Qualquer vegetal em grande escala de cultivo está sujeito a ocorrências de pragas, isso não seria diferente para as árvores plantadas. No setor brasileiro, temos como protagonista o cultivo do eucalipto, que representa 77% da área total e corresponde a 6,97 milhões de hectares, distribuídos nos diversos estados, com maior concentração em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul, Paraná e demais estados, conforme o último Relatório Anual de 2020, com ano-base 2019, da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).
Nos últimos seis anos, o eucalipto praticamente não evoluiu em produtividade, ficando a nossa média nacional em torno de 35 a 36 m3/ha/ano, mostrando que, apesar das melhorias que tivemos em todo o processo de silvicultura, existem fatores limitantes que podem estar ocasionando esta estagnação de produtividade. Um deles são as pragas que ocorrem no campo.
Com diversos condicionantes interligados e conceituados em estratégias de mitigação na redução da população de pragas, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) ganhou enorme destaque, por ser um conceito que prioriza o monitoramento como base para decisão de intervenção pelas empresas e pelos produtores de eucalipto, além de ser exigência de algumas certificadoras.
Porém temos que destacar alguns pontos para poder tentar entender o MIP e até que ponto ele pode contribuir na produção de madeira. Atualmente, o mercado oferece diversas ferramentas para o monitoramento das áreas plantadas, dentre as quais podemos destacar a utilização de imagens dos satélites, que permite visualizar diversas anomalias nas plantas em campo, como injúrias causadas por insetos e doenças bióticas e abióticas, porém vale ressaltar que, para se ter o diagnóstico, deve ser realizada a inspeção de campo.
Outras ferramentas utilizadas são as armadilhas, como a armadilha adesiva amarela, que monitora vários insetos, como o psilídeo-de-concha, psilídeo-de-ponteiro, percevejo-bronzeado, vespa-da-galha e inimigos naturais, e a armadilha luminosa para o monitoramento de lagartas desfolhadoras.
Essas armadilhas, como outras que podem ser utilizadas conforme o agente danoso, ilustram bem a dinâmica dos insetos no ambiente. E não podemos deixar de mencionar as vistorias de campo, sendo a principal maneira de se ter um “raio x” da área em todos os aspectos de pragas, principalmente quando englobam a amostragem específica do alvo.
Todas essas ferramentas trazem informações em relação à condição da praga e de seu hospedeiro, porém só esses dados não são suficientes para se recomendar um manejo, pois o fator econômico tem que ser levado em consideração. Dentro do conceito de MIP, temos o nível de equilíbrio, o nível de controle e o nível de dano econômico; todos esses parâmetros são relacionados em função da população praga ao longo do tempo, porém nós podemos adaptar e criar níveis em função da injúria na planta com a perda de madeira e traduzir esses níveis em valores, ficando mais fácil o entendimento dessas perdas, que podemos ter, e se vale a pena ou não a intervenção na área.
A escolha do método de controle é extremamente técnica, levando em consideração o produto a ser utilizado, a fase biológica da praga e cultura, a injúria na planta, as condições edafoclimáticas e as tecnologias na aplicação. De forma simples, seguimos um exemplo de como seriam perdas simuladas em cenários envolvendo o eucalipto. Se consideramos uma área de um hectare, com IMA de 35,20 m3/ha/ano (uma planta corresponde a 0,17 m3/ha/ano, num estande de 1.450 plantas/ha), ciclo de sete anos, considerando o valor de implantação e manutenção de R$ 5.000,00 reais, valor do arrendamento de R$ 50,00 reais/ha/mês e a venda da madeira em pé em R$ 48,00 reais, o produtor tem uma receita líquida final em R$ 2.626,09.
Nesse mesmo cenário, se considerarmos as perdas simuladas e crescentes, conforme figura 1, podemos observar que, ao aumentar a perda, o risco do investimento fica frágil quando atingimos perdas de 30%, chegando com caixa negativo em R$ 921,74. Ao analisar e ajustar o nível de controle, podemos considerá-lo no nível de 5% de perda (R$ 591,30/7 anos = R$ 84,47 reais), pois, quando comparamos com um controle convencional, levando em consideração produto, adjuvante, óleo mineral e implemento de aplicação (Figura 2), podemos observar que o nível de controle é praticamente igual ao custo de controle, justificando uma intervenção por ano, no ciclo de sete anos.
O que temos que ficar atento é que consideramos, nesse exemplo, a condição de 5% de perda, mas esse valor é variável em função de condicionantes de custo, pois, conforme aumenta o IMA e o valor de madeira, diminui o nível de equilíbrio, controle e dano econômico. Quando expressamos as perdas em função do IMA, temos uma relação bem direta com a produtividade, que não está expressando seu máximo potencial (Figura 3).
Temos que entender que a cultura do eucalipto não é a mesma que duas décadas atrás, quando tínhamos apenas algumas pragas e doenças. Hoje, esse número de pragas aumentou significativamente no Brasil, principalmente por pragas exóticas, que estão se adaptando muito bem aos hospedeiros e às condições do ambiente. Outra observação é que, apesar de termos uma área plantada considerável de eucalipto, ainda temos uma baixa disponibilidade de material genético sendo comercializado, o que implica uma baixa variabilidade genética no campo.
Perdas projetadas no Brasil:
Quando realizamos esse mesmo cálculo de perdas com o acumulado que temos de árvores plantadas de eucalipto no Brasil, os valores ficam astronômicos, chegando a perdas com 5% de mais de R$ 4 bilhões. Valores estes que, ao se manejar pragas, implicam milhares de empregos e novas tecnologias (Figura 4). O manejo integrado de pragas tem que ser conceituado na visão das empresas e produtores, pois, quando bem implementado, ele define que esses investidores vão ter uma garantia de que o resultado final vai ser o esperado e não comprometido por perdas com pragas.
Como diria um de nossos colaboradores, "Para se colher produtividade no resultado, devem-se proteger os ganhos no processo".