, de amplo uso na cultura de eucalipto, é importante destacar que seu mecanismo de ação resulta na produção de radicais livres, que gera necrose foliares. Quando aplicado no solo, tem seletividade de posicionamento, portanto, há possibilidade de variações de doses sem muita dependência da textura do solo. No entanto, se aplicado após o transplante da muda de eucalipto over the top, sobre a muda, a seletividade dependerá da dose e do clone, mas geralmente a planta consegue recuperar destes sintomas à medida que produz folhas novas, pois o herbicida, na parte aérea, não tem nenhuma translocação pelo floema da planta.
 
Já o herbicida pyroxasulfone, cujo mecanismo de ação é atuar na síntese de ácidos graxos de cadeia longa, não atua em tecidos já formados, portanto, se aplicado over the top, não há manifestação de sintomas visuais de fitotoxicidade. No solo, também apresenta seletividade de posicionamento, logo, sua dose, dentro da faixa de recomendação, independe do tipo de solo. A mistura de flumioxazin + pyroxasulfone, portanto, é normalmente aplicada evitando atingir as folhas do eucalipto, sendo que sua seletividade, quando aplicada over the top, depende da dose.
 


O herbicida isoxaflutole, por sua vez, apresenta uma seletividade bioquímica, por isso, mesmo aplicado sobre a muda de eucalipto recém-plantada não causa sintomas visíveis de fitotoxicidade, podendo ser aplicado over the top. Também quando aplicado no solo, mesmo com umidade, quando sua ativação para o diketonitrilo ocorre e, consequentemente, lixivia para maior profundidade no solo, sua seletividade bioquímica permite aplicá-lo em doses de até 300 g/ha. Tanto a seletividade bioquímica quanto de posição são dependentes da dose do herbicida utilizada. Assim, a escolha da dose de aplicação no campo é fundamental para que a seletividade ocorra. 
 
Há também a seletividade induzida por modificações genéticas na planta cultivada, através do melhoramento genético, principalmente transgenia, tornando a planta tolerante ao herbicida. O caso mais conhecido é o das plantas transgênicas resistentes ao glifosato.

A espécie, estádio de desenvolvimento, condições nutricionais e suscetibilidade genética (clone) são também fatores que influenciam na seletividade dos herbicidas. Além disso, a tecnologia de aplicação, volume de calda e método de aplicação também podem exercer efeitos sobre a seletividade dos herbicidas.

O reflexo da menor seletividade em uma planta de eucalipto manifesta-se visualmente através da necrose de folhas, resultado da morte dos tecidos foliares, podendo levar à desfolha, clorose, que consiste no amarelecimento das folhas devido à redução na produção de clorofila e redução do crescimento, sendo este último o mais importante, que pode resultar no final em perdas de produção da madeira.

A fitotoxicidade causada por herbicidas pode se manifestar de diversas formas no eucalipto, muitas vezes se confundindo com sintomas de outras doenças, deficiências nutricionais ou estresses ambientais. Para realizar um diagnóstico preciso e tomar as medidas corretivas adequadas, é fundamental conhecer os principais sintomas da fitotoxicidade e diferenciá-los de outras causas. A tabela em destaque  descreve alguns aspectos importantes na identificação da fitotoxicidade dos herbicidas e diferencia de outras causas de danos às plantas.

Dentre as causas comuns de sintomas semelhantes à fitotoxicidade de herbicidas, destacam-se doenças fúngicas e bacterianas, podridões de raízes, manchas foliares e murchas; eficiências nutricionais, com a falta de nutrientes essenciais, como nitrogênio, fósforo e potássio, pode causar clorose, necrose e redução do crescimento; estresses ambientais como seca, geada, salinidade e altas temperaturas; pragas, como insetos e nematoides, podem causar danos às raízes e folhas, resultando em sintomas semelhantes.

Para um diagnóstico preciso, é fundamental realizar uma análise cuidadosa das plantas, considerando o histórico de aplicação de herbicidas, as condições climáticas e o manejo da cultura. A coleta de amostras de folhas, raízes e solo para análise em laboratório pode auxiliar na identificação da causa dos sintomas.

A recuperação da planta com fitotoxicidade depende da gravidade do dano e do tempo de exposição ao herbicida. Em casos leves, a planta pode se recuperar espontaneamente. Em casos mais graves, a recuperação pode ser lenta ou até mesmo impossível. O uso de uma boa adubação foliar ou mesmo de bioestimulantes e promotores do crescimento pode ajudar na recuperação das plantas. Em resumo, a seletividade de herbicidas é um tema complexo que envolve diversos fatores, sendo fator crucial para o sucesso do cultivo de eucalipto. A compreensão dessas interações é fundamental para a escolha e a aplicação adequada de herbicidas, visando o controle eficaz das plantas daninhas e a proteção da cultura.